Capítulo 27

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" Olá, pergaminho.

Hoje pude entender o que os mais velhos dizem, quando encontram sua alma gêmea. Sempre pensei que se tratasse de um sentimento estranho, ou algo irreal, criado pelos apaixonados. Mas o que sinto por ela, é diferente. A menina humana que vem brincar na floresta não deixa os meus pensamentos. Quero falar com ela. Quero muito. "

— Ele estava com medo? Ele...eles são lindos! — Quem poderia temer a beleza de uma fada? E se uma fada não tinha autoestima, quem poderia ter?

— Nem sempre enxergamos em nós o que todos enxergam. Se fosse assim, as pessoas ruins deixariam de ser ruins, certo? — A raposa sorriu, virando algumas páginas com seu pequeno focinho.

— Sou...eu. — Sussurrei, olhando para os traços em dourado, desenhados com muito capricho em quase uma folha inteira. Ao lado as letras escritas me emocionaram, quando lembrei a quem pertenciam.

" Olá, pergaminho.

Eu falei com ela. Descobri que seu nome era Sana. Senti que meu coração ia pular para fora do meu peito! Que ansiedade!

Prometi que iria ve-la amanhã. Vamos nos encontrar no mesmo local! Eu não poderia estar mais feliz! "

— Não entendo...

— O que, especificamente? Eu entendi. O principe se apaixonou a primeira vista por você! Parabéns!

— Não sobre isso. Fellicia...— Parei alguns segundos para encarar aqueles pequenos olhos, aquelas orelhinhas felpudas e patinhas. Poderia confiar na raposa? Ela me compreenderia? Até aquele momento, a criatura não havia me julgado ou condenado. E até mesmo guardara um objeto que considerou precioso para mim.

— Sim?

— A questão aqui é que...eu...não lembro de nada disso. — Esperei a raposa me repreender ou se assustar, talvez desconfiar das minhas atitudes. Afinal, ela provavelmente pensara que eu roubei o diário do 4° Príncipe por estar apaixonada por ele, ou algo do tipo. Era eu naquela história. Ninguém mais. Mas, não era o caso. Eu não estava envolvida. Apenas roubei o objeto por curiosidade. Fellicia poderia me considerar uma ladra ou presumir que tramava algo contra seu reino. Ela morava ali também e com certeza não desejava perder sua casa ou ser expulsa como cúmplice, caso a rainha viesse atrás de mim.

— Que fatalidade. — Mas sua reação foi muito contrária ao que imaginei. — Pobre menina. Não sei o que pode ter a levado a esquecer de momentos tão doces e felizes! Mas acredito que tudo tenha uma explicação.

— Não está com raiva? Eu te fiz ler todas essas páginas e nem me recordo delas.

— Como poderia? Nos divertimos bastante! E devo admitir que li uma ou outra página. O príncipe Edrian é bem diferente do que imaginava. — O pequeno animal de duas caudas se esgueirou, passando por debaixo da minha perna dobrada, ficando mais próximo de mim. — Por que não continuamos a ler? Eu sinto que estamos chegando a uma pista do que pode ter causado sua perda de memória.

Passei algumas folhas, apesar de sentir vontade de ler cada uma daquelas páginas, principalmente quando encontrava desenhos dos momentos em que Edrian e eu estavamos juntos. Era como ter uma visão, de uma outra realidade, onde a jovem "eu" era feliz.

" Olá, pergaminho.

Hoje fui apresentado para uma amiga de minha Sanay. O nome dela era Eleonor. Não sei explicar o que sinto quando estou próximo dela, mas seus olhos me parecem tão...escuros. E sempre estão em mim! Como um predador.

Sana parece gostar dela. Não posso estragar essa amizade. E deve ser coisa da minha cabeça! Não é? "

As páginas brilhavam conforme a luz refletia na tinta dourada das letras, até que cheguei a uma folha com aspectos mais velhos e amassados. Algumas manchas levemente cinzentas se destacavam, mas a ortografia que me chocou. Como de uma hora para outra, a escrita maravilhosa havia mudado? Era a mesma, mas alguns detalhes, dobramentos, pontos, o final das letras, coisas assim, pareciam diferentes. As letras se arrastavam, como se doesse para escreve-las.

O Beijo Da FadaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora