Capítulo 26

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Após passar o remédio nas costas do principe, não consegui permanecer no quarto e disse que daria uma volta. Ainda podia sentir a sensação de sua pele morna e a suavidade em meus dedos.

Não hesitei em procurar o capitão para passar todas as informações que continha e esclarecer o que havia ocorrido a mim. Mas primeiro, era importante deixa-lo ciente da troca de governantes das fadas, futuramente. A mudança na liderança de um reino sempre trazia riscos para um acordo. Nem sempre o próximo rei tinha os mesmo ideais que o anterior.

Forger estava sentado em frente a uma mesinha, escrevendo uma carta, provavelmente endereçada a Meggie. Durante todos aqueles dias o capitão não havia se esquecido de deixa-la ciente sobre tudo. Tirando Rachel que sempre se mantinha afastada, o resto de nós éramos muito próximos, ou pelo menos tentávamos ser. E se a menina queria receber cartas, ela as teria.

— Forger, preciso falar algo sério com você! Olha, parece que o príncipe e a rainha estão...— Eu entrei realmente rápido em seu quarto. 

— Morrendo. — Mas sua conclusão me estagnou no lugar.

— Você já sabia?

— Sana...precisamos mesmo conversar. — Aquele olhar de culpa não era nada bom, principalmente quando o capitão o usava com um tom de voz cauteloso.

— O que aconteceu?! — Minha voz também saiu preocupada e baixa.

— Sana, sabe por que o rei Dellanova deseja tanto que esse contrato de paz seja realizado sem problemas?

— Para evitar uma guerra, é claro. — Meu tom saiu com toques de ironia, pois era um motivo obvio.

— Não! É para evitar um massacre.

— Não conseguiria matar todas as fadas. Talvez...

— Não, Sana. As fadas que nos exterminariam. Apenas alguns membros da família real é o bastante para acabar com um exército inteiro de humanos. Imagina todo o povo e todos os membros reais?

— Elas não podem ser tão terríveis assim. — Nunca tinha visto uma em prática, mas a julgar por sua natureza tão boazinha, não conseguia imagina-las sendo tão extremistas.

— O rei Dellanova viu em primeira mão o que uma fada com raiva é capaz de fazer. — Forger levantou o braço que estava em frente a um tipo de livro velho, ao lado das cartas. — Há 14 anos atrás, houve um acidente no orfanato em que você vivia. — Conforme falava, o capitão de cabelo ruivos virava as páginas com desenhos nítidos da tragédia. — Uma fada macho se relacionou com um humano, e selou uma conexão, com um...

—...beijo. — Sussurrei, sem perceber que o havia interrompido. Forger olhou para mim em compreensão.

— Sim. Com um beijo. E esse humano, por algum motivo, a abandonou. Quando a fada procurou por ele e não o encontrou, ela teve um ataque de fúria e destruiu todo o local, desde as árvores até o último cômodo do orfanato. Mulheres e crianças, todos mortos e carbonizados até os ossos, como se não passassem de cadáveres velhos. Não foi um evento longo, mas sim rápido, de acordo com alguns moradores locais. A luz foi tão rápida quanto um piscar de olhos, como um ligar e desligar de uma lanterna e então tudo estava destruído. — O desenho com marcas fortes de tinta negra, ilustrava corpos carbonizados. Pude ver os colares das senhoras que cuidavam de nós. Eram inconfundíveis. Era o meu orfanato.

— Quando isso aconteceu?

— Já disse...cerca de 14 anos atrás.

As palavras de Edrian e de nosso primeiro encontro no castelo, retornaram.

"— 14 anos...e enquanto me lembrava dia após dia de nossos encontros...ela...se esquecera de mim. Vivera como se eu não existisse. "

As contas batiam. Na verdade, tudo batia. O comportamento dos moradores quando Edrian me apresentou no festival, a forma como Diana me tratava, o que Hollen disse sobre minha aparência ser próxima a da pessoa responsável pela doença do 4° Principe, eles chamarem justamente a mim para ajudar Edrian, sem contar com o sacrifício da fada para me salvar e aquelas memórias soltas que vinham e iam repentinamente.

O Beijo Da FadaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora