Capítulo 2

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Em S. Paulo, num condomínio privado viviam dona Inês e  seu Vicente.  Tinham dois filhos,  Alice e Rodolffo.

Alice era casada com Marcos e tinham uma filha com 1 ano de nome Lia.  Era professora de línguas em uma Universidade.  Tinha conseguido este ano a sua primeira colocação.

Rodolffo era engenheiro civil de profissão e  cantor de final de semana.  Até agora estava fácil conciliar as duas carreiras.

Rod, assim era chamado pelos amigos era um bom vivant.  Vivia rodeado de lindas mulheres de olho na fortuna da família e nos benefícios que lhes trazia qualquer aparição com ele.
Por sua vez ele usava e descartava fazendo questão de não se apegar.

Vivia com os pais e a irmã mas possuía um apartamento só dele para onde levava as peguetes.
Nunca as levava para a casa da família nem nunca apresentou nenhuma como namorada.

O lema era "pegando sem se apegar".

Trabalhava sózinho pois não queria prescindir da música.   Por vezes tinha um ou outro show durante a semana e o facto de trabalhar só permitia-lhe ajustar o trabalho ao tempo.  Era dono dele próprio,  no trabalho e na vida.

Juliette chegou a S. Paulo.   Durante a viagem pesquisou hoteis modestos onde se pudesse hospedar de acordo com o dinheiro que tinha.

Fez os cálculos e concluiu que só poderia ficar 15 dias.  As parcas economias que tinha junto com o dinheiro da venda dos bens não dariam para mais.  Teria que arranjar um emprego quanto antes.

Chegou ao hotel escolhido, fez o registo e subiu ao quarto.  Deitou-se
na cama e os seus pensamentos voaram para a sua mãe fazendo-a prometer não desistir dos sonhos.

- Não vou desistir mãe, mas estou com medo.   Não sei por onde começo.

Tomou um banho, descansou cerca de 1 hora e saiu.  Tinha que correr atrás.

Na portaria perguntou ao atendente se por acaso conhecia alguém que precisasse de uma empregada.

- Você quer trabalhar em quê?

- Qualquer coisa!  Hoteis, cafetarias, restaurantes, diarista, casa de família,  loja como atendente, repositora, o que tiver eu faço.

- Está certo.  O meu nome é Rui.  Se eu souber de algo eu digo dona Juliette.

- Pode tratar-me por Ju.  E muito obrigada.

Sai do hotel e já naquela rua entrei em tudo o que era estabelecimento.
Em todos a mesma resposta: de momento não precisamos de ninguém.   Deixe o seu contacto.

Andei durante 4 horas.  Fui anotando as ruas onde ia também para não me perder.

Antes de regressar ao hotel entrei numa cafetaria.  Não tinha almoçado.  Precisava de comer antes de dormir.  Saco vazio não fica em pé.

Na portaria ainda estava o Rui.  Ficámos a conversar um pouco.  Disse-me que era casado com 2 filhos de 3 e 5 anos.   Um casal.

Contei-lhe uma parte da minha história e da minha situação financeira.  Daí a necessidade urgente de um emprego.

Entrei no meu quarto cansada.  Tomei um banho e depressa apaguei.

Os dias iam e vinham e eu não via solução para a minha vida.

Eu tomava o café da manhã no hotel.  Estava incluso na diária.  Tentava comer bem pois geralmente não almoçava.  Por vezes levava uma peça ou duas de fruta do café da manhã.  Havia dias que não dava pois as frutas já estavam cortadas.  Não podia levar pão pois era intolerante ao gluten.

No meu quarto começaram a aparecer algumas frutas e bolachas de aveia.  Era o Rui que mandava pôr lá.  Ele sabia a minha situação.

Hoje na saída não era ele que estava na portaria.   Depois agradeço.

Já tinham passado 8 dias nesta busca por emprego e nada.

Desanimada ao final da tarde entro numa pastelaria, peço um café e uma sanduíche de queijo.
Olhei ao meu redor e nem me dei conta de que o local era tão chic.

Com certeza este café vai-me custar uma fortuna.   Na mesa ao lado da minha 2 senhorinhas na casa dos seus 45/50 anos conversavam.

- Amiga! Está tão difícil arranjar uma boa empregada.

- Mas, Inês!  Ainda não arranjaste?

- Tenho entrevistado muitas mas nenhuma me cativou.   A minha neta Lia é tão pequenina,  não a posso entregar nas mãos de qualquer uma.

A conversa aguçou os meus ouvidos. 
Será que falo ou não falo?  Pensei.

Que se exploda.  O não tenho garantido.

- Perdão, senhoras!  Desculpem mas eu ouvi a conversa de vocês e eu estou à procura de trabalho.   Nunca trabalhei com crianças mas gosto muito delas.   Preciso muito e urgentemente de um trabalho.

Pediram-me para me juntar a elas.
Pediram mais um café para elas e uma fatia de bolo de chocolate e também para mim.

Não precisa senhora disse dirijindo-me à que se chamava Inês.

- Eu insisto, diz ela.

- Conte-me a sua história pediu ela.  Como é o seu nome?

- Juliette, senhora, mas pode chamar-me só Ju.

Contei a minha história todinha sem omitir nada e no final reparei nos olhos marejados das duas.

- Que história triste, menina.

- Não.   Ela só é triste porque a minha mãezinha morreu.  Até aí nós éramos felizes mesmo com dificuldades.

- Olha! Diz dona Inês.  Eu gostei de ti.
Escreve aí o nome do hotel em que estás.   Amanhã mando um carro buscar-te e vais a minha casa.  Se a minha filha estiver de acordo ficas com o emprego.

- Sério!  Obrigada senhora Inês.

- Senhora não,  só Inês.

- Despedi-me e saí tão feliz dali que não fazem ideia.  E ainda pagaram o meu lanche.
Espero que a filha seja tão simpática como a mãe e goste de mim.

Entrei no hotel, abracei o Rui, agradeci as frutas e contei o acontecido.

No dia seguinte lá estava um senhor de meia idade para me buscar.

Cheguei ao condomínio deles e fiquei besta com tanto luxo.  Nunca tinha visto igual.

Inês apresentou-me Alice e conversámos as três durante 2 horas.  Falámos do trabalho mas também dos nossos sonhos.

Contei do meu sonho de ser arquitecta e Alice logo se dispôs a ajudar-me.

- Mais tarde eu penso nisso.  - Agora só preciso mesmo é de um emprego.

- E quando podes começar?

- Hoje mesmo se quizer.  Só preciso de buscar a minha roupa no hotel.

- Certo.  Vem, vou-te mostrar o teu quarto.  Trabalhas de segunda a sexta.  Sábado e Domingo eu estou em casa não preciso de ti.  Podes sair para onde quiseres.   Se eu precisar algum dia desses eu aviso e terás um pagamento extra.  De acordo?

- Sim.  Está muito bom.

- Então, estamos conversadas.  O salário é o que já falámos.  Agora vai com o nosso motorista buscar as tuas coisas.   Precisas de dinheiro para pagar o hotel?

- Não! Obrigada Alice.  Não tenho muito mas chega para isso e outras pequenas coisas.

- Então,  vai lá agora acertar tudo.

Estava felicíssima.  Deus afinal é bom, nós é que somos apressados.

Sétimo Sol Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon