Capítulo 1

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Numa pequena cidade do interior, onde nada acontecia de interessante, onde as pessoas embora se conhecem viviam cada uma no seu mundinho.

A vida limitava-se a trabalho, casa e família.  Viviam todos desconfiados uns dos outros.  Raras eram as famílias que conviviam.  Enfim, é o velho "não se passa nada"

Juliette, moça linda, pele clara, cabelos escuros era a luz no meio daquele nevoeiro.  Tinha terminado o ensino secundário e pretendia frequentar a Universidade de Arquitectura na cidade vizinha que distava mais ou menos 1,30 h.

Mas o destino tinha-lhe preparado algo diferente.

Filha única, sua mãe era costureira e seu pai sem profissão.

Desde muito cedo ela aprendeu com a mãe a lida da casa e alguma coisa de costura.
O pai, passava a maior parte do tempo no boteco gastando o que a família não tinha.

Os dias iam passando e Ju como carinhosamente a mãe lhe chamava sonhava com a sua entrada na faculdade.   Durante vários anos juntou dinheiro realizando os mais diversos trabalhos.  Tudo o que aparecia a Ju estava lá.  Praticamente desde os 13 anos ela já trabalhava e estudava.

A mãe nunca quis gastar um tostão do dinheiro da filha.   A formação dela vinha em primeiro lugar.

A assistência médica na cidade era quase inexistente.   As pessoas só consultavam o médico quando aparecia algo doloroso.

Foi numa destas consultas que a mãe da Ju, dona Elsa, descobriu um tumor maligno em avançado estado.

As duas choraram muito mas Ju, olhou a mãe, limpou as lágrimas e disse:

- Vamos vencer.  - Vais ficar boa.

Imediatamente dona Elsa começou a medicação mas o médico não lhe deu grande esperança.

Os dias foram passando e as coisas piorando.  Ju tomou a seu cargo os trabalhos de costura da mãe e desdobrava-se para não lhe faltar nada.
Por vezes eram as suas economias a salvação já que algumas clientes da mãe se afastaram.

O pai, esse, ao saber da doença da esposa e enrabichado por uma serigaita que conheceu lá no boteco, resolveu partir com ela para outra cidade.

As duas já eram sózinhas.  Pelo menos agora tinham menos uma boca para alimentar e ainda gastar em pinga.

O estado de saúde de dona Elsa piorava de dia para dia.  Ju mostrava-se forte.  Nunca chorava em frente à mãe, mas, à noite na sua cama desabava num choro compulsivo.

No dia seguinte, lá estava ela, sorridente, como se a vida fosse um mar de rosas.  Era necessário dar coragem à mãe.

O dia amanheceu cinzento.  Dona Elsa chamou a filha.

- Filha, eu sinto que a minha jornada está prestes a terminar.  - promete-me que quando eu partir vais atrás dos teus sonhos.  - Não te prendas a esta cidade.  - Aqui não há futuro para ti. - Promete.

- Mãezinha, Prometo sim, mas ainda teremos muito tempo juntas.  -  Toma o teu café, os teus medicamentos e descansa.

Dei um beijo na minha mãe.  Ela abracou-me e ficámos algum tempo naquele abraço.

Ao final da tarde ela se foi.  Calma, serena.  Estava a dormir.  Ela sabia que aquele era o nosso último abraço em vida.

Chorei, ai como chorei.  Zanguei-me com Deus.  Não era justo.  A minha mãe não merecia partir tão jovem.

Terminados os trâmites de funeral onde só eu e meia dúzia de vizinhos comparecemos era hora de dar um rumo à vida.  Desistir jamais.

Nada mais me prendia àquela cidade. 

Há cerca de 1 ano iniciei um namoro com um rapaz de minha idade mas depressa descobri que ele só queria cama.  Eu até estava a começar a gostar dele mas como não teve o que queria partir para outra.

Vai com Deus estrupício pensei eu quando o vi atrelado a uma ruiva.

Era hora de partir.  Procurar outros ares, tentar a minha sorte na cidade grande.

Vendi as poucas coisas que tinha, outras dei aos vizinhos,  entreguei a casa que era de aluguer e parti para S. Paulo onde diziam estar as oportunidades.

Parti sem olhar para trás.

Sétimo Sol Where stories live. Discover now