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Ela fez uma varredura apressada do salão de baile. Era enorme, suntuoso e não muito bem iluminado, projetando sombras amareladas e hipnóticas pelas paredes creme.

Os convidados andavam de um lado para outro, cumprimentando e reforçando seus interesses políticos e empresariais. Mesinhas altas com bancos de ferro e jarrinhos de flores criavam a composição da festa, enquanto garçons impecavelmente vestidos deslizavam pela multidão de convidados, distribuindo bebidas caras e canapés sem gosto.

A garota ajeitou o vestido. A peça era perolada, quase no mesmo tom de sua pele, leve e um pouco transparente na altura do colo. A saia comprida e volumosa caía até o chão, revelando um rasgo reto que deixava à mostra saltos altos em formato de sapatilhas de balé. Ela estava mesmo parecendo uma bailarina. O cabelo acobreado se destacava contra o tecido pastel, preso num coque despojado. Leonora havia cuidado de sua maquiagem, elegante porém discreta.

Cora pisou no salão ao lado de Edith. A amiga usava um vestido azul escuro leve, porém muito bonito. Era engraçado vê-la usando algo tão elaborado, mas a roupa lhe caía muito bem. Edith parecia alguém do mundo da moda, com sua postura impecável e nariz empinado. Cora imaginou que se Linda estivesse lá, estaria orgulhosa de suas pupilas.

Numa situação normal, Cora estaria tremendo como vara verde. Não era acostumada a se portar em situações como aquela, ou usar roupas tão extravagantes, ou ser o centro das atenções. Porém, agora que possuíam uma meta, um plano, Cora sentia que não estava vivendo a realidade. Estava vivendo um papel, um disfarce. A mulher que as pessoas viam e julgavam não era ela, e foi ficando fácil fingir ser aquela outra Cora, sofisticada e ambiciosa.

Andou por toda a festa cumprimentando diretores, elogiando vestidos e tentando se destacar o máximo possível. Identificou Leonora na periferia do salão, deslumbrante em um vestido verde. A garota piscou discretamente para ela: sua equipe estava à postos.

Porém, nem sinal de sua presa. George Persson, como toda boa estrela de festa, só apareceria quando houvesse audiência suficiente para vê-lo chegar.

Cora caminhou devagar até um dos balcões de madeira onde as tábuas de frios eram servidas. Foi quando alguém a puxou pelo braço, obrigando-a a virar.

"Você não pode estar falando sério!"

O coração de Cora falhou por uma batida. Haru estava de pé à sua frente, roupa social sem paletó e cabelos soltos. Estava todo bagunçado, como se tivesse vindo correndo para a festa. Parecia muito contrariado. O que diabos ele estava fazendo lá?

"Como entrou aqui?"

"Pela porta da frente segurando um convite é que não foi. Estou aqui para fazer você desistir dessa palhaçada toda."

"Fazemos o que precisa ser feito" ela respondeu com firmeza, embora sua concentração estivesse por um fio."

"Mas para tudo nessa vida existem limites!"

"Eu posso fazer isso, você não vai me impedir. É por Franchesca!"

"Cora..." ele agora suplicava, tentando ganhar terreno com uma abordagem mais mansa. "Não pode fazer isso com você mesma. Não vale a pena! Franchesca entenderia. Podemos encontrar outras formas..."

"Essa é a nossa melhor chance. Planejamos isso há dias!"

"Que se dane! Como você espera que eu assista a tudo isso?" Haru a confrontou, visivelmente desconfortável "Ele vai se aproveitar de você, ele vai..."

Cora não deixou que terminasse. Ela também estava com medo do que George faria com ela. Por dentro, sangrava ao pensar na dor que estaria causando, não só a si mesma como também ao garoto encolhido à sua frente. Se pudesse escolher, abandonaria tudo. Queria que Haru a levasse para casa, queria poder dizer a ele o que estava sentindo.

Dons de Inari - Parte IWhere stories live. Discover now