Capítulo 31

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Jungkook

Meus pais e Junghyun disseram que eu ia ficar bem. Que tive muita sorte por ter saído do acidente com ferimentos superficiais. Superficiais — meu irmão escolheu muito mal as palavras e, quando se deu conta disso, se desculpou:

— Sinto muito, não quis dizer que não tinham importância, só quis... — Sua voz falhou. — Eu só estou feliz por você estar aqui com a gente.

Meus olhos pousaram na minha mão, que estava completamente enfaixada. Eu não tinha falado nada. As pessoas entravam e saíam do quarto, dando aquele sorriso que os adultos dão quando uma criança perde seu bichinho de estimação.

Patético.

Eu me sentia patético.

A banda veio e se sentou comigo por um tempo, e o ar ficou pesado com a culpa. O que magoava mais era que eles me lembravam da música. Eram um lembrete de tudo que eu tinha perdido em um piscar de olhos. Quando os empresários chegaram, quase perdi a paciência.

— Definimos um plano completo. A imprensa está enlouquecida. Precisamos de uma declaração —

Determinou Bang Sihyuk.

— Precisamos de um tempo — interveio Taehyung, sendo grosseiro com Bang Sihyuk. — Você está agindo como se o Jungkook não tivesse acabado de passar por um trauma sério.

— Mas ele sobreviveu — retrucou o homem, com um sorriso astuto. — E é essa a mensagem que queremos passar. E temos que mostrar como ele é forte e que vai voltar...

Voltar?

Eu me mexi e resmunguei.

Todos olharam para mim.

Horas antes, eu tinha sofrido um acidente, e agora eles estavam esperando uma recuperação milagrosa e a minha volta triunfal?

Bang Sihyuk franziu o cenho.

— Sabe o que mais? Acho melhor esperarmos um ou dois dias. Vamos dar um tempo.

Quando todos saíram do quarto, suspirei, sem nem saber por onde minha mente vagava. Parecia que eu ainda estava na água. Se fechasse os olhos, jurava que podia sentir as ondas.

A porta do quarto se abriu de novo, e desejei que ela tivesse permanecido fechada. Estava cansado de ver as pessoas, cansado de ouvi-las falar sobre o milagre que era eu estar vivo e como eu tive sorte.

Meu corpo se virou para a porta, e eu quase caí da cama.

Jimin.

Ele estava na porta do quarto, olhando para mim, com os braços em volta do corpo. Seus olhos estavam cansados e avermelhados, como se tivesse chorado por horas. O cabelo estava com uma touca. Ele nunca usava toucas.

Mas também nunca saía de casa.

Será que era um sonho?

Se fosse, eu esperava não acordar.

Abri a boca para perguntar o que estava acontecendo, mas senti a garganta queimar. Doía abrir a boca, mexer o braço esquerdo e virar para a direita. Doía respirar.

Ele me deu um sorriso triste e veio até a cabeceira da cama. Pegou a minha mão direita, deu um beijo na palma, e eu fechei os olhos. Tentei limpar a garganta para falar, mas ele apertou a minha mão uma vez, dizendo-me que não fizesse isso. Então fiquei ali, de olhos fechados, com Park Jimin segurando a minha mão.

* * *

Ele quase não saiu do meu quarto de hospital. Quando lhe ofereceram um quarto de visitante, como em um hotel, ele recusou, segurando a minha mão com mais força ainda. Ele se encolhia no pequeno sofá do quarto todas as noites e adormecia ali. Jimin sorria durante o dia, mas à noite, quando estava preso em seus sonhos, eu o observava se revirar no sono e, às vezes, acordar coberto de suor. Seus demônios não tinham sumido só porque ele tinha saído de casa — mas ele estava se esforçando ao máximo para mantê-los sob controle.

O Silêncio Das Águas | jikook version Where stories live. Discover now