Capítulo 5

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Terminámos a conversa e cada um seguiu para o seu quarto.
Confesso que a má impressão que tive logo pela manhã desapareceu.  Ele parecia ser legal.
Vi que amava o seu trabalho e a música.

Eu não conhecia nada da música dele e como ele disse que já tinha discos gravados,  entrei no you tube e fui pesquisar.

Gostei.  Fiquei algum tempo ouvindo a sua música e adicionei algumas faixas na minha playlist.  Finalmente adormeci.

Os dias passavam, uns iguais aos outros.  Via Rodolffo de vez em quando sempre ao jantar.  Falávamos o indispensável.   Aquela conversa do primeiro dia nunca mais tivemos.  Fiquei com a impressão de que ele me evitava.

Alice voltou ao assunto da faculdade mas eu disse que por hora não queria. 

Dona Inês e seu Vicente resolveram ir morar para a xácara que a família tinha.  Diziam estar fartos da cidade e com saudades do campo.

A agitação da cidade era demais para eles.  Felizmente tinham condições de ir e vir quando quisessem.  Eram só 6 horas de distância.  Só tinham pena de estar longe da netinha mas Alice prometeu ir lá 2 vezes por mês.

Eu era só.  Viera para S. Paulo à procura de melhor vida.  Encontrei esta família que me acolheu e a quem sou muito grata.
Nunca fiz amizades.
Os meus sábados de folga eu ia até ao shopping ou ao cinema sempre sózinha.

Aos domingos eu preparava um lanchinho e com um livro logo pela manhã,  fazia o caminho pela mata até à minha piscina privada - como eu chamava ao poço - e por ali ficava  até ao final da tarde.
Uma toalha e um biquíni completavam a minha bagagem.

Estendia a toalha, colocava os phones e lia o livro.

A minha música passou a ser 80% a dele.

Apesar de não haver qualquer contacto entre nós - limitado a um bom dia, boa noite - eu estava sentindo algo mais.

Tentava afastar esses pensamentos mas, era de todo impossível.

.../...

Depois da nossa conversa naquela noite algo se modificou em mim.

Por diversas vezes me vi pensando naquela boca, naquele cabelo  enfim,  naquele corpo.

Não era possível.  As mulheres para mim sempre foram objecto de desejo.  Usar sem me apegar era o lema.  Nunca nenhuma me fez questionar se o que fazia era certo ou errado.

Mas ela fez.  E com uma rapidez que me assustou.   Decidi não manter contacto.  Apenas o cumprimento necessário e por educação. 

As saídas à quarta e sexta feira passaram a ser diárias.   Não queria estar no mesmo espaço que ela.  Estava a fazer-me mal.
Sabem! A ocasião faz o ladrão e eu não queria pagar para ver.

Ela parecia ser uma moça decente, não merecia que eu me aproveitasse.

Alice, percebeu tudo e questionou-me o porquê das saídas diárias.

- Arranjei uma namorada.  Essa vida de esbórnia acabou.

- Então traz ela aqui para nós conhecermos.

- Vai com calma, mana!  Ainda é cedo.  Acabei de conhecer.

Disfarcei mas, tenho a certeza de que a minha irmã não acreditou.

Um ano depois

Alice decidiu colocar a Lia no infantário.   As crianças precisam de outras crianças para se desenvolver.
A princípio fiquei apreensiva.   Bolas, vou ficar sem emprego,  pensei.

- Não te preocupes Ju.  A Lia só vai no período da manhã.   De tarde fica contigo.
- Aproveita e vai lá tratar da tua faculdade ou pensas que o assunto está esquecido?

- Era a altura ideal.  Faculdade de manhã,  a Lia à tarde e como ela dorme cedo, tinha um período da noite para estudar.

Assim fiz e corria tudo muito bem
Quer dizer: nem tudo.  Rodolffo continuava afastado.

Durante este ano se trocámos um bom dia ou boa noite por semana era muito.  Ao almoço comia no quarto e ao jantar estava sempre fora.
Supostamente com a namorada.

Alice contou-me da conversa deles.

Aquilo doeu muito.  Não que ele me devesse explicações mas cada dia gostava mais dele.

Os dois irmãos estavam conversando  sózinhos enquanto brincavam com Lia.  Aproximei-me para a ir buscar pois eram horas do banho e ouvi ele dizendo à irmã:

- Mana!  Estou a pensar mudar para o meu apartamento.

- Porquê?

- Porque está difícil viver no mesmo lugar que ela.

- Gostas da Ju?

- Muito.  Mas sabes o meu desapego com mulheres.  Não quero envolvê-la numa relação que sei não vai dar nada.  Ela não merece ser usada, mas também é difícil viver aqui e ignorá-la quando a minha vontade era agarrá-la e cobri-la de beijos.

- Mano!  Tens que te permitir ser feliz. - Quem sabe não é ela que vai fechar esse ciclo.  - Um dia vais querer uma família só tua.  - Quem sabe não seja a Ju a escolha certa?

Ao ouvir isto corri para o meu quarto com lágrimas escorrendo pela face.  No caminho tropecei em algo que fez barulho mas, não liguei.

Ouvimos um barulho, olhámos em direcção mas não vimos ninguém.
Eu desconfiei quem seja.

- Vou levar a Lia para a Ju dar banho.   Está na hora.

- Vai lá.  Adeus princesa! Faz tchau ao tio.

Eu fui e ele lá foi para a borga ou não.  Parece que ele ia para o apartamento dele.
Em tempos confidenciou-me que o mandou reformar.  Quanto às peguetes agora só nos motéis.

Bati no quarto da Ju e reparei nos olhos de choro.

- Ju! Dá banho nesta menina que está toda melada do pirulito que o tio teimou em dar.

- Dê cá a danadinha.  - Vamos tomar banho?  Ela logo estendeu os braços.

- Ju! Ouviste a nossa conversa por isso choraste?

- Ia buscar a Lia.  Foi sem querer.  Deixe pra lá.

- O meu irmão é difícil mas acredito que ele esteja sofrendo.  Foi muito magoado no passado e desde então bloqueia os sentimentos.
Creio que desta vez não está conseguindo.

- Já passou.  - vamos lá princesa, fazer bagunça.

Sorri com aquela cumplicidade entre as duas.
Gosto muito da Ju e do meu irmão.

Saí dali com um único pensamento.
Já vi que os dois são turrões.

Talvez se eu der um empurrão.











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Sétimo Sol Where stories live. Discover now