Capítulo 22

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Jimin

— Você está bem hoje, Jimin-ssi? — perguntou Jungkook na porta do quarto.

Ele foi proibido de ir à nossa casa na última semana. Como minha mãe não estava, presumi que meu pai o havia deixado entrar. Ela foi passar alguns dias com a irmã, a pedido do meu pai.
Fiquei feliz por ela sumir um pouco.

Ver Jungkook parado ali, encostado no batente, partiu o meu coração.

Como era possível?

Como era possível sentir saudade de uma pessoa que estava a apenas alguns passos?

Ele não me perguntou se podia entrar no quarto, como sempre fazia; ficou ali, com as mãos enfiadas nos bolsos.

— Vamos pegar o avião amanhã de manhã. Vamos nos encontrar com o produtor para falar sobre o nosso futuro.

Ele sorriu, mas seu rosto demonstrava contrariedade. Isso me entristeceu ainda mais do que eu achava possível. A música era o sonho dele, e esse sonho estava se tornando realidade.
Mesmo assim, ele parecia triste.

Estou muito orgulhoso de você.

Ele deu um riso abafado e olhou para o chão, fungando.

— O que está acontecendo, Park Jimin? O que se passa na sua cabeça?

Não sei.

Ele entrou no quarto.

— Você me ama?

Amo.

— Mas não quer ficar comigo.

Hesitei para escrever, porque sabia que as minhas palavras seriam confusas para ele. Eu não poderia ficar com Jungkook, principalmente agora. O sonho dele finalmente estava se tornando realidade, e a última coisa que ele precisava era que eu me intrometesse com os meus problemas.
Como poderíamos namorar, com os meus pais se afastando um do outro? Como poderíamos continuar apaixonados com ele do outro lado do país? Mesmo que eu odiasse admitir, minha mãe estava certa. Jungkook merecia mais que isso. Ele merecia ser amado a plenos pulmões, e o meu amor era um sussurro no vento, algo que, obviamente, só ele conseguia ouvir.

Ele pigarreou, como se o fato de eu não responder representasse as palavras que ele temia ouvir.

— Você me ama?

Amo.

Ele se virou de costas por um segundo para secar as lágrimas. Quando olhou para mim, deu um sorrisinho e veio na minha direção.

— Posso segurar a sua mão?

Eu as estendi a Jungkook, e, quando ele entrelaçou seus dedos nos meus, a sensação de estar em casa, em meu lar, passou pelo meu corpo. Um prédio com paredes não era um lar. Lar era o lugar onde vivia o tipo mais cálido de amor entre duas pessoas. Jungkook representava isso para mim.

Tive que me esforçar muito para não chorar.

— Sabe aquele momento em que você descobre uma nova música? Você pensa, não é nada demais, já ouvi um monte de músicas novas, e essa vai ser como todas as outras. Mas quando as primeiras notas chegam aos seus ouvidos e atravessam o seu corpo, você a sente nos ossos. Então chega o refrão, e você sabe. Você simplesmente sabe. Sabe que aquela música vai mudar a sua vida para sempre. Você nunca vai conseguir se lembrar da sua vida sem aquele ritmo, sem aquela letra, sem aqueles acordes. Quando a música acaba, você se apressa para tocá-la de novo e, a cada vez que ouve, ela parece melhor do que você se lembrava. Como isso é possível? Como as mesmas palavras podem ter diferentes significados a cada vez? Você a toca inúmeras vezes, até que ela fique impregnada, até que atravesse o seu corpo, se tornando a batida do seu coração.

O Silêncio Das Águas | jikook version Where stories live. Discover now