Dons de Inari - Parte I

- 13 -

As seis garotas seguiram em fila indiana atrás de Mahira, mudas como estátuas. Edith estava ainda mais pálida do que o normal, o lábio inferior preso com firmeza entre os dentes. Sofia fechava o cortejo.

Seguiram pelo corredor oposto à abertura de arco que tinham atravessado anteriormente. Esta nova passagem conduzia até duas portas largas de madeira, que Mahira escancarou com um movimento amplo dos braços.

"Entrem e se acomodem."

Cora prendeu a respiração ao entrar no aposento. No entanto, o ambiente que viu não correspondia em nada às suas expectativas. O espaço era uma sala, ampla, rodeada de janelões imensos com uma bela vista para os jardins laterais. O chão era de tacos de madeira, lustrosos apesar da aparência antiga. Curiosamente, não havia mobília alguma, apenas um pequeno carrinho com um aparelho de chá encostado a um canto. Oito almofadas retas e coloridas estavam dispostas no chão.

Cora estava tão intrigada quanto as companheiras, hesitantes em adentrar o cômodo. Aquele local parecia mais uma sala de aula de dança, ou de teatro. Podia imaginar com facilidade um grupo de bailarinas alongando as pernas nos batentes das janelas.

"Vamos, achem seus lugares" a mulher repetiu.

Leonora, a garota alta e negra, tomou a iniciativa e sentou-se em uma das almofadas centrais. As demais a imitaram, até restarem apenas duas almofadas, ocupadas por Sofia e Mahira. Edith e Cora haviam escolhido lugares próximos uma da outra. Formavam uma espécie de círculo, embora houvesse um afastamento maior entre as iniciantes e suas tutoras.

"Muito bem" disse Mahira, um sorriso rápido atravessando seu semblante. "Em primeiro lugar, gostaria de ressaltar o quanto estamos felizes de tê-las aqui conosco. A partir de hoje, vocês tomam parte em nosso clã, estando sob a proteção de Kyubi Sama. Portanto, desejo-lhes oficialmente as boas-vindas."

Fez-se uma pequena pausa. Se Mahira estivesse esperando algum tipo de resposta teria uma grande decepção, pois as seis meninas continuavam imóveis. Mas a kitsune pareceu não se importar, continuando seu discurso:

"Saibam que não existem registros históricos sobre nenhuma iniciação em massa feita desta maneira. O que estamos fazendo aqui hoje faz parte de um objetivo muito maior. Imagino que todas conheçam as implicações por trás da substitiuição de uma líder Nove Caudas. Espero, portanto, que compreendam a extrema importância de levar o treinamento a sério e de dedicar-se de corpo e alma para alcançar a evolução."

Cora observou Sofia com o canto dos olhos. A loira abandonara pela primeira vez seu semblante amigável e encarava as novatas com a mesma expressão dura de Mahira. Pelo visto, todas as kitsunes estavam mesmo apostando suas fichas no sucesso daquele projeto.

"Sei que todas vocês possuem muitas perguntas, já que infelizmente somos obrigadas a manter nosso clã sob sigilo por questões de segurança. Por isso, o dia de hoje será dedicado apenas a fornecer respostas sobre quem somos e o que fazemos, bem como conhecer melhor cada uma de vocês."

Ao ouvir a última frase, Sofia levantou-se calmamente, dirigindo-se ao carrinho com o aparelho de chá. Empurrou-o para perto do grupo e começou a despejar o conteúdo do bule em oito xícaras iguais. As meninas se agitaram nas almofadas, sem compreender bem o que estava acontecendo. A própria Cora alternava o olhar entre as colegas e Mahira, que continuava impassível em seu lugar, as pernas dobradas e a coluna impecavelmente ereta. Quando Sofia terminou de distribuir as xícaras, guardando a última para si, a mulher de cabelos cinzentos tornou a falar:

"Claro que isso não significa que vamos perder a oportunidade de lhes ensinar algo. Vocês precisam conhecer seu verdadeiro eu, acostumar-se com a personificação do espírito de raposa. Este chá vai fazer com que fiquem relaxadas o suficiente para permitir que suas mentes vaguem em liberdade."