Capítulo 11

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Voltei para casa decidida a partir.

Encontrei a Alice que pela minha  cara já sabia que não vinha nada de bom.

- Vamos conversar.

Contei à Alice tudo o que aconteceu a partir da nossa primeira tentativa de transar.
Disse-lhe que amo muito o irmão dela mas não posso conviver com a indiferença dele.
Disse-lhe que vou embora mas levo no coração toda a família.   Vou ter muitas saudades de todos principalmente da minha princesinha.

- Vais para onde Ju?

- Muito longe.  Não digo para onde.  Tu és irmã dele e não quero que ele saiba.  Eu sei que se souberes não consegues esconder.
Não vou dizer o dia que vou.  Não quero despedidas.
Um dia chegarão e eu não estarei.

- Por favor não lhe digas que vou.  Eu não quero falar mais com ele.  Hoje foi muito insensível comigo.
Ele pode ter os problemas todos mas não lhe dá o direito de ser grosso.

- Vais dar notícias?

- Um dia eu vou querer saber de vós.   Quando este coração parar de chorar.  Vou acompanhar-te nas redes sociais.

Abracámo-nos e assim ficámos durante alguns minutos.

Subi para o meu quarto e chorei.

Quero ser forte ao pé dos outros mas sózinha permito-me chorar.

Passou uma semana.  Hoje era segunda-feira.  Tinha conseguido voo para Domingo pelas 11 horas.

Comuniquei ao Tomás.   Ele e a Joana estariam no aeroporto da Portela em Lisboa à minha espera.  O voo chegaria por volta das 22 horas pois faria escala em Londres.

Passei o resto da semana muito nervosa.  Eu ia deixar a minha família, a minha vida.

A Alice disse que se não desse certo podia voltar.   As portas estavam sempre abertas para mim.

No sábado arrumei a mala.  Não estava ninguém em casa.  Era um daqueles fins de semana sózinha.

Deixei alguma roupa separada para doação.   Os livros da faculdade também podiam ser entregues lá para quem tivesse necessidade.

Tinha comprado um presente para cada um daquela casa.

Fui separá-los e escrever a cartinha de despedida.

Lia

Meu amor.  Quando fores maiorzinha e souberes ler, fica sabendo que, por esse mundo fora há uma Ju que te amou e ama muito.  Usa esta correntinha com o sol para que ele seja sempre luz na tua vida

Alice

Minha irmã,  pois foste mais que isso.  Obrigada pelo acolhimento.  Espero um dia voltar a encontrar-te.
Quando usares esta pulseira lembra-te de mim com carinho.
Amo-te

Lúcia

Deixo-te esta imagem de Nossa Senhora de Fátima de quem sou devota, como apreço pelo teu carinho.
Cuida bem da minha Lia.
Adoro-te

Dona Inês e
Seu Vicente

Obrigada por tudo.  Esta medalhinha de N.S. de Fátima para cada um para que vos proteja e vos livre de todos os males.
Obrigada por me acolherem e acreditarem em mim.

Rodolffo

Tudo poderia ter sido diferente.  Eu tentei mas tu não facilitaste. Criaste uma barreira e não deixas ninguém ultrapassá-la. Espero que continues a fazer terapia e que um dia essas trevas que hoje povoam o teu coração se dissipem.
Ninguém consegue ser feliz assim.  Às vezes a vida prega partidas mas cabe  a nós dar a volta.   Eu perdi a pessoa que mais amava, a minha mãezinha e não foi por isso que me revoltei contra o mundo.
Encontrei na tua família muito amor.
Sou grata por tudo o que me deram só não consigo lidar com a tua indiferença.
Vou partir para longe mas apesar da distância tu estarás sempre no meu pensamento.
Vou partir porque, quem ama prefere a distância ao sofrimento do amado.
Amo-te e amei-te naquela noite que para ti pouco significou.  Foste o meu primeiro homem e durante muitos anos serás o único pois o meu coração está fechado
Deixo-te este colar com pingente de lua para que te lembres que mesmo na noite mais escura, se olhares para o céu ela está lá.  Linda, cheia ou não mas brilhante, rodeada de estrelinhas
e irradiando luz.
Amar-te-ei sempre

Terminei as cartas, coloquei tudo dentro dos envelopes com o nome respectivo e deixei na penteadeira da Alice.

Não consegui dormir nessa noite.

Levei uma manta para o exterior e passei a noite contemplando o lua, que, por sinal hoje estava mais iluminada.

O dia amanheceu.  Tomei o meu banho.  Arrumei o banheiro e o meu quarto e fui fazer o café.

Tomei o meu café com lágrimas nos olhos.  A garganta travava e não conseguia engolir.

Arrumei a cozinha, chamei um uber e parti.

Às 10 horas embarquei no avião que me levaria para longe.

Entrei, tomei o meu assento, olhei pela janela e chorei.


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