Capítulo 12

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O avião descolou e eu recostei-me no assento com a cara colada à janela.

Estava deixando o meu País e as pessoas que gosto.  Comigo levo as recordações de uma vida.

Quando S. Paulo desapareceu do meu raio de visão as lágrimas corriam pela minha face.
Ao meu lado uma senhorita olhou para mim e disse:

- Seca as lágrimas filha!  Custa partir mas tudo vai dar certo. Pensa nisto como um teste necessário.  Lá mais à frente está a felicidade.

- Obrigada, respondi.

Fechei os olhos e tentei dormir.   Estava tão cansada que só acordei porque a senhorinha me cutucou pois estavam servindo o almoço.

Comi e voltei a dormir.  Quando acordei estávamos a acertar em Londres.

Não podíamos desembarcar pois só ia haver troca de tripulação.   Duas horas depois descolámos novamente.  Eram 19,30.  Serviram o jantar e eu fiquei a TV que estava à minha frente mesmo não prestando atenção.   O meu pensamento estava longe.

Será que fiz a coisa certa?  Será que não me precipitei?

Fui interrompida nos meus pensamentos pela voz do piloto anunciando a aterragem em Portugal.  Finalmente.

O desembarque foi rápido.   Lá estava Tomás e uma outra moça muito linda por sinal.

Ao ver-me puxando a mala correu e abraçou-me.

- Juzinha? Finalmente chegaste!

- Sê bem-vinda disse a Joana.

Colocámos  mala no carro do Tomás, sim que o menino do papá já tinha comprado cá um carro, e partimos em direcção a Cascais.

A marginal como chamamos à via rápida de Lisboa até Cascais é muito linda. 
Uma parte da via é feita à beira rio, o rio Tejo, para lá para o meio, o mesmo rio se encontrar com o Oceano Atlântico. Metade da Marginal à beira rio e a outra metade à beira mar.

À noite, a lua reflectida na àgua dava uma beleza ao local fora do comum

À noite, a lua reflectida na àgua dava uma beleza ao local fora do comum

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Chegámos a casa.  Um apartamento espaçoso à beira mar.  A Joana tinha adquirido num leilão efectuado pelo banco a um proprietário que por conta das circunstâncias económicas actuais não conseguiu pagar.

Decidiu partilhá-lo com outras pessoas para suportar as despesas.

Eu tinha comido no avião.   Eles tinham jantado.  Fizeram só um café e com uma fatia de bolo fomos para a sala por a conversa em dia.

Brasil

Sábado e Domingo tive show.   Segunda cheguei a casa de Alice, já que eu agora estava mais no apartamento , encontro a Lúcia a fazer o café.

- Cadê o pessoal desta casa? Perguntei.

- Não sei! Ainda não vi ninguém.

- Nem a Ju?

- Não.  Ela agora está de férias da faculdade e a Alice hoje não trabalha.  Deve estar a chegar da xácara.

- Vou tomar café e vou para o escritório.

E assim foi mais uma vez como era habitual.

Alice chegou após deixar o Marcos no trabalho e a Lia no infantário.

- Bom dia Lúcia! Está alguém em casa? Eu tinha um pressentimento ruim.

- Chegou o Rodolffo.   Não vi mais ninguém.

Subi rápidamente em direcção ao quarto da Ju.  Vi a roupa de lado com a etiqueta para doação,  abri o roupeiro e estava vazio.

Imediatamente as lágrimas correram pela minha cara.  Ela já foi.

Entrei no meu quarto, atirei a bolsa com tanta força que derrubei um bibelot que estava na cómoda.

Rodolffo ouviu o barulho e veio ver onde era.  Percebeu que a sua irmã estava a chorar no quarto.

Como a porta estava aberta entrou e encontrou-a sentada na cama.   Aproximou-se,  colocou o braço sobre o ombro e perguntou:

- Que foi mana? Porque choras?

- A Ju. Disse em soluços.

- O que tem a Ju?  Onde ela está?

- Foi embora.

- O quê?

- A Ju foi embora.  Não volta mais.

Levantei-me e comecei a andar à volta do quarto.

- Porquê?  Foi para onde?

- Não sei.  Mas sei que foi embora pra sempre.

Reparei nos envelopes em cima da penteadeira.  Todos juntos e presos numa fita vermelha.

- Dá-me aqueles envelopes pedi a Rodolffo.

- Olha, são dela.  Um para cada membro da família.

Li o da Lia e o meu.  Não conseguia deixar de chorar.
Um para os pais.  Depois eu dou.
O da Lúcia já vou levar.
Toma o teu.

O meu presente e da Lia eram muito bonitos.

Pelo volume vi que todos tinham presente.

- Não lês o teu?

- Depois. Não tenho coragem, pensei, com medo do que possa estar escrito.

- Vou levar o da Lúcia.

Fui para o escritório e coloquei o envelope na secretária.   Não tinha coragem de o abrir.

Fiquei ali largos minutos.  Por fim peguei o mesmo e li.

A cada palavra que lia era como se uma faca fosse cravada no meu peito.  Como é que eu posso ter magoado assim tanto uma pessoa que nunca me fez mal?  Como é que eu não tenho noção do mal que causo aos outros.

Peguei no colar dei-lhe um beijo e fiz a promessa que devia ter feito a ela.

Eu prometo ser uma pessoa melhor.
Se Deus me der a chance de te reencontrar, juro que ainda vais ter muito orgulho de mim. Eu, com a minha estupidez não consegui enxergar a pessoa boa que tu eras.  Eu não me permiti conhecer-te.
Eu nao me permiti amar-te.
Eu tinha medo de sofrer e o meu medo faz os outros sofrerem.
Eu vou tratar-me.
Eu sei que te amo mas o meu medo não deixa. Ele retrai, ele machuca.
Perante esta lua que me deste eu juro, vou esperar-te até que decidas voltar.
Amo-te e amar-te-ei sempre.

Saí,  passei na cozinha.  Lúcia chorava agarrada à Alice.
Dei um beijo nas duas.

- Ela volta.  Eu sei que volta.

- Alice, não sabes para onde ela foi?

- Não.  Ela disse-me que ia embora para longe mas  não quis dizer para onde.

- Mas eu vou descobrir.  Pode demorar o tempo que for mas eu vou buscá-la.

Agora preciso ir.  Vou a uma consulta.  Hoje começa uma nova etapa da minha vida.
Mais logo volto.  Vou retornar ao meu quarto.  Aqui é a minha casa, a minha família.

E saí deixando as duas sem palavras.

- Que a partida da Ju sirva para a cura dele, disse Alice.

Sétimo Sol Where stories live. Discover now