Capitulo 08

99 23 146
                                    

Sana.

- Por que meu quarto fica no corredor da família real? - Eu insisti novamente, querendo arrancar alguma informação da fada.

- Minha mãe achou que seria melhor assim.

- Isso não é uma explicação muito plausível.

- Não posso desobedece-la.

Droga! A mulher estava se esquivando de me responder, já que fadas não podiam mentir. Ela ocultava algo mas não me respondia com mentiras. Aquilo me irritava. Se fosse Forger ou Rachel, rapidamente encontrariam um meio de tirar informações, mas eu não era estratégica ou manipuladora. Minha área era a arte da luta corpo a corpo e não mental.

- Dane-se. - Sussurrei para mim mesma, encerrando meus pensamentos vorazes que me mandavam dar meia volta e recusar sair daquele quarto. Talvez Luara dividisse a cama comigo. Éramos amigas mesmo. E não seria a primeira vez.

- Sua boca é muito suja, não acha? Ninguém aqui gosta de palavreado ou gírias humanas.

- Duvido que o povo das fadas não tenha gírias.

- Não. - Sua cabeça se virou para me olhar por cima dos ombros, enquanto andávamos pelo corredor branco, muito mais iluminado e com candelabros de ouro. O fogo sobre eles era mantido com magia, pois não havia velas, apenas as chamas vermelhas. - Não temos. E é bom que se acostume a esquece-las, ou não será vista com bons olhos. Não que pareça se importar com isso. - E assim, com outra patada, sua atenção se voltou para o caminho.

- O que eu te fiz? Nos conhecemos a menos de algumas horas e você simplesmente age como se me odiasse. Pensei que fadas eram mais amáveis.

- Amáveis?! - E com o final da minha frase, o corpo magro e esbelto parou repentinamente e se virou de maneira brusca. Seus olhos eram de um azul forte, mas naquele momento...estavam tão claros quanto um raio descendo do céu em uma tempestade. - Nós somos o que todos deveriam ser. Justos e honrados. O amor que temos é o que todo ser vivo merece receber. Não somos medrosos ou mentirosos, muito menos fugimos de nossas responsabilidades. Não agimos como se nada tivesse acontecido ao causarmos um desastre. Não desaparecemos depois de firmar um contrato de casamento eterno! Não quebramos nossos laços de amor, para procurar uma profissão qualquer! Não conseguimos iludir outra pessoa, apenas para rejeita-la e...

- Diana!

A voz era forte como um rugido, ecoando pelo corredor, que tremeu com tamanha autoridade. Percebi que estava com o corpo extremamente tensionado e minha mão direita discretamente havia se aproximado da adaga escondida em minha cintura. Não poderia matar a fada, mas se fosse atacada, a machucaria para me defender. Talvez teria tempo para pensar em algum modo de fuga. Quando me virei, encontrei o homem de orelhas pontiagudas, alto, com cabelos loiros e os olhos tão verdes quantos as folhas das árvores no verão. Se não me enganava era Hollen, o príncipe herdeiro. Sua expressão não estava nem um pouco calma ou receptiva como antes.

- Que gritaria é essa?! Todos estão ocupados nesse momento e você está aumentando o tom de voz?! Para uma convidada, ainda por cima?!

- Mas ela é...

- Sem mas! Não importa quem ou o que a cavaleira seja. Não há motivos para agir de um modo tão deselegante e principalmente com um habitante do reino com que estamos tentando manter a paz. Não se esqueça da nossa responsabilidade com o nosso povo! Assuma seu posto! Não desonre a mamãe e todo o esforço dela. - Suas palavras pareciam sair como flechas em direção ao alvo, causando tremores na expressão da princesa. A postura arrogante e cheia de razão da garota aos poucos se desfez e rapidamente a fada desceu os degraus que subimos, deixando-me sozinha.

O Beijo Da FadaWhere stories live. Discover now