Capítulo 14

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Cascais

Durante uma semana as náuseas pela manhã foram constantes.  Nada justificava já que eu tentava manter uma alimentação saudável embora por vezes fosse difícil.

Hoje ia sair com a Joana e o Tomás.  Íamos a uma feira de antiguidades que por cá há muitas.  Era sábado, então estava todo o mundo livre.

Já tinha vomitado logo quando acordei e  continuava indisposta.

- Amiga! Passamos ali no hospital primeiro para ver isso.  A feira é todo no dia,  se não formos de manhã vamos à tarde.

Seguimos para as urgências do hospital.   Felizmente não estava muita gente.
Depois de passar pela triagem aguardei cerca de meia hora.

- Juliette, gabinete 7.

A médica ainda jovem era bem simpática.   Expliquei os sintomas e ela pediu à enfermeira que fizesse a recolha de sangue para analisar.

- Juliette, por favor aguarde na sala de espera.  Quando chegar o resultado volto a chamá-la.

Aguardámos mais 45 minutos e fui chamada.

- A Juliette veio sózinha?

- Com 2 amigos.

- É casada?

- Não, solteiríssima.

- Lembra-se da data da última menstruação?

- Lembro não!  Eu nunca fui muito regular.  Vi que estava mais irregular e pouco fluxo mas achei que por conta de um stress que eu passei.

- Adoro essa vossa contradição.  Lembro não.   Ou lembra ou não lembra!

- Pois é!  Uma vez que é solteira não sei se a notícia é boa ou má.  A Juliette está grávida de quase 3 meses.

- Gráaaaavida!

- Sim. Não cogitou essa hipótese?

- Não.  Só fiz sexo uma vez e achei que não estava no período fértil.
Nesta altura já chorava.

- Calma! Acontece quando os períodos são irregulares.  E o pai?

- Está no Brasil.

- E mantêm contacto? 

- Não.  Eu vim para cá por causa dele.  Não demos certo.  Quer dizer, nunca iniciámos nada.   Eu gostei dele, acho que ele também, mas ele vive num mundo de muitos fantasmas.

- E não pretende contar?

- Talvez, não sei.  Estou confusa.

- Prepare-se.  Criar uma criança sózinha num País estranho não é fácil a menos que se tenha bons amigos.

- Mora aqui em Cascais.

- Sim. Ali no centro.

- Tem aqui o contacto de uma obstetra minha amiga.  Pode também marcar consulta de pré natal aqui no hospital.
Aliás, eu vou já fazer o pedido e depois da primeira consulta você opta por continuar aqui ou noutro lugar.
Já fez a inscrição no centro de saude da sua àrea de residência?

- Ainda não.

- Pois vá fazer que lá também será atendida por um obstetra ou outro colega.

- Muito obrigada, doutora.

Saí dali.  Era muita informação de uma vez só.

Cheguei ao pé dos meus amigos a chorar.

- Que foi Ju?

- Euuu,  euuu estou grávida!

- Gráaaaaaaavida? Soltaram os dois ao mesmo tempo.

- Sim.

Saímos dali e esquecemos a feira.  Precisava de assimilar tudo.

O Tomás pergunta: - É dele?

- Oh, Tomás!  E seria de quem?  Foi só uma vez.  Eu era virgem.

- Eita!  Foi um disparo bem dado.

- Idiota. Digo,  dando uma palmada no braço dele.

- E agora? O trabalho,  a faculdade.   Já era difícil, agora piorou.

- Amiga! Nós ajudamos.  Vais dizer ao pai?

- Acho que não.  Vou criá-lo sózinha.

- Pensa bem no assunto.  Não ajas
por impulso, disse a Joana.

Resolvemos almoçar à beira mar.  A maresia acalmava-me. 
Ao olhar o mar para a linha do horizonte senti-me transportada para o outro lado do Atlântico.   Tudo seria diferente com ele a meu lado.

Brasil

Eu tentava não pensar nela mas era totalmente impossível.  Bastava olhar para Lia que a imagem dela surgia logo na minha frente.

Eu sei que ela desembarcou em Lisboa, mas, será que ficou lá? Apanhou voo para outro local.
Como é que a vou achar num País diferente e sem referências.
Nem sequer tenho nenhum contacto lá a quem possa pedir ajuda.

Este e outros pensamentos povoaram os meus dias.   As noites tornaram-se difíceis. 

Deitado na minha cama passava todo o filme na minha cabeça.  Nós dois no riacho, no barzinho,  na nossa noite.  A primeira vez dela.  Sinto-me tão mal.
A vida continua.   Mergulhei no trabalho e nos shows.  As noitadas para mim são passado.
Nos momentos livres aproveito a companhia da Lia e sonho com uma menina minha.

Podia ser com ela se não tivesse sido um otário.   Mas a Lia dá-me a paz que eu preciso.  Todas as tardes eu reservava 2 horas para estar com a Lia e libertar a Lúcia.

Hoje iremos todos para a xácara.  Os meus pais comemoram mais um ano de casados e vamos comemorar.

Vão reunir-se algumas famílias amigas.

- Irmão! Sabes quem vai lá estar?

- A lambisgoia da Ruth.

- Ishiiii!  Acho que vou desistir de ir.

Não vais dar esse desgosto aos pais? A gente da um jeito.

A Ruth era filha de uns amigos dos nossos pais e outrora era obcecada por mim. Vivia aparecendo sempre em todos os lugares que eu ia.  Foi difícil livrar-me dela.

- A Lúcia também vai e leva a filha dela.  Vou combinar com ela para se passar por tua namorada, assim, aquela lá deixa-te  em paz.

- Coitada da menina! Deixa lá.  Eu dou um jeito.

Falei com a Lúcia e ela sorriu.

- Com o génio da minha filha, bota ela pra correr num instante e ainda sai de vítima.   Pode deixar, eu falo com ela.
Mas aviso já que provavelmente o Rodolffo sai de lá no mínimo com casamento marcado e pai de 2 filhos.

A minha Maria não dá mole quando o assunto é representar.  Não é à toa que ela cursa teatro.

Rimos as duas da situação e fomos preparar tudo para a partida.

Sétimo Sol Where stories live. Discover now