Capítulo 10

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29 de dezembro de 2015 – 16h05min

Abri os meus olhos muito lentamente, sendo que os mesmos me pesavam e a minha cabeça latejava. Ao constatar que o local onde me encontrava era tão claro, voltei a fechar os olhos e a abri-los em seguida, tentando, de alguma forma, habituar-me à claridade. Mexo as minhas mãos, sentindo alguma coisa enfiada numa dela, enquanto constatava, também, que estava deitada em algo macio e confortável. Mexo a minha cabeça lentamente, obrigando-me a descer o meu olhar do teto para o resto da divisão. Estava num quarto de hospital. Podia saber isso pelo facto de ouvir uma máquina ao meu lado que pronunciava o mesmo Bip de sempre. Ergui lentamente uma das minhas mãos e olhei para o pequeno adesivo que tapava e protegia a agulha que estava enfiada nas costas da minha mão pálida.

Enquanto me tento lembrar do motivo por ali estar internada, sendo que nunca tinha sido antes, o meu olhar vagueou pelo resto do quarto. A parede ao meu lado é repleta de janelas, que davam toda aquela claridade ao quarto, e ao meu lado, para além da máquina que mede os meus batimentos cardíacos e que eu não sei qual é a necessidade disso, tem uma pequena mesa com algumas coisas que não sei identificar para além do copo de água.

Observo a pequena televisão pendurada na parede à minha frente. Está ligada e está alguma equipa de futebol a jogar, mas também não me preocupo em perceber qual é, já que um barulho do outro lado me chamou a atenção.

Ao obrigar o meu pescoço a voltar a rodar a minha cabeça, sinto uma leve dor no mesmo e no meu couro cabeludo, obrigando-me a soltar um pequeno gemido. Os meus olhos caiem no Enzo. O sofá onde ele está sentado parece confortável e os olhos do meu noivo estão fechados, o que indica que talvez tenha adormecido e ficado ali durante toda a noite.

Voltam a vir imagens da noite anterior à memória e o meu coração começa a bater freneticamente. Lembrar-me das mãos daquele homem em mim, a tentarem estrangular-me e a pegarem no meu cabelo com tanta força, faz com que o meu peito doa e as minhas mãos comecem a suar. Volto a gemer e fecho os olhos. Mesmo que me esteja a sentir segura ali, o medo de voltar àquela noite é maior que qualquer outra coisa.

Enzo levantou-se rapidamente, ainda meio zonzo, e aproximou-se de mim a passos largos e assustado, após ter ouvido o meu gemido. O seu cabelo negro não estava arranjado como sempre, mas, sim, totalmente desorganizado. E a sua camisa branca estava enrodilhada e fora das calças.

A sua mão procurou a minha, aquela que não tinha qualquer agulha espetada com o soro, e segurou-a delicadamente.

- Hey! Como te sentes? – O seu olhar preocupado ficou pouco tempo conectado ao meu.

- Podes dar-me água, por favor? – Questiono, esperando que ele voltasse a dirigir o seu olhar ao meu, o que foi uma perda de tempo.

- Claro... - Murmurou e largou a minha mão. – Cuidado. – Falou e, pegando no comando da cama, elevou a cabeceira daquela cama, deixando-me sentada. Logo deu a volta à cama e pegou no copo com água que tinha sobre a mesa ao meu lado, ajudando-me a beber.

O meu coração ainda estava acelerado, mas sentia-me um pouco mais calma que há alguns minutos.

- Vou chamar o médico, okay? – Assenti, após ter-lhe dado o copo vazio para a mão e o mesmo ter sido pousado de volta na mesa.

Pouco tempo depois, Enzo voltou a entrar, mas desta vez acompanhado de um médico. O homem aparentava ter pouco mais de quarenta anos. Os seus cabelos eram escuros, assim como os seus olhos, e era alto.

- Olá Lia. Eu sou o Dr. Gerónimo e estou a acompanhar o teu estado aqui no hospital. – Murmurou calmamente, exibindo um sorriso amigável e calmo. Logo o homem pegou numa palete que estava pendurada na minha cama e olhou-a calmamente. – Lembraste do que aconteceu na noite passada?

- Sim... Mais ou menos. – Murmuro um pouco nervosa, observando cada um dos seus movimentos.

- E sentes dor em alguma parte do teu corpo? – O seu olhar voltou a cair em mim e eu abanei a cabeça com cuidado, em afirmação. – Onde?

- Dói-me o pescoço, a cabeça... - Engulo em seco. – O peito e o tornozelo, também me doem.

- Okay. Eu acho que não será necessário explicar-te o porquê de te doer o couro cabeludo e o pescoço, certo? Tens alguns hematomas no teu peito e barriga, e deslocaste o tornozelo, talvez quando caíste no chão. – Murmurou calmamente, pousando a palete de volta na cama e caminhou até mim. – O que eu tenho a dizer é que tu vais voltar a recuperar e o melhor é fazeres uma participação na polícia. Eu já falei com o teu noivo sobre isso. E, talvez, falares com alguém acerca do que se passou te fará bem. – As suas palavras ficaram enfiadas no meu cérebro e nunca mais queriam sair de lá. Eu precisava mesmo de conversar com alguém acerca do que se passou?

- Quando é que ela pode ir para casa? – Enzo fala, interrompendo o silêncio que se fizera alguns segundos depois.

- Bem, o caso não é grave, mas convém ficar mais este dia em observação e amanhã dou-lhe a alta. – O Dr. Gerónimo fala, olhando para Enzo e logo dá a volta à cama. Clicou no botão vermelho que chamava alguma enfermeira e trocou o meu soro. Logo uma mulher baixa e simpática entrou no quarto e ajudou a desligar alguns aparelhos que já não eram necessários.

Assim que fiquei sozinha com Enzo no quarto, o meu olhar caiu nele, que ainda mal me encarava.

- Vais contar-me o que se passou, certo? Porque, independentemente do que ele possa ter a ver contigo, porque eu sei que tem, eu vou fazer participação dele. – Sussurro.

O meu noivo subiu o seu olhar, assim que se voltou a sentar no sofá ao lado da cama onde eu estava deitada, e suspirou.

- O homem que te atacou chama-se Robert Luche, Lia.

- E por quê que ele disse coisas tão horríveis? O que ele quer de mim, Enzo? O que é que ele quer de ti? – Sinto os meus olhos inundados e olho para o teto, para que consiga impedir que as lágrimas caiem.

- Digamos que ele é como um rival nos meus negócios, okay? Ele apenas usou-te para me atingir.

Fungo rapidamente e volto a abrir os meus olhos. Enzo levanta-se do sofá e leva as suas mãos ao meu rosto.

- Ele não sabe o erro que acabou de cometer, Lia. Eu não vou deixar passar isto. Ele vai-se arrepender de te ter tocado.

- Sempre que fecho os olhos é como se sentisse, de novo, os meus cabelos a serem puxados e a sua mão a sufocar-me. – Sussurro, acabando por deixar que as lágrimas seguissem o seu caminho pelo meu rosto a baixo. – Eu tenho medo, Enzo.

Sinto as suas mãos a acariciarem as minhas bochechas e algum tempo depois consigo acalmar-me.

- Eu prometo que ele não vai mais tocar-te. Tu estás em segurança agora.

Eu voltei a fechar os meus olhos e senti os seus lábios na minha testa. Eu acreditei nele, nas suas palavras e no seu olhar que até há pouco fugia do meu. Talvez com medo de ver o meu estado ou o que eu sentia realmente: medo, medo do que poderia estar por vir e medo porque, afinal, este casamento tinha muito mais a esconder do que eu realmente pensava que teria.


O Meu GangsterOnde histórias criam vida. Descubra agora