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Cora desceu para o café da manhã na Sugar Granny com o espírito renovado por aquele pequeno hábito quase esquecido. Sentou na mesinha do canto, sentindo-se em casa junto à vidraça com vista para a rua. As calçadas ainda estavam cobertas pela neblina e as pessoas passavam a seu lado com as mãos escondidas nos bolsos dos casacos. Ficou absorta por alguns minutos na observação dos pedestres.

"E aí, vai querer o que?" perguntou uma voz familiar.

Cora virou-se para olhar, incrédula. Ali estava Haru, parecendo completamente normal e à vontade com um avental preto sujo de farinha. Segurava um bloquinho improvisado e uma caneta, esperando pacientemente pelo pedido.

"Que foi?" ele voltou a perguntar, vendo que a menina ruiva permanecia parada ali de boca aberta. "Miss Maddie disse que Frank precisava de alguém para ajudar na loja. Pra ontem."

"Isso é tão estranho...são como duas realidades da minha vida colidindo" ela disse devagar.

"Ah, estou gostando dessa ideia de fazer pão, e é o melhor cargo para que eu fique de olho na sua missão. O único problema vai ser me acostumar com o horário de acordar... Cheguei aqui ainda dormindo no banco de trás do carro de Frank."

"Você tá morando com o Frank?" Cora arregalou os olhos, debruçando-se sobre a mesa.

"Se você mora com a confeiteira, porque não posso morar com o padeiro?" ele riu. "Frank me ofereceu um quartinho no apartamento dele quando eu falei que ainda não tinha onde ficar. São pessoas muito boas, ele e Miss Maddie."

"Sei disso."

"E aí" ele coçou a nuca "Vai fazer seu pedido ou não?"

Cora suspirou, meneando a cabeça e finalmente soltando o riso.

"Tudo bem, vamos testar o seu talento."

Mal havia despachado Haru com seu pedido quando a campainha da Confeitaria soou com a entrada de um novo cliente. O rapaz era alto e parecia aliviado em deixar a calçada varrida pelo vento. Esfregou as mangas do casaco para livrar-se da umidade antes de fechar a porta e virar. Ele tinha cabelos cor de trigo e os olhos arregalados de espanto:

"Cora?"

"Marco?" Cora gaguejou, tão surpresa quanto o próprio. Em sua confusão, acabou disparando sem pensar: "O que você está fazendo aqui?"

O rapaz riu, coçando a nuca. Continuava charmoso.

"Eu que devia fazer essa pergunta!" disse ele, adiantando-se para abraçá-la. Cora, ainda um pouco atordoada, retribuiu o gesto e o convidou a dividir sua mesa.

Marco sentou-se de frente para ela, apoiando os cotovelos no tampo de vidro, parecendo fascinado.

"Uau...você tá..." ele olhava descaradamente para as roupas caríssimas que Meia Pata havia enviado. "Esquece. E aí, tava pretendendo esconder por quanto tempo dos seus amigos que voltou?"

O tom de Marco era mais divertido do que acusatório, e por isso ela riu.

"Eu cheguei ontem, estava morta de cansada. E perdi meu celular, não sabia o número de ninguém decorado."

"Até porque email e internet são coisas que não existem, né?"

Ela se encolheu, olhando para baixo timidamente. As bochechas ficaram mais rosadas.

"Deixa pra lá, você precisava do seu tempo" ele disse. "Tudo bem."

"Você não me respondeu o que estava fazendo aqui" Cora enrolou uma mecha ruiva entre os dedos.

"Comecei a vir tomar café da manhã aqui, depois que você viajou. Meu objetivo era descobrir se havia alguma notícia sua. Se você fosse entrar em contato com alguém, seria Miss Maddie."

Dons de Inari - Parte IWhere stories live. Discover now