Capítulo 25

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Desci as escadas e meus sogros estavam de regresso.

- Ju! Estamos a pensar regressar esta tarde à xácara. Tu e Rodolffo têm muito que fazer estes dias, podias deixar a Matilde ir connosco.

- Tu queres ir com a vó Inês,  Matilde?

- Sim.  Vovó disse que tem muitos animais e cavalos.   Eu quero.

- Está bem.  Mas peça também ao Rodolffo.  Ele está lá no quarto.  Eu vou sair, tenho uns assuntos para resolver.  A mala da Matilde ainda está feita.  Veja com o Rodolffo.

- Dá Tchau pra mamãe. Abracei e beijei a minha menina e despedi-me dos meus sogros.

- No final de semana a Alice e a Lia também vão.   Vocês podiam ir junto.

- Se der nós vamos, já sabendo que não ia dar.

Pedi um carro no aplicativo e fui para o apartamento.   Precisava esfriar a cabeça e refletir sobre tudo.  Ainda bem que a minha filha ia com  a avó.  Não quero ela no meio desta confusão.

Estava no meu quarto tentando assimilar o que se tinha passado quando a minha mãe pediu licença para entrar.

- Filho! Vamos embora hoje e queremos levar a minha neta.  A Ju deixou e disse para te pedir permissão também.

- Está tudo bem, filho?

- Não está mãe, mas espero que fique.

- Aproveitem que vão ficar sós e resolvam.  Desta vez não deixo a minha nora e a minha neta partir.  Faz o que tiver que ser feito e deixem de ser 2 turrões.
- Ajuda-me a separar uma roupa da menina.

- Está bem, mãe.

No final do dia elas partiram.  A Lia ficou muito triste por não ter a prima mas logo se conformou por ir ter com ela sexta à tarde.

Conversei com a Alice e desta vez ela apenas disse:

- Os dois estão errados.  E saiu do meu quarto sem mais conversa.

Esperei o regresso da Ju mas ela não voltou.  Mandei-lhe uma mensagem.

- Pelo menos diz que estás bem e em segurança.

A resposta veio.

- Não te preocupes.  Já sou grandinha.

Passei a noite no apartamento.  Dormi sobre a cama pois não havia lençóis nem coberta.  Felizmente havia àgua e electricidade.

Pela manhã decidi ir fazer compras básicas.  Lençóis,  toalhas, pratos, talheres, um conjunto de panelas e o básico para poder sobreviver ali.  Mandei que entrassem tudo ao final do dia.

Passei no escritório pois na próxima segunda feira ia iniciar a actividade.

Não conhecia ninguém, apenas Rodolffo e agora zangados estava apreensiva.

Os escritórios de arquitectura estão situados no último andar e os de engenharia no antepenúltimo andar do prédio.

Subi ao meu andar, apresentei-me e logo veio um colega.  O dr. Gustavo.

Alto, moreno, barba perfeita, óculos e um porte muito elegante.

- Bem-vinda dra. Juliette.  O meu nome é Gustavo.   Seremos colegas espero que por muito tempo.

Fez-me uma visita guiada às instalações, mostrou-me o meu espaço de trabalho e ficámos algum tempo conversando sobre trivialidades.  Era curioso sobre Portugal mas já era tarde, precisava voltar para recepcionar as coisas que comprei.

À porta do apartamento estava um Rodolffo cabisbaixo.

- Estás aí há muito tempo? Podias ter mandado mensagem. Vai que eu não voltasse aqui.

- Posso entrar? Disse quando ela abriu a porta.

- Á vontade.

- Logo chegaram as compras que eu havia feito e ele olhava tudo sem dizer palavra.

- Já vi que não precisas de mim.  Era para termos feito juntos.

- Precisava sim, mas de quem me apoie, não de quem me faça sentir um nada.

- Nestes 5 anos habituei-me a cuidar de mim e assim vou continuar.  Preciso de alguém que caminhe a meu lado e não de alguém que me faça sentir lixo.

- Foi isso que eu fiz? Eu não sou essa pessoa.

- Não tens noção,  mas, às vezes comportas-te como tal.

- Não que eu seja perfeita.   Também erro muito.

- Então errámos os dois! Disse ele.

- E agora como ficamos?

- Eu aqui no "meu", - fiz o gesto de aspas com a mão -, apartamento que tu detestas e tu lá na tua casa.

- Não há outra solução? Para ti é assim tão simples?

- Simples não é, mas por agora é o que temos.

- Há dois dias estávamos tão felizes.   O que é que mudou?

- Diz-me tu! O teu ciúme, a tua incompreensão, o teu egoísmo veio ao de cima.

- A Matilde foi com a tua mãe?

- Sim.  Ia muito contente.   Ainda bem que foi para não assistir a isto.

- Ela vem viver comigo mas podes vir vê-la e buscar quando quiseres.   E levar lá para casa também.   Em ralação a ela quero que estejas à vontade.  A menina não tem culpa dos problemas dos pais.

- Então,  nós não tem volta?  É isso?

- O tempo vai ser um bom conselheiro.  Nada é definitivo.  Nós amamo-nos disso não tenho dúvidas mas neste momento o estar junto é doloroso para os dois.

- Separados é bem pior, disse tentando abraça-la, mas ela fugiu do abraço.

- Segunda feira vamos começar a trabalhar.   Vais ser difícil os dois no mesmo espaço.

- Em andares diferentes.  É bem capaz de nem nos cruzarmos se não quisermos.

- Olha! Lá em casa tem 2 carros.  Usa um para ser mais fácil a deslocação.
Não tens necessidade de andar sempre em carro de aplicativo.
O carro está parado.

- Está bem.  Amanhã vou buscar as minhas coisas e trago o carro.

- Já vais trazer tudo?  Não tem pressa.

- Tem coisas que quanto mais depressa fizer melhor para todos.

Fiquei ali vendo ela arrumar tudo.  Não consegui dizer mais nada.  Estava tudo fugindo do meu controle e eu não sabia como dar volta à situação.
Regredi 5 anos.  Voltei áquele Rodolffo sem eira nem beira, mas desta vez estava determinado a fazer diferente.

Ia dar-lhe o tempo que ela precisasse mas estaria sempre presente.  Jamais perderia a minha família.

- Vem ficar comigo hoje?

- Não.   Vou dormir aqui. Se quiseres podes ficar.

Não consegui.  Este apartamento provoca-me ânsias. Ainda mais dormir numa cama escolhida por outro.

- Tenho que ir.  Sem que ela esperasse dei-lhe um abraço.  Ela não fugiu.  Segurei-lhe no rosto e beijei-a.

- Até amanhã,  disse ela.

- Fechei a porta e desatei num choro.  Porque é que ele é assim? Queria tanto que ele ficasse.

Hoje telefonei ao Diogo.  Em conversa contei sobre esta questão dos móveis.   Ele pôs-me à vontade para trocar o que quisesse.   Pedi para não contar nada sobre isto se eventualmente falasse com o Rodolffo.

Engraçado é que o Diogo disse que se fosse com ele reagia igual.

- Porque é que os homens dizem que as mulheres são difíceis quando difíceis são eles?

Não há como entendê-los.





Sétimo Sol Where stories live. Discover now