Capítulo 29

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Panic! At The Disco - The End Of All Things 


'' Deixa-me calar-te com um beijo que te faça a alma gritar '' - Raul Minh'alma 

Lia

A manhã de sábado realiza-se normalmente. Preparei o pequeno-almoço para nós dois e logo fomos visitar a capital de Portugal.

Lisboa tinha bastantes monumentos que nos reflectia sobre a grande história de Portugal. Eram todos locais importantes da sua história. Visitamos os que conseguimos, na parte da manhã, e almoçamos num restaurante comum, nada luxuoso como eu esperava que o Enzo gostasse de visitar. Prefiro restaurantes como estes, onde o que importa é mesmo comer bem e pagar por o que comemos. Um restaurante simples, onde tem turistas de todos os lados e pessoas normais que estão mais preocupadas com o que irão fazer a seguir do que invejar os outros. Este era um restaurante ao qual eu estava habituada a ir e que nunca me cansaria.

Na parte na tarde visitámos mais alguns monumentos, alguns parques e vimos mais algumas estátuas. Visitamos o porto de Lisboa, onde avistamos uma grande quantidade de pescadores prontos para partir para o seu único sustento, e outros a chegar carregados. Noutra parte avistámos os barcos mais luxuosos, onde só quem tinha bastante dinheiro poderia manter um iate e passar férias no mesmo.

Apesar de ainda ser inverno podia-se sentir as mudanças de temperatura, já que faltavam poucos dias para o dia 21 de março que é quando se inicia a primavera. Por isso, já não era necessário andar-mos com bastantes roupas, já que as brisas geladas já se tinham passado e agora havia mais sol e temperaturas um pouco mais altas.

Eu não preferia o inverno mais do que o verão, aliás, eu gosto de qualquer estação do ano, por isso é me indiferente se está calor ou frio, mas claro que depois de tanta chuva e frio, uma pessoa fica a desejar rapidamente o calor.

Sentámo-nos num dos vários bancos que havia naquele parque, com vista para a linda paisagem do mar e da zona balnear totalmente vazia. As ondas estavam calmas e era pouco o vento que se poderia sentir. Estava encantada com aquela vista. Não era todos os dias que eu tinha oportunidade de visitar a praia, muito menos ao lado de alguém que eu tanto amava.

Encosto a minha cabeça no braço de Enzo, que se mantinha calado, talvez perdido nos seus pensamentos, e observo com atenção tudo à minha frente.

O som das ondas era tranquilizante, fazendo com que me perdesse rapidamente por um turbilhão de sensações e pensamentos. Era impossível uma pessoa não gostar do som das ondas e do cheiro que a água salgada nos proporcionava. Aliás, tudo isto fazia bem ao nosso sistema, seja psicológico como físico.

Ainda não estava totalmente consciente de que amanhã iria ver os meus pais biológicos pela primeira vez depois de tantos anos separados. Não me lembro de nenhuma das suas características físicas, e muito menos psicológicas. Não adiantava tentar forçar a minha memória, porque não me lembro de quase nada dos meus 5 anos de idade.

Nunca vira qualquer fotografia minha em bebé e muito menos com menos de 5 anos, o que agora faz sentido o facto de eu ter sido dada a uma mulher para que a mesma cuidasse minimamente de mim.

Eram muitas as questões que eu tinha na minha mente. Nada de ''Porquê de me terem dado a uma prostituta? '', mas sim, '' Como é que eles serão? ''. Eu já sabia o motivo de não ter ficado a viver com eles. Mas era muito estranho terem feito o que fizeram comigo. Não entendo. Não sei sequer se tenho mais irmãos ou não, e se tenho, se os mesmos levaram com as mesmas consequências que eu levei.

Por um lado eu sei que eles fizeram aquilo comigo como uma forma de me proteger, mas lá no fundo não foi bem assim. Eles fizeram isto comigo como uma forma de se protegerem, de protegerem o seu império e a sua riqueza, não a filhinha que já estava destinada para casar com um homem desconhecido, mesmo antes de ter nascido.

E por isso é que eu não sabia se teria coragem de os agradecer um dia ou amaldiçoa-los para o resto das suas vidas. Não sabia se teria coragem de os perdoar ou ganhar para sempre rancor pelo que fizeram por mim. Mas, sejamos sinceros, se isto não tivesse acontecido, talvez nunca teria conhecido Enzo, mesmo que o nosso primeiro encontro, aquele que eu me lembro e não de quando eu tinha 4 anos, tivesse sido bastante estranho. Talvez eu ainda nem estivesse pronta para os encarar. Com quem eu me pareceria mais? Com o meu pai ou com a minha mãe? Se é que eu os poderia chamar disso.

Mas as perguntas continuavam e as respostas estavam perto de chegar, pois amanhã seria o dia.

- Em que tanto pensas amore mio? – A voz grossa do meu mafioso faz com que eu despertasse para a realidade. Arregalei ligeiramente os olhos ao ouvir as suas palavras em italiano, tão carinhosas e que ele nunca me tinha dito, nem chamado dessa maneira. Estava sempre habituada ao loira.

- Amore mio? – Murmurei e olhei-o, com um sorriso grandioso nos meus lábios. Era impossível que aquelas palavras não fizessem com que uma mulher se sentisse tão bem, como eu me acabara de sentir.

- Sim. – Murmurou calmo e levou a sua mão ao meu rosto, acariciando a minha bochecha esquerda com carinho e cuidadosamente. – És o meu amor, Lia. – Os seus olhos azuis estavam tão presos aos meus que me faziam sentir com que fossemos um só, apenas com um olhar.

Estava-me a derreter de amores por aquele homem italiano. Eu sentia que a nossa conexão estava cada vez mais intensa, e cada vez eu amava mais aquele mafioso. Dava a minha vida por ele mil vezes, sem pensar.

- Eu deixo-te feliz? – Pergunto, ainda com um sorriso nos lábios. Eu necessitava de ouvir aquilo da sua voz, enquanto os nossos olhares ainda continuavam presos um ao outro.

- Claro que sim. Eu sou um homem bem sortudo por ter na minha vida, como minha mulher. – O seu sorriso só fez com que aquele sentimento intensificasse ainda mais.

- Tu também me fazes uma rapariga feliz. – Murmuro.

- Não, Lia. Tu és uma mulher, não uma rapariga. Podes ter acabado de fazer 18 anos, mas és a mulher mais corajosa que já vi em toda a minha vida. – Murmura. – Nunca desististe de mim. Nunca desististe de nós, quando tinhas tantas oportunidades para fugir de mim. Apesar de tudo, de todos os perigos que correste por minha culpa, tu sempre me deste apoio, até nos momentos em que mais me odiavas. Tu não foste abaixo porque ainda tinhas esperanças de viver, de ter uma vida feliz, mesmo após o contrato de casamento. Foi isso que fez com que eu me apaixonasse tanto por ti.

- Eu quero a minha vida feliz ao teu lado, Enzo. Eu desejava e sempre desejarei ser feliz ao lado da pessoa que me amará, e eu sei que essa pessoa és tu. – Murmuro logo após o Enzo fazer uma pausa para respirar. – Não te abandonarei nunca. Tu és a base de tudo, o meu alicerce. E se um dia ficar sem ti, podes ter a certeza que um grande pedaço do meu coração fica contigo, a parte sentimental do mesmo e eu ficaria apenas com o órgão que me obrigaria a mentar-me viva, mas sem qualquer gosto de o estar.

Vejo o seu sorriso crescer cada vez mais enquanto continuo a falar. A sua expressão tão suavizada e sorridente. Eu via nele a minha felicidade. Eu via no Enzo tudo aquilo de que eu precisava. E eu sabia que nunca estaria sozinha para enfrentar os meus medos, tal como Enzo não ficaria sozinho a enfrentar os seus. Nós tínhamo-nos um ao outro.


O Meu GangsterOnde histórias criam vida. Descubra agora