A vida seguiu o seu curso dentro da normalidade.
Já estávamos na nossa casa nova.
Estávamos felizes. A gravidez estava normal tal como foi a da Matilde. Contámos à família só depois de sabermos o sexo. Vinha aí outra princesa.
Quem estava radiante era a Matilde. Todos os dias perguntava pela chegada da mana. Já até tinha separado algumas roupas e brinquedos para lhe dar.
Durante a semana e sempre que era possível eu e o Rodolffo almoçávamos juntos. Nem sempre era possível pois ele ausentava-se bastante para acompanhar algumas obras.
Os shows de fim de semana regressaram em força. Os mais perto da cidade eu acompanhava mas quando era longe preferia ficar a descansar. Nesta gravidez a barriga cresceu mais que da primeira.
Hoje era sábado. O show era no estado de S.Paulo mas numa cidade bem distante.
Rofolffo estava a tomar banho quando vejo uma mensagem acabada de chegar no seu telemóvel.- Vêmo-nos hoje?
Vi o nome do remetente da mensagem. Carla.
Tirei uma foto da mensagem com o meu telemóvel. Um dos membros da equipe fazia sempre live dos shows.
Vou ficar atenta.Fingi não ter visto nada e continuei a arrumar a mala dele.
Ele saiu do duche e começou a vestir-se. Pegou no telefone, leu a mensagem e pousou-o novamente.Já fiquei fula mas não o demonstrei.
- Amor! Regressas a seguir ao show?
- Talvez só Domingo à tarde. Depende da hora que acabar o show.
Ele saiu e eu entrei nas redes sociais dele mas não encontrei nenhuma Carla.
Já estava no setimo mês e uma barriga enorme. O sexo entre nós vinha diminuindo por causa do desconforto. "Ou seria por outro motivo? "
Resolvi ignorar o assunto e seguir o meu dia.
Fui ao parquinho com a Matilde. Já não conseguia fazer muitas brincadeiras com ela.
O dia terminou e preparei-me para assistir à live do show.
As postagens sobre o atendimento aos fãs no camarim não mostraram grande coisa com excepção de uma morena escultural que abraçou o Rodolffo de modo suspeito. Trocaram poucas palavras que no vídeo foram imperceptíveis.
O show decorreu com normalidade mas as minhas suspeitas aumentaram. A morena estava a assistir ao show junto com a equipe.
Pesquisei os vários storys da equipe e num dos membros estava a referência.
" magnifico show com a linda Carla"
Não vi nada mais. Aguardei o fim pois habitualmente o Rodolffo ligava.
Não ligou. Mandou mensagem.
- Já é tarde, deves estar dormindo. Regresso amanhã à tarde. Beijo.
Nunca ele tinha mandado mensagem a não ser que ligasse e eu não atendesse. E foi muito seco convenhamos.
O que eu já passei na minha vida permite-me reagir com cautela. Sofrer por antecipação jamais, mas amanhã vou querer saber tudo.
Domingo amanheceu chuvoso. A Alice, o Marcos e a Lia passaram cá e levaram a Matilde para o cinema e depois ia dormir lá em casa. Fiquei feliz pois não quero que ela assista à possível discussão com Rodolffo.
Eram 18 horas quando ele chegou.
Deu-me um beijo, perguntou pela filha e subiu para tomar banho.
Desceu um pouco depois estava eu a pôr a mesa para o jantar.
- Queres ajuda?
- Para por a mesa não?
- Então?
- Não tens novidades para me contar?
- E porque teria? Está tudo normal. Porque a Matilde vai dormir na Lia?
- Julguei que tinhas algo para conversar comigo e não queria que ela estivesse presente.
- Não tenho nada para dizer.
Mostrei-lhe a mensagem e o print do story do elemento da equipa.
- Isso não quer dizer nada.
- Para ti talvez. Para mim diz demais, mas, se não queres falar é direito teu. Até tomares vergonha e me contares o que se passa não me dirijas a palavra.
- Estás a supor coisas que não existem.
- Prova que estou errada.
- Não tenho nada a provar. Não fiz nada.
- Bom regresso ao passado, disse e saí dali.
Ele não falou mais nada e eu nada mais perguntei.
Durante os 15 dias seguintes só falámos sobre assuntos relacionados com a Matilde.
Eu dormia num dos quartos extra da casa e ele no nosso quarto.
Quero ver até onde ele consegue ir.
Ele não conhecia este meu lado. Se é para ignorar eu também sei.Os shows dos próximos 2 fins de semana foram cancelados. Se ele tinha outra por certo ia dar um jeito de sair de casa mas não. Ficou em casa e fez programas com a filha. Eu recusei participar.
Estava a dar banho à Matilde e ela começou a dizer:
- Hoje o papá discutiu com uma senhora quando fomos comer gelado .- Foi? E quem era a senhora?
- Não sei. Nunca vi. Mas ela queria dar um beijo na bochecha do pai e ele empurrou ela.
- E o pai disse o quê?
- Sai daqui. Deixa-me em paz. E viemos embora.
Será que era ela? Será que mora aqui?
Não perguntei nem ele me contou, mas, desta vez, estava disposta a não tomar nenhuma atitude.
Ele tem que lidar a bem ou mal com as situações que causa. Assumir os erros e principalmente reconhecê-los.
Por causa da Matilde fazíamos as refeições sem que ela percebesse o climão. No resto, interacção 0.
Cada um ia para o trabalho no seu carro. Preferi pedir comida e comia no escritório. A barriga já pesava demais.
A partir do próximo mês ficarei em casa até ao parto. Falei com o Diogo e o que puder faço em casa.Hoje acordei com algumas cólicas.
O Rodolffo tinha ido para o trabalho e eu estava em casa com a Matilde e a Fátima, uma moça que nos vem auxiliar 3 vezes por semana.- Fátima, preciso de ir à clínica. Estou com cólicas mas ainda falta um mês para a bébé nascer. Ficas com a Matilde. Eu vou pedir um uber porque tenho medo de ir a conduzir.
- Ligue ao sr. Rodolffo, não vá sózinha.
- Não é preciso. Não deve passar de cólicas normais. Se for algo eu ligo de lá.
Estava na minha sala quando recebo uma ligação de casa. Era a Fátima.
- Sr. Rodolffo, a Dona Juliette foi sózinha para a clínica. Estava com cólicas e não quis ligar pois achava que não era nada preocupante.
- Só quis informar. A Matilde ficou comigo. Não se preocupe.
- Obrigado Fátima.
Saí dali a correr e em poucos minutos estava ao pé dela.
- Castiga-me como quizeres mas não me excluas de assuntos sobre os meus filhos.
As lágrimas contidas até aquele momento caíram e não consegui responder nada.
- Não chores fica calma. Não faz bem ao bébé.
- Jamais faria mal à minha bébé, fica descansado. Arriscaria a minha vida para salvar a dela respondi sem olhar para ele.