Capítulo 04

132 30 186
                                    

Sana.

Quanto mais ela se aproximava, mais detalhes da sua roupa me chamavam atenção. Como por exemplo os acessórios dourados em seus ombros, por cima do vestido azulado claro. Eram cores nobres, porém também muito fracas. O que lhe passava uma imagem mais inocente.

- Seu cheiro...é familiar...- Seu rosto estava tão proximo de mim, que quase a comparei a um cachorrinho curioso. - ...similar ao do meu irmão.

- Devo dizer, vossa alteza, que nunca vim a este mundo.

- Entendo...estranho. - Sua expressão parecia em conflito, conforme seus olhos procuravam por algo em meu corpo, até que paralisaram e se mantiveram em algum ponto especifico por pelo menos alguns segundos. - Que anel...bonito. - Seu elogio me fez procurar a joia, me deparando com a pior cicatriz da minha vida. Se fosse apenas um objeto de fácil manuseio, em que eu conseguisse jogar fora a qualquer momento, ok, mas o anel...não saia. Usei agua, oleo, até pedi ajuda para ferreiros, mas nada conseguia tira-lo do meu dedo.

- Obrigada, alteza.

- Onde o conseguiu? - A pergunta me fez sentir um frio no estomago. Isso porque quando procurei uma solução para aquele problema, encontrei um senhor especialista em artefatos mágicos e o mesmo me alertou dos perigos de obter esses objetos antes de um contrato de paz, já que era considerado roubo ou trafico ilegal, pois não era permitido adentrar o outro mundo ou obter aparelhos dele sem a devida permissão de ambos os reis.

Para me livrar de quaisquers problemas que o anel pudesse me trazer, tive de criar uma mentira sem furos. O material ser de ouro puro dificultava muito, porque até onde todos sabiam, eu era uma orfã que passou nos exames para cavaleiro real e mesmo na situação em que estava, ainda não tinha condições de possuir uma peça tão cara. Então espalhei a historia de que conheci um nobre quando adolescente, que me presenteou com o anel e depois tivemos de nos separar com a minha entrada na academia. Como o rapaz gostava muito de mim, decidiu me deixar o anel de recordação e terminamos nosso caso sem guardar nenhum rancor. Mas é claro que Forger não acreditou e para ele tive de contar a verdade. O capitão não me julgou ou mal disse, muito menos expos a verdade, apenas manteve em segredo o que eu havia lhe contado e agiu como se não soubesse de nada.

- Consegui de...- Mentir para uma fada era possível? Eles não mentiam e por isso mesmo eu pensava se podiam detectar as mentiras de alguém com seus poderes. - de um...

- Uma missão. Ela conseguiu como pagamento por salvar um grupo de Dilds. - O ruivo entrou no meio da conversa, me dando um olhar seguro. Ele sabia o que estava fazendo e sua escolha foi perfeita. Dilds eram pequenas criaturas escavadeiras, que se assemelhavam aos seres humanos, mas mediam de 10 a 30 cm. Suas casas ficavam embaixo da terra e muitas vezes invadiam o reino humano sem perceber, em suas escavações. Era comum acharem ouro e outras pedras preciosas ou objetos perdidos e mais comum fazerem de moeda de troca para subornarem os outros. - Eles cruzaram a linha e seriam mortos por alguns guardas, mas Sana os protegeu.

- Que coração nobre. - Sua voz estava neutra, mas são olhos carregavam algo e eu podia dizer com firmeza que não coincidia com as palavras que dissera. Ela estava sendo irônica? Impossível. Fadas não entendiam a ironia.

- Olhem como está o céu, acredito que deve estar ficando tarde. O tempo aqui é mais rápido? - Foi uma surpresa e tanto ver que Rachel tentava me ajudar, mudando o foco da princesa para outra coisa.

- Não. Porém, devo dizer que os céus mudam de cor quando sentem vontade. Então alguns dias serão mais claros e outros mais escuros, depende do humor das nuvens. É muito importante que tenham em em mente a conexão da natureza para com os habitantes desse mundo. - Seus olhos foram de Rachel para mim, como se insinuasse algo. - Enquanto estiverem no território das fadas, tanto as arvores quanto o céu estarão em constante ligação com a nossa espécie. Se ofenderem meu povo, ofenderão tudo o que os cerca e a natureza pode ser muito feroz quando algo a machuca. - Depois de sentir que a loira de orelhas pontiagudas desejava me queimar viva, desviei minha atenção para o chão.

O Beijo Da FadaWhere stories live. Discover now