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As coisas aconteceram muito rápido na mente de Cora. 

O alívio por saber que Amaya não estava correndo nenhum risco, o respeito pela colega que havia conquistado sua cauda de iniciação, o olhar de assombro no rosto das outras iniciadas.

Mahira e Sofia levaram Amaya para dentro com todo o cuidado, como se a menina fosse a coisa mais preciosa que já pisara ali. Fergus a carregava no colo, enquanto os seguranças dispersavam o aglomerado de expectadores e voltavam a seus postos.

O segurança que prestara socorro lhe dera tapinhas gentis nas costas. Disse que tudo estava bem e depois se juntou aos outros.

Cora permaneceu em pé junto à caminhonete, incapaz de se mexer agora que a adrenalina abandonava seu corpo. O susto vinha aos poucos.

Sentiu duas mãos envolverem seus ombros com delicadeza.

"Vem, Cora, vem tomar um pouco de água" Haru sussurrou em seu ouvido.

Seguiram para a sala de jantar, onde ele a colocou sentada numa cadeira antes de sair para a cozinha. Edith e as demais garotas seguiram logo atrás, espalhando-se pela mesa. Logo Haru estava de volta, com uma jarrona dágua e uma pilha de copos numa bandeja de prata. 

"Melhor?" ele perguntou, assim que o copo ficou vazio.

Cora fez que sim com a cabeça.

Antes que percebesse, estava recontando a conversa com Amaya, descrevendo o momento em que a menina caíra em convulsão. Falar era bom, fazia com que se recuperasse mais rápido. Quando terminou a história, já se sentia quase a mesma de antes.

Agora, sentada ali entre Haru e as amigas, seu cérebro voltava a registrar os acontecimentos com clareza.

"Então isso é ganhar uma cauda" disse Edith, coçando a testa. "Por isso que não nos contavam nada. Quem iria querer ganhar uma?"

"Pelo que sei, é diferente para cada uma de vocês" explicou Haru, atraindo o olhar de todas as garotas. "Cada kitsune reage de um jeito, e cada cauda é uma experiência diferente. Só que até então eu achava que isso era modo de falar, uma coisa mais espiritual. Não sabia que 'reagir' era a palavra literal para a coisa."

"Cora disse que você está com as kitsunes há um bom tempo" disse Amelia. "Nunca viu nenhuma ganhar uma cauda?"

Haru trocou olhares com Cora, analisando a expressão da menina. Pelo que entendera do contexto da pergunta, a ruiva não chegara a revelar sua origem às amigas. Elas não faziam ideia de que, na verdade, ele convivia com kitsunes desde que nascera.

"Não, nunca" respondeu. "É uma coisa rara de se ver, a maioria das raposas gasta anos para conseguir. E geralmente é algo pessoal, no máximo compartilhado com a raposa que a iniciou. Ver o que aconteceu com Amaya só foi possível por causa desse treinamento completamente fora de padrão que estamos fazendo."

Ficaram em silêncio por algum tempo.

"Depois de tudo, chego a ficar até com uma pontada de remorso por Amaya" comentou Eloise. "Mas aí lembro de como ela vai ficar se sentindo superior com duas caudas e o remorso passa rápido."

Todos riram.

"Ela já era assim antes de você trazê-la pra cá, Haru?" continuou a menina loira, com um sorrisinho maldoso.

Ele encontrou o olhar de Cora de novo.

"Bem, Amaya me pareceu muito dedicada, ficou feliz por ter sido escolhida. E ela é simpática comigo..." limitou-se a dizer.

"Me pergunto o que vai ser dela agora" falou Cora. "Depois da mansão, quero dizer. Para onde vamos depois da segunda cauda?"

O garoto deu de ombros. Também não fazia ideia.

Dons de Inari - Parte IWhere stories live. Discover now