Capítulo 18

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Lia

Abro os meus olhos lentamente e observo o rosto calmo à minha frente. Enzo estava num sono profundo e a máquina, ao lado da cama de hospital, ainda continuava a transmitir aquele Bip irritante, mas que felizmente contava os seus batimentos cardíacos.Observo com atenção a minha mão agarrada à mão de pálida de Enzo. A sua mão esquerda entrelaçada na minha mão esquerda. O seu anel de casamente encostado ao meu anel de casamento.

Voltei a colocar um suave beijo nas costas da sua mão e esperei. E, enquanto fazia isso observei o quarto de hospital com mais atenção. A cama de hospital estava ao meio do quarto e a cabeceira encostada à parede branca do mesmo. Tinha uma grande janela de um lado e um sofá de dois lugares, branco e cinzento, logo a seguir. Eu estava sentada numa cadeira confortável e tinha também uma poltrona do mesmo estilo do sofá do outro lado da cama. Havia uma porta aberta e através da mesma dava para ver que era uma casa de banho bem equipada. O quarto tinha pouca decoração, uma mesinha ao lado da cama, os aparelhos também ao lado da cama e uma televisão na parede em frente à mesma, mas via-se bem que só quem tinha possibilidade económica é que poderia ficar naquele quarto e isso era triste de se ver, algo que me deixava um pouco indignada com certas desigualdades.

O médico avisara que Enzo poderia acordar dentro de 10 minutos, mas esses 10 minutos já passaram e já estou até preocupada. Eu só queria ver os seus olhos azuis intensos e brilhantes de novo, como quando explorávamos Veneza sem mapa, isto sempre ficará na minha memória, Enzo estava tão feliz e eu? Eu estava radiante! Eu só queria voltar a ter o meu Enzo mandão e controlador comigo. O homem protetor e atencioso, o menino perdido pelo seu passado obscuro.

Parece que, apesar de Enzo estar fora de perigo, eu ainda sinto aquela dor no peito de quando ele estava deitado no chão, com a sua cabeça pousada nas minhas pernas e com a sua mão na sua ferida. Os seus olhos a transmitirem a sua dor e desespero foram o pior de tudo. Só de pensar que eu podia tê-lo perdido, já morri mil vezes e voltei à vida. Eu era até capaz de morrer por Enzo, sem qualquer problema. Eu amava-o e isso é a justificação para tudo.

Eu nunca tive grandes amigos, por vezes uma amiga temporária mas que eu nunca lhe contava o que a minha mãe fazia e mesmo que quisesse contar-lhe, eu mudava várias vezes de colégios, a minha mãe viajava sempre. Claro que se eu contasse a alguém o que a minha mãe fazia, eu iria ser gozada pelo resto da minha vida.

Mas não é o caso de eu ter vergonha da minha mãe, porque sinceramente, vergonha iria ser a última coisa que eu ia ter por uma mulher que não consegue arranjar emprego e faz de tudo para dar educação à sua filha e sustentá-la. Porque era isso o que a minha mãe fazia, apesar de serem raras as vezes em que a minha mãe me dava carinho, ela deu-me educação e nunca me deixou passar fome.

Apesar de tudo, eu era uma criança normal. Estudava, tirava bons resultados e era feliz à minha maneira, já que fui sempre um pouco solitária. Talvez a arte tivesse sido o meu melhor refúgio da vida. Sei que comecei a desenhar quando eu tinha uns 2 anos de idade, e a minha mãe sempre me contava o que eu fazia e até guardou alguns desenhos meus. Sejamos sinceros, eu desenhava pessimamente.

E por tudo isto o que vivi, é que a perda da minha mãe foi um choque para mim e ainda hoje é difícil de pensar nisso. Claro que houve vários momentos em que a odiei. Não percebo o facto de ela ter sido tão fria por vezes e nunca me ter dado grandes carinhos como eu via em algumas mães que iam buscar os filhos ao colégio ou até mesmo em alguns filmes. Mas agora que ela não está cá, é difícil de pensar no assunto. Foi ela que me deu tudo até agora e se ela não gostasse realmente de mim, talvez nunca me tivesse colocado em colégios bons e talvez até me tivesse abandonado ou dado maus tratos.

Agora, imaginar-me sem Enzo seria a coisa mais horrível da minha vida. Enzo é quem eu amo, apesar de tudo eu amo-o e não posso ficar sem ele, e um dia, não sei quando, eu consiga admitir os meus sentimentos por ele.

Sou bruscamente desviada dos meus pensamentos quando sinto a minha mão ser apertada pela mão de Enzo que estava agarrada à minha.

Desvio o meu olhar do nada e logo observo aquelas olhos azuis frágeis e um pouco desesperados. Será que está a sentir muita dor?

- Enzo... - Murmurei rapidamente mas em voz baixa e aproximo-me um pouco mais da sua cama. Encosto as costas da sua mão ao meu rosto e olhei-o carinhosamente. – Como te sentes? – Sussurrei calmamente, embora estivesse bastante nervosa e feliz ao mesmo tempo por finalmente ele ter acordado. Ele tenta mover-se mas logo desiste quando geme de dor.

- Dói-me a barriga. – Sussurrou e olhou em volta. – Estou no hospital... - Olhou-me rapidamente. Talvez estivesse a raciocinar sobre os últimos acontecimentos. – Como é que tu estás? Robert tocou-te?

Sorri levemente. Sempre preocupado.

- Eu estou bem Enzo... Tem calma, tu precisas de descansar. Robert foi preso e acho que não sairá detrás das grades tão cedo. – Murmurei calmamente. – Foste rapidamente socorrido e agora estás bem. O médico explica-te o que aconteceu concretamente.

Enzo assentiu e olhou para a mesinha ao seu lado. Estava um copo com água ao seu lado que era para ele beber assim que acordasse. Ele senta-se lentamente e com cuidado na cama, estica a outra mão para o mesmo e bebe tudo num só gole. Voltou a pousar o copo e olhou-me atentamente.

- O teu vestido está todo manchado. – Murmurou fitando-me com bastante atenção. Olhei-me e reparei que o casaco estava um pouco aberto mostrando a mancha de sangue do Enzo no mesmo.

- Não é importante. Eu estou perfeitamente bem. – Murmurei sorrindo. Aperto a sua mão e levanto-me não me importando se ele visse o resto da mancha no meu vestido e aproximo-me dele.

Com cuidado abraço-o e este abraça-me como pode já que uma das suas mãos tinha o soro injectado.

- Estava tão preocupada. – Sussurrei engolindo em seco. Tentei ser forte, eu juro, mas acabei por começar a chorar. Era difícil ficar com os olhos secos após todos aqueles acontecimentos. Nós não podíamos estar sossegados. Eu queria tanto que a nossa relação evoluísse mas tinha sempre alguma coisa para estragar.

- Querida, não chores. – Ouço Enzo sussurrar e desvio-me até conseguir olhar os seus olhos azuis. Ele ergue a sua mão esquerda e passa o polegar pelas minhas bochechas limpando-as. – Eu estou bem, tu estás bem, está tudo bem. – Sorriu.

- Eu sei... isso é um alívio. – Sussurrei após me ter recuperado. – Talvez seja melhor chamar alguém para te ver.

- Sim, talvez... mas primeiro preciso de uma coisa mais importante.

- Do quê?

- Vem cá querida, quero sentir os teus lábios nos meus...


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 Sei que o capítulo está pequeno mas prometo que em breve publico o próximo :D 


O Meu GangsterWhere stories live. Discover now