Capítulo 24

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Quando acordei, era quase de noite e a luz que antes já se fazia ausente, parecia ter abandonado completamente o cômodo. Mas diferente de antes, as janelas estavam abertas e meus olhos podiam vislumbrar as estrelas no céu escuro. Algo muito bom é que ali no reino das fadas, o céu era muito limpo e cheio das pequenas luzes que as vezes faziam falta no mundo humano.

Procurei ao meu redor o motivo de ter acordado, mas não encontrei nada, apenas uma sensação inquietante em meu peito. Quando olhei para o lado, Edrian parecia estar com uma expressão de padecimento, contorcida em uma careta suave de desconforto. Percebi que minha mão continuava sobre seu peito, junto a dele, entrelaçadas. 

Foi então que a sensação ficou mais forte e a única coisa em que podia pensar era em pegar um balde, que por coincidência, havia sido deixado ao lado da cama pelo curandeiros, antes dos príncipes e da rainha saírem. Assim que me levantei, tomando cuidado para puxar minha mão da de Edrian, ele se levantou bruscamente e se abaixou. Rapidamente eu e o balde estávamos ao seu lado, enquanto o príncipe vomitava sangue dentro do recipiente. 

Após algumas séries entre respirar e vomitar, Edrian voltou a se deitar sobre a cama, parecendo melhor e eu deixei o recipiente fora do quarto, chamando com o sino um serviçal que levou o conteúdo e prometeu me deixar outro vazio em breve. As mulheres poderiam ter nojo, mas já tinha visto tanto sangue em minha vida, que nem me importei. Ao voltar para dentro do quarto, percebi que o príncipe ainda não parecia muito curado, mas me procurava com seus olhos entreabertos. O azul estava marejado, como se ele tivesse permanecido alguns minutos encarando a luz forte do sol. 

— Não...me deixe...por favor.  — Ele sussurrou, visivelmente forçando a voz a sair, enquanto ofegava. Me perguntei se o príncipe sentia falta de ar. 

— Não vou. — Prometi, me aproximando de sua cabeça.

— Não vá...por favor.  — Mesmo comigo perto, ele ainda parecia me pedir, passeando entre o mundo dos sonhos e a realidade. — Não me deixe de novo. — Eu queria pensar que ele estava falando sobre a ultima vez em que estives o alimentando no quarto, e que sai sem olhar para trás, mas algo me dizia que não era sobre esse dia. 

— Não vou embora, Edrian. Vou ficar até você melhorar.

— Então não quero melhorar nunca. — Aquilo me pegou de surpresa, me deixando sem palavras para responder a fada. Quando ficamos muito doentes, o que mais desejamos é que tudo melhore o quanto antes. Mas o príncipe havia dito aquilo como se...como se eu fosse mais importante do que seu estado horrível. Como se preferisse sofrer constantemente ao me ter longe.

— Não diga besteiras. Não precisa ficar doente para me ter por perto.

 — Mas você só apareceu agora. Quando eu estava bem, você não estava aqui.

— Vossa alteza...eu...

 — Fique. Fique para sempre comigo. Por favor. Fique. — Edrian não estava falando tais palavras em sã consciência, porque ainda parecia lutar para permanecer acordado.

— Eu...— Minha voz perdeu força, devido a montanha de emoções que sentia. —...vou ficar.

Com cuidado puxei a cabeça do príncipe para cima e a coloquei para ficar sobre minhas pernas, acariciando seus cabelos que se mostraram muito macios e sedosos, como se fosse possível tocar as teias platinadas de uma aranha, com fios grossos e aveludados ou alisar os fios da seda mais cara da família real. Não foi apenas a textura das mechas que capturou minha atenção, mas também a forma como pareciam brilhar conforme meus dedos as abria, para observar melhor. Uma tecelã de fadas, pensei comigo mesma, sorrindo ao sentir o peso de Edrian aumentar, indicando sua dormencia.

O Beijo Da FadaWhere stories live. Discover now