Capítulo 12

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Sana.

Minha mente estava tomada pela sensação crescente de estranhamento. O mundo ao meu redor era mágico, diferente e perigoso, mas algo me dizia que a ameaça vinha de dentro daquele castelo. De onde o principe recluso me conhecia? A pergunta não queria calar, torturando-me durante o banho com água quente. Há apenas uma hora encontrei uma porta no quarto, que me levava para outra sala com uma banheira. O modo em que descobri a função do cômodo, além de observar a propria banheira, foi ver uma criatura azulada e gosmenta, parecida com uma água-viva, encher o recipiente com minha aproximação. Nem mesmo precisei lhe dar ordens. Achei que, assim como a pequena serva que me ajudara, aquele também se tratava de outro empregado.

- Você é macho ou fêmea? - Perguntei, pensando em voz alta, ao observar os tentáculos azuis mais claros do que a cabeça e longos se esticarem para me entregar um pano macio e grande. A criatura não emitiu som, somente insistiu com a peça sobre o ar, para que eu pegasse e me enrolasse. - Tudo bem. Acho que vou te chamar de Babol. Combina com você. - O ser apenas se afastou de mim, me assustando um pouco com seus movimentos. Querendo ou não, era algo desconhecido e minhas armas estavam no quarto. Não imaginei que precisaria usa-las no banho e por isso não as levei. - Calma aí, Babol. Não me mata do coração. - Era bom começar a andar com elas em qualquer lugar.

Decidindo parar de agir como uma criança, mais precisamente como o Alef em relação ao esquilo, me ajeitei com a toalha e caminhei para fora. Ainda consegui ouvir um som de sucção, presumindo que a criatura estava retirando toda a água usada na banheira. Mas como o fazia e para onde o líquido ia?

Não tive tempo de saciar minha curiosidade, quando sons fracos vieram da porta do quarto. Alguém batia. Se fosse uma fada, pelo menos tinham aquele costume como o dos humanos. Um ponto positivo.

- Sim?

- Sou eu. - A voz de Luara soou, me fazendo andar rapidamente para perto.

- Está acompanhada?

- Não. Por que?!

- Acabei de sair do banho.

- Fica tranquila! Só tem eu aqui.

Assim que abri a porta de madeira, a cavaleira entrou como um raio, fechando a mesma em seguida. Sua expressão era de curiosidade crua e nua. Um dos benefícios de conhecer sua amiga.

- Pode começar a falar.

- Não estava aguentando, não é?

- Passei a noite inteira curiosa. Nem consegui dormir direito. Menina, o que aconteceu ontem a noite? Você mal chegou e já conseguiu atrair a atenção do 4° príncipe?

- Como descobriu...

- Me encontrei com Erdem no café da manhã e fiz algumas perguntinhas. - Ela me interrompeu, antes que eu pudesse perguntar. - Enfim, só não consigo encaixar as peças. Como o encontrou e por que ele estava dizendo que você não lembra dele?

- Não tenho a mínima ideia. Eu estava na frente da fonte e ele me perguntou se eu queria ajuda, acho que estava se referindo aquele lenço azul no meu pescoço. O material me incomodava. Quando me virei, ele começou a me tocar e abraçar, quase...quase me beijou. - A informação pareceu deixar Luara ainda mais chocada.

- Eita fadinha. Um príncipe sendo tão irresponsável assim? Beijar qualquer mulher que pareça outra pessoa é meio...idiota.

- Também acho.

- Continua, vai.

- Aí eu me afastei e...cai dentro da fonte. Aqueles saltos de merda foram a causa.

- Quando te vi com eles no jantar, imaginei que algo assim pudesse acontecer. - Ela se aproximou, estendendo as mãos para segurar as minhas. - Me desculpe não ter vindo ajuda-la a se preparar. Eu não encontrei ninguém que pudesse me orientar. Todos andavam de um lado pro outro e Rachel me pediu para não incomoda-los por conta de "problemas femininos". Eu acho ela é um saco. Ninguém merece. - A mulher bufou, enquanto retirava os olhos, em uma careta de desgosto. - Não acredito que ficarei um mês inteiro com alguém tão chata.

O Beijo Da FadaWhere stories live. Discover now