Capítulo 19

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Sana.

— Luara poderia ter mandado um manual de sobrevivência junto!  — Gritei me abaixando e passando pela barriga da criatura, antes que seus dentes encontrassem meu corpo. Conforme a ponta das laminas se arrastava pelo couro do monstro, sua pele congelava. Eu estava me sentindo uma pintora conforme o bicho ganhava listras brancas. 

— O que você ta fazendo aí embaixo?!

— To viva! Obrigado pela preocupação! — Depois de um tempo tentando escapar dos olhos do animal, que me procuravam sem parar, parei perto de uma de suas patas. Só era preciso esperar que ele levantasse ela. Mas havia um problema, como fazer ele levantar a pata? — Preciso atingir a palma dele! Consegue fazer alguma coisa?! To sem ideia aqui!

O animal se remexeu ao me ouvir gritar, mas me movimentei junto a ele e para o mesmo angulo, não o deixando me enxergar por debaixo de sua barriga. Ali estava quente, principalmente por ter talvez toneladas acima de mim. Suas patas não eram muito altas, o que me dava pouco espaço entre sua barriga e a terra. Seria ótimo uma ajudinha dessa floresta mágica. Qualquer coisa eu to aceitando de bom grado. 

— Tá! — A resposta um pouco demorada de Rachel me tirou um peso das costas. Ela deveria ter pensado em algo. — Tive uma ideia, mas você precisa me dar certeza de que o que vai fazer funcionará!

— Tenho certeza! — Minha voz quase tremeu com minha afirmação, porque...eu não tinha certeza. — Por que?!

A mulher não precisou me responder, eu mesma vi o motivo da pergunta, quando a presenciei pular na frente do monstro e começar a balançar os braços, gritando. Ao chamar a atenção do Londors, Rachel correu para dentro da floresta entre as arvores, e a criatura a perseguiu. Ela é louca! Suicida! Foi o que pensei, correndo junto ao animal para não perder suas patas de vista.

Era minha hora de tentar entender o que a menina quis fazer, e observando os passos que o bicho dava, consegui visualizar a ideia. Ele precisava levantar os pés para correr, ainda mais do que fazia para andar. Como que Rachel percebeu isso se ele não ficou correndo conosco? Suas passadas eram tão grandes que não foi preciso correr para nos alcançar. Sem contar que a menina ficou pendurada por bons minutos. A única explicação era algum estudo ou ela mesma já tinha lidado com aquela espécie antes. 

— Sana!  — Seu grito foi um alerta, uma mensagem para que eu me apressasse logo pois o monstro estava próximo de alcança-lo. 

Foi então que um pensamento invasor tomou conta da minha mente por alguns segundos. E se eu esperar? Rachel provavelmente será morta e eu terei um problema a menos na minha vida. Ela era alguém capaz de me matar com uma simples informação passada para a família real. Ninguém gosta dela mesmo. 

Eu levei alguns segundos para voltar a pensar de modo mais racional e empático, sem entender por que minha mente se corrompeu daquele jeito, mesmo que por um período muito curto de tempo. Não sou uma assassina! Não vou fazer isso! Ela só fez isso por confiar em mim! E ela faz parte do grupo, mesmo que ninguém a suporte. 

Balançando a cabeça para espantar os pensamentos e clarear minha mente, me forcei a correr ainda mais rápido, ficando por pouquíssimo tempo a frente de uma das patas do monstro, sentindo dor nos músculos de minha coxa, graças ao grande esforço que tive de fazer para superar a velocidade do animal. Um passo dele era como dez meus. 

Conforme seu rabo batia nas arvores, os troncos se partiam, não o bastante para cair, mas o suficiente para me fazer imaginar um golpe daquele negócio em ossos humanos. Minha careta de dor teve de ser desfeita assim que vi a oportunidade perfeita para ataca-lo. Torcia para que Rachel conseguisse continuar a correr mais um pouco. O monstro teria de passar por cima de uma pedra, com quase o dobro do meu tamanho, o que levantaria ainda mais sua perna. 

O Beijo Da FadaWhere stories live. Discover now