Capitulo 09

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Sana.

Eu estava de frente para o espelho, observando o vestido que praticamente me forçaram a aceitar. Era a vestimenta dada para o jantar em que participariamos. Após tomar um banho com água quente e flores esquisitas, pude encontra-lo sobre minha cama com um bilhete escrito a mão, que prometia relatar a Forger minha desobediência, caso recusasse usar a peça de roupa. Desconfiava de que fosse Diana que a escrevera e a caligrafia belíssima era uma prova que reforçava minha tese. Aquela fada estava me povoando cada vez mais, parecia testar minha paciência de todos os modos possíveis. E eu não era nada paciente. Nunca fui de chamar alguém para a briga, mas se estivesse em uma, a aguentaria até minha vitória ou minha derrota.

— Que ridículo. — Falei para mim mesma, tentando arrumar o lenço azul sobre meu pescoço, pela milésima vez. Não sabia para que servia o pano, mas desconfiava de que fosse colocado daquela maneira. Entretanto, o nó não saia nada bonito ou elegante.

Com raiva, deixei o enfeite de qualquer jeito e me apressei para acompanhar os serviçais do lado de fora. Meus cabelos estavam presos em um coque, junto ao vestido azul que vinha até meus joelhos, de um material liso e confortável. Era uma cor escura e elegante, um modelo que faria a filha do rei se roer de inveja. Ao mesmo tempo, me permitia andar e me movimentar muito bem. O que era essencial para um cavaleiro. Minhas armas me acompanhavam por debaixo do tecido, presas por cintos de couro em minha coxa.

— Licença? Poderia me levar até o banquete? — Perguntei quando uma pequena fada com avental passou por mim, empurrando um carrinho com pratos tampados.

— Oh, convidada? — Sua maneira de falar foi direta e parecia confusa. Entendi que talvez nem todas entendessem nossa língua e comecei a fazer sinais.

— Comer, sabe? Encontro com os príncipes...sua alteza...— Comecei a fazer alguns sinais de coroa e até mesmo andei como Hollen andava, com a postura ereta e as mãos para trás. Mas não sabia se tinha tido o efeito desejado.

— Oh! Encontro real! Banquete! Sim, sim. Aqui, aqui. — Percebi então que talvez não se tratava de nenhuma fada, mas de alguma outra espécie mágica daquele reino. Seu tamanho era curto demais e não havia nada de belo em si. Não que fosse um ser feio, mas comparado com as fadas que me encontrei até aquele momento, era desprovido de tanta formosura.

Mas pelo menos tínhamos conseguido nos comunicar. Foi o que pensei enquanto seguia a pequena criatura que levava o carrinho junto de si. Quando paramos sobre o topo da escada que subira para conhecer o quarto em que ficaria hospedada, pensei em como os servos eram capazes de levar ou trazer qualquer material em uma mesa de rodinhas, tendo tantos degraus. Eles voavam? Ou sua habilidade era boa o bastante para não cair com os objetos?

— Descer, descer. Jardim. — A pequena de cabelos laranjas apontou para o final da escada, onde estava onde estava o portão do corredor dourado, pelo qual entramos no castelo. Eu não entendi. O banquete seria do lado de fora? Eu sabia de qual local a mulher se referia, pois do lado de fora, aos arredores do castelo, havia um jardim muito grande. As diversas flores e arvores quase prendiam Luara, que ficou extasiada. Felizmente consegui arrasta-la para acompanhar a rainha e sua filha.

— Obrigada...qual o seu nome?

— Wendofell. — Fiquei confusa no começo e me perguntei se aquele era um nome feminino ou masculino. 

— Obrigada, querida Wendofell. — O sorriso que recebi e o balançar se suas orelhas felpudas foi o suficiente para me confirmar de que se tratava mesmo de uma garota. 

— Sem problemas, sem problemas. — A pequena criatura se retirou da minha vista, cantarolando algo baixo em uma língua estrangeira. 

Aquelas escadas eram uma ameaça de morte para um mulher sem experiência em andar de salto, como eu. Sentia que a qualquer deslizamento, minha cara inauguraria o chão da sala de tronos. Ver o cômodo vazio, apenas com os grandes assentos reais, adornados de ouro, me trazia uma sensação incomoda de solidão. Talvez fosse o efeito de não ter uma colega loira e uma Maggie em meu ouvido. O que mais me importunava era não saber se minha aparência se adequaria ao banquete com as fadas. O senso de moda nunca gostou de mim, mas parecia ser melhor amigo de Luara e ela não me acompanhava. A única opção que sobraria, caso todos me olhassem com chacota, seria me retirar educadamente e queimar a peça de roupa para saciar minha vergonha. Ou talvez fosse meu cabelo o culpado? Os pensamentos estavam me deixando ansiosa.

O Beijo Da FadaWhere stories live. Discover now