Capítulo 33

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Jungkook

Eu estava morando em uma cidadezinha pequena. O lago ocupava a maior parte dela. Não havia muitas construções, a não ser a mercearia, uma escola, o posto de gasolina e uma biblioteca, os quais ficavam lado a lado, na margem do lago. Mas ficavam do lado oposto à cabana da Sra. Soojin, o que era ainda melhor. Isso fazia com que eu me sentisse ainda mais sozinho. Eu só ia até a cidade para comprar comida e, então, voltava para a cabana.

O único lugar que eu considerava digno de uma visita ficava na periferia da cidade — um bar.

Era uma espelunca.

Ninguém sabia que ele existia, o que o tornava perfeito para mim. Tinha uísque, dor e solidão emanando de suas paredes tranquilas.

Eu não tinha parado de ler os fóruns on-line a meu respeito. Nem de ver os fãs se voltarem contra mim, me taxando de viciado, me chamando de mentiroso e traidor. Eles acreditaram no que os tabloides noticiaram e me viraram as costas, como se eu não tivesse dado a eles o melhor de mim nos últimos dez anos.

Como se eu realmente fosse tudo de ruim que escreveram sobre mim.
Eu sabia que deveria parar de ler, mas não conseguia largar o celular nem o uísque. Os comentários daqueles que um dia disseram me amar magoavam mais do que deveriam.

Só substituam o drogado. Isso já foi feito antes!

Meu irmão morreu de alcoolismo. O fato de Jungkook ser tão descuidado é preocupante.

Espero que encontre ajuda em um centro de reabilitação.

Ele é uma desgraça para a música. Milhões teriam matado para ter a vida que ele tinha, e ele simplesmente a jogou fora.

Celebridade de merda. Mais uma história de fama subindo à cabeça.

Tipo, essa é a quinta vez que ele vai para a reabilitação. Talvez tenha chegado a hora de começarem a perceber que nada vai mudar.

Ele não vai nem chegar aos trinta anos, assim como todos os outros “grandes” artistas viciados.

Estiquei a mão para pegar mais uísque, as palavras se gravando na minha memória. Havia comentários de apoio também, mas, por algum motivo, eles pareciam falsos. Por que os comentários negativos de estranhos sempre magoavam mais?

— Acho que você já tomou o suficiente — censurou o garçom, com voz firme e um tom grave, ao tirar a garrafa do meu alcance.

Ele usava um bigode grosso e grisalho cheio de segredos, mentiras e migalhas de batata chips. Sempre que falava, o bigodão dançava sobre os lábios, e as palavras saíam pelo canto esquerdo da boca. O cabelo cacheado, comprido e também grisalho estava preso em um coque. O coque de um velho. Um cara que devia ter mais de setenta anos e, de alguma forma, parecia não ter problemas para manter a calma e a tranquilidade.

O completo oposto de mim.

Todas as manhãs e todas as noites, eu mentia para Jimin quando ele me enviava mensagens de texto.

Fechei os olhos e me esforcei para me lembrar do nome do garçom, nome esse que ele já havia me dito centenas de vezes durante as minhas bebedeiras.

Ultimamente, Chinhwa era a coisa mais próxima que eu tinha de um amigo. Eu me lembrei de quando o conheci, duas semanas antes, quando entrei neste bar. Eu estava um desastre. A primeira vez que ele me viu, sentei-me à mesa do canto do bar vazio com os ombros caídos.

Meus braços estavam cruzados sobre a mesa, a testa, apoiada nos antebraços, enquanto eu tentava impedir que as lembranças voltassem à minha mente. Ele não me fez perguntas. Simplesmente me trouxe uma garrafa de uísque e um copo com gelo naquela noite — e nas seguintes.

O Silêncio Das Águas | jikook version Where stories live. Discover now