Prólogo

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Jimin

8 de julho de 2004 — Seis anos de idade.

— Dessa vez vai ser diferente, Jimin, eu juro. Dessa vez é para sempre — prometeu papai enquanto estacionava em frente à casa de tijolos amarelos na esquina de uma rua em Mandeok-dong.

A futura esposa dele, Kim Doyeon, estava na varanda, observando nossa velha perua parar na entrada da garagem.

Mágico.

Foi mágico subir os degraus até a casa. Eu estava me mudando de uma casinha para um palácio. Papai e eu moramos a vida toda em um apartamento de dois quartos e, agora, estávamos nos mudando para uma casa de dois andares, com cinco quartos, sala de estar e uma cozinha do tamanho de Seul, dois banheiros e lavabo e uma sala de jantar de verdade — não uma sala de estar onde papai armava uma mesa dobrável todas as noites. Ele me disse que tinha até piscina no quintal. Uma piscina! No quintal!

Até então, eu morava só com uma pessoa; agora, estava me tornando parte de uma família. Mas isso não era novidade para mim. Desde que me entendo por gente, papai e eu fizemos parte de muitas famílias. A primeira, não conheci de verdade, pois minha mãe nos abandonou antes mesmo que eu aprendesse a falar. Ela conheceu alguém que a fazia se sentir mais amada, o que era difícil de acreditar. Papai dava a ela todo o seu amor, não importava o quanto isso custasse a ele. Depois que minha mãe foi embora, ele me deu uma caixa com fotos para que eu pudesse me lembrar dela, mas achei isso muito estranho. Como eu poderia me lembrar de uma mulher que nunca esteve ao meu lado? Depois dela, ele se apaixonou por algumas mulheres e, em geral, elas também se apaixonavam por ele. Entravam no nosso mundinho com todos os seus pertences, e papai me dizia que elas ficariam para sempre, mas o “para sempre” era mais curto do que ele esperava.

Dessa vez, era diferente.

Ele conheceu o amor da sua vida em uma sala de bate-papo. Papai teve sua cota de relacionamentos ruins depois que mamãe nos deixou, então achou que seria melhor tentar conhecer alguém pela internet. E funcionou. Doyeon tinha perdido o marido anos antes e não havia namorado ninguém até entrar na internet e conhecer o papai.

Diferentemente das outras vezes, papai e eu nos mudaríamos para a casa da Doyeon e dos filhos dela, não o contrário.

— Dessa vez é para sempre — sussurrei para ele.

Doyeon era bonita como as mulheres da TV. Papai e eu assistíamos à televisão enquanto jantávamos juntos, e eu sempre notava a beleza das pessoas. Doyeon parecia uma estrela de cinema. O cabelo dela era preto e comprido, e os olhos eram escuros e brilhantes, parecidos com os meus. As unhas estavam pintadas de nude, o batom vermelho vivo, e os cílios eram longos, espessos e fartos. Quando estacionamos na entrada da casa dela — da nossa casa —, ela nos aguardava ali, usando um lindo vestido branco e sapatos de salto amarelos.

— Ah, Jimin! — exclamou ela, correndo na minha direção e abrindo a porta do carro para poder me abraçar. — É tão bom finalmente conhecer você.

Ergui a sobrancelha, desconfiado, sem saber se deveria abraçá-la, mesmo que ela tivesse cheiro de coco e morango. Nunca soube que coco e morango combinavam até conhecê-la.
Olhei para o papai, que estava sorrindo para mim; ele assentiu, me incentivando a retribuir o gesto.

Ela me abraçou bem apertado e me levantou, me tirando do carro, tirando todo o ar dos meus pulmões, mas não reclamei. Fazia muito tempo que eu não era abraçado daquele jeito. A última vez provavelmente foi quando o vovô veio nos visitar.

— Vem. Vou te apresentar aos meus filhos. Primeiro vamos ao quarto do Taehyung. Vocês dois têm a mesma idade, então vão para a escola juntos. Ele está lá dentro com um amigo.

O Silêncio Das Águas | jikook version Where stories live. Discover now