Capítulo 23

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Jimin

8 de abril de 2026 — Vinte e oito anos de idade

Todas as noites, meus pais e eu jantávamos juntos. Eles mal se olhavam. Pareciam estranhos um para o outro.

Meu pai quase não contava mais piadas e, quando ia ao meu quarto, reclamava de como minha mãe estava sempre bebendo.

Era difícil acreditar que um dia eles tinham sido apaixonados um pelo outro. Era difícil imaginá-los dançando na sala.

Mesmo assim, jantávamos juntos todas as noites, ainda que sempre fosse constrangedor para todos nós. As noites de sexta-feira eram as minhas favoritas, porque, depois do jantar, Seokjin sempre me ligava por Skype.

Eu limpava o prato e corria para o quarto, ansioso para ligar o computador. Desde que se formou na faculdade, Seokjin está em uma jornada para conhecer o mundo. Começou com um mochilão pela Europa e Ásia, e não parou de viajar desde então. Já visitou vários lugares, descobriu todo tipo de cultura e testemunhou mais confeitos do que eu jamais poderia ter imaginado, em partes tão remotas do mundo que passavam quase despercebidas.
Ele estava em Bangkok, na Tailândia, quando me chamou pelo Skype naquela noite.

— Oi, mano! — cumprimentou. A conexão não estava tão boa quanto na semana anterior, mas ver o rosto dele, ainda que embaçado, me fazia feliz. — Você está bonito.

Sorri e digitei: Você também.

— Hoje fui ver Phra Phuttha Maha Suwana Patimakon. Aposto que pronunciei errado, porque, quando eu disse isso mais cedo, o guia turístico me falou que eu tinha acabado totalmente com o idioma, mas e daí? É aquele Buda dourado grandão, sabe? E é incrível. Ah! — Ele andou pelo quartinho do hostel e pegou um livro. — E comprei o seu primeiro livro da Tailândia! Não sei exatamente sobre o que é, mas acho que deve ser ótimo, se você souber ler em tailandês.

Sorri para meu irmão bobo. Sentia tanta saudade dele.

Seokjin ergueu uma sobrancelha.

— E aí, desde que parti você começou a falar e a xingar como um velho marujo?

Neguei com a cabeça.

— Um dia, quero que você abra os braços e grite o “foda-se” mais alto que alguém já gritou. Vai ser revigorante, eu acho.

Acho que não.

— Seria melhor se você fosse um pouco mais revoltado. Menos perfeito, sabe? Tipo, eu sei que você tem esse lance de ser mudo e não conseguir sair de casa, mas isso parece tão pequeno comparado a um homem solteiro viajando sozinho por esse mundo tão cheio de perigos... Você realmente faz com que seja muito difícil ser seu irmão.

Eu ri. Sinto muito.

Fiz faculdade a distância e me formei em Letras. Depois disso, me inscrevi em diversas faculdades que ofereciam mestrado a distância, mas não fui aceito em nenhuma. Meu currículo maravilhoso provavelmente não valia muita coisa, considerando que fiz pouca coisa na vida.

Há um ano, quando eu estava prestes a desistir, meu pai me convenceu a tentar uma inscrição para um mestrado em biblioteconomia e ciência da informação. Quando fui aceito no programa de ensino a distância, chorei.

Minha mãe disse que era perda de tempo e dinheiro. Meu pai disse que era um passo rumo ao meu final feliz.
Está tudo bem na faculdade. O semestre já está quase acabando, o que é bom.

— E você meio que paquera algum dos seus colegas nos grupos de discussão? — perguntou Seokjin com a voz aguda.

Revirei os olhos, mesmo sabendo que ele estava falando sério. Uma vez, ele tentou me convencer a conhecer alguém pela internet. Até fez o meu perfil em alguns sites de namoro.

O Silêncio Das Águas | jikook version Where stories live. Discover now