Capítulo 22

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Lia 

Enzo conduzia atentamente enquanto eu observava as paisagens por onde íamos passando de carro através da janela do mesmo. A única coisa que se ouvia era a música que estava a dar na rádio: Ocean Drive de Duke Dumont; e por acaso estava-me a deixar de tal facto viciada na mesma que comecei a cantar o refrão. 

Admito que não tenho lá grande jeito para cantar, mas a música envolveu-me de tal maneira que nem reparei que Enzo me observava de vez em quando e até se riu quando o apanhei a fazê-lo. 

- Tu és boa em tudo, menos em cantar. - O desgraçado falou com deboche. 

Olhei-o semicerrando os olhos, ele estava-me a provocar?

- Ai não? Então deixa vir outra música e tu vês se não canto bem... - Cruzo os meus braços olhando-o com um sorriso de lado. 

- Okay, quero ver isso! - Sorriu quando me olhou e voltou a olhar para a estrada. 

Então a música acaba e logo outra começou a tocar, e era uma das minhas favoritas, Take Me To Church de Hozier. Assim que chegou o refrão comecei logo a cantar um pouco mais alto:


Take me to church (Leva-me à igreja)

I'll worship like a dog at the shrine of your lies (Louvarei as tuas mentiras como um cão no santuário) 

I'll tell you my sins  (Vou-te  confessar os meus pecados)

So you can sharpen your knife  (Assim podes afiar a tua faca)

Offer me that deathless death  (E oferecer-me essa morte imortal)

Good God, let me give you my life (Bom Deus, deixa-me dar-te a minha vida)


Acho que nunca tinha desafinado tanto na minha vida, pois nem consegui acabar de cantar devido à gargalhada que Enzo deu. Claro que não aguentei e acabei por me rir muito. Afinal ele tem razão, eu não sou boa a cantar. 

- Eu pensei que poderias desafinar um pouquinho, mas nunca pensei que fosses desafinar tanto. - Enzo falou assim que acalmámos um pouco as nossas gargalhadas. 

- Eu daria uma boa cantora. - Murmurei olhando-o. 

- Não... Darias uma destruidora de tímpanos. - Brincou rindo-se.

- És um parvo! - Volto a cruzar os braços revirando os olhos de seguida. 

Sinto a sua mão possessiva sobre a minha perna descoberta devido ao vestido que usava e sorri de lado.

-  Posso apostar que acabaste de me revirar os olhos. - Murmura e desvia o seu olhar da estrada na minha direção.

- Nem precisas de ter dúvidas... - Murmuro e sinto o seu olhar a escurecer, como se algo estivesse a congelar no seu interior, mas ao mesmo tempo a pegar fogo. Tenho a certeza que os seus olhos sempre serão um mistério para mim. - Olha para a estrada, que eu quero chegar inteira. - Pisquei-lhe o olho.

- Agora dás ordens? - Murmurou calmamente e voltou a olhar em frente mas sem deixar a sua mão sair da minha perna.

- Depende de como levares as minhas palavras. - Murmurei e peguei na sua grande mão e entrelacei os nossos dedos. Ficamos assim, na mesma posição, até chegarmos ao Porto. 

Enzo estacionou num parque, perto do centro e logo saímos do carro. Tudo estava perfeito! Eu adorava passear por todas aquelas ruas, principalmente no centro, perto da estação de comboios, da camara municipal, perto do rio... visitar todas aquelas lojas, andar por ruas estreitas, visitar parques, andar de metro... tanta coisa, tantas paisagens... tudo maravilhoso. 

E o que me cativava ainda mais eram os edificios. Maior parte, ou tudo até, eram antigos e rústicos. Eu sempre tinha o hábito de tirar fotografias às suas decorações e até mesmo às pessoas sem elas repararem. 

Também gostava imenso de assistir aos artistas de rua. Lembro-me de uma vez, já há bastante tempo, talvez tivesse 10 anos, quando passeava pelas ruas de Porto juntamente com a minha turma da primária em direção ao teatro, e passamos por um pintor. Ele estava a fazer uma pintura de uma rua e eu fiquei tão admirada com aquilo, que lhe pedi se eu podia pintar um bocado. Eu sei, é loucura e além demais eu não conhecia o homem de lado nenhum e era uma criança. Mas o homem ficou tão feliz que me deixou pintar e ofereceu-me um pincel, ainda me lembro das suas palavras: Com este pincel podes criar o que tu quiseres! Cria o teu mundo imaginário e os teus sonhos. A arte é o alimento da alma, aliás, temo a arte para não morrer da verdade! 

Ao início eu não tinha entendido bem o que o senhor me tinha dito, mas com o tempo fui percebendo a importância das suas palavras. Foi a partir de esse dia que ganhei o gosto por desenho e pintura. O meu passatempo favorito era desenhar ou ler, e no secundário entrei para um curso de artes com a intenção de seguir o ensino superior, já que acabei com média de 19 e tinha entrada para qualquer universidade e com bolsa de estudo. Mas o meu destino já estava marcado, e apesar de estar um pouco triste com isso, eu estava bem ao lado de Enzo, mas talvez mais tarde eu lhe pedisse para poder seguir estudos. 

- Lia? - Ouço a voz de Enzo fazendo com que saísse dos meus pensamentos e o olhasse. Estavamos em frente à Camara Municipal do Porto, de mão dada e quase nem tinha reparado. Olho-o. - Estás bem? - Vejo-o a arquear uma sobrancelha na minha direção e assenti.

- Sim, apenas perdi-me nos meus pensamentos. - Murmurei calmamente.

- Em que estás a pensar? - Ele coloca-se à minha frente e leva as suas mãos ao meu rosto acariciando-o. Olho os seus olhos com atenção.

- Nada demais... 

- Está mesmo tudo bem? - Murmurou.

- Sim. - Sorri de leve fazendo-o sorrir também. Deu-me alguns beijos pelo rosto até chegar aos meus lábios. 

Já sentia saudades dos seus lábios carnudos. Era uma necessidade na minha vida, beijá-lo. Um tipo de droga. Pouco depois voltamos a afastar-nos e dei-lhe a mão de novo. 

- Vamos lá explorar esta linda cidade! - Murmurei encantada olhando em volta. 

Era um dia de semana normal, e mesmo assim ainda tinha muita gente nas ruas, mas o trânsito até estava calmo e isso era bastante agradável para quem quer passear.

Passear pelo Porto é como explorar Veneza sem mapa, só que a diferença é que nós já conhecíamos maior parte das ruas, mas estávamos a matar saudades daquela maravilhosa cidade.

Passamos por algumas lojas e Enzo até insistiu em dar-me algumas coisas, mas eu não aceitei nada. Só o preço assinalado nas etiquetas já me assustavam e não podia me dar ao luxo de o fazer comprar aquilo. Aliás, já me bastava ir às compras com a Gabi e a Katy e também receber prendas de Enzo quase todas as semanas, então fazê-lo comprar aquilo estava fora de questão.

Ao passear-mos perto do rio Douro aproveitamos e tiramos algumas fotos juntos. Mais tarde fomos ao starbucks e pedi um Exclusivo Chocolate Quente com Avelã e Enzo pediu um Café Americano. 

Ás 19 horas foi quando entramos no carro. O sol já se tinha posto e a noite começara.

Olhei uma última vez em redor e um sorriso crescera no meu rosto ao pensar em como aquela cidade mudava constantemente o sentido da vida das pessoas.


O Meu GangsterWhere stories live. Discover now