Capítulo 5

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Jimin

Minha mãe andava de um lado para o outro do quarto, retorcendo as mãos. Eu estava na beirada do colchão, ouvindo seus saltos batendo no piso de madeira. A cama era macia, como se eu estivesse sentado em um milhão de plumas, e era quase impossível não relaxar diante de tamanha maciez. Eu também estava cansado, então, foi uma péssima combinação. Meus olhos lutavam para permanecerem abertos, embora, ultimamente, fosse melhor sonhar do que continuar acordado. O único problema era que, às vezes, os sonhos se transformavam em pesadelos, e neles eu estava sempre me afogando.

— Você não fala há dias, Jimin — repreendeu-me mamãe. — Nenhuma palavra sequer. Seu pai e eu estamos assustados.

Seu cabelo passava dos ombros, e ela continuava penteando-os para trás da orelha. Quando não estava mexendo neles, suas unhas esmaltadas dançavam pelos braços, enterrando-se na pele.

A preocupação atormentava seu espírito, e ela continuava andando de um lado para o outro com rapidez. Eu queria que o papai estivesse em casa, não no trabalho. Normalmente, ele conseguia evitar que a mamãe tivesse ataques de pânico.

— O que aconteceu lá, Jimin? — perguntou ela. — O que você estava fazendo no bosque? Seu pai e eu falamos para você... pedimos que não saísse por aí.

Meus dedos se enterraram na lateral do colchão, e eu continuei com a cabeça abaixada.

— Já tinha passado da hora de você chegar em casa — sussurrou ela com a voz trêmula. — Eu implorei a você que voltasse antes que as luzes dos postes se acendessem, não é? — Ela começou a gaguejar, o que era estranho, porque mamãe era sempre muito controlada e falava muito bem. — Eu di-disse a vo-você. Vo-você não deve ficar na rua à noite, Jimin.

Meus lábios se abriram para falar, mas nenhuma palavra saiu. Mamãe se virou, e eu mordi o lábio inferior. Ela cruzou os braços e enfiou as mãos nas axilas antes de caminhar até mim.

Desviei o olhar.

— Olhe para mim, Jimin — ordenou ela.

Fiz que não com a cabeça.

Algumas lágrimas escorreram pelo meu rosto, e meu corpo estremeceu.

— Jimin, quando eu digo para olhar para mim, você tem que obedecer! — A voz dela estava tomada pelo pânico, como se temesse que seu filhinho tivesse sumido e nunca mais fosse voltar.

Talvez eu não volte. Quem sabe eu tenha mergulhado tão fundo na minha mente que nunca mais fosse me lembrar de como é sentir, sofrer, me machucar, respirar. Meus olhos ardiam por eu estar acordado há tanto tempo, mas isso não era nada perto da dor no meu peito. Ainda conseguia ouvir os gritos daquela mulher sendo atacada. Ainda conseguia vê-la lutando pela própria vida, e, no meu coração, ainda conseguia sentir o monstro junto à minha alma.

— Ah, querido! — exclamou mamãe, colocando os dedos sob o meu queixo e erguendo o meu rosto. — Me conte tudo o que aconteceu. O que houve naquele bosque?

Com o canto dos olhos, vi Taehyung e Jungkook no corredor, ouvindo a nossa conversa.

Estavam apoiados na parede e olhavam para nós. Os olhos de Jungkook eram os mais tristes que eu poderia imaginar. Taehyung tinha os punhos cerrados e os batia repetidamente na parede atrás de si. Mamãe seguiu o meu olhar e, quando os viu, os meninos saíram correndo. Mas eu tinha certeza de que não haviam ido muito longe. Aqueles dois não tinham saído do meu lado nos últimos dias.

Seokjin era o oposto. Parecia ter medo de chegar perto de mim. Agia como se eu tivesse alguma doença que ele poderia pegar só de olhar para mim. Outra noite, eu o ouvi chorando porque teve que faltar a uma apresentação de dança. E a culpa era minha, porque nossos pais não queriam sair do meu lado.

O Silêncio Das Águas | jikook version Where stories live. Discover now