Capítulo 25

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-Deixamos de ser inimigos?-Vitinho pergunta assim que o beijo chega ao fim.

-Acho que ainda não.-respondo rindo me levantando do chão.

-Aonde vai?-Vitinho se levanta e anda em minha direção.

-Embora.-respondo como se fosse o óbvio.

-Se quiser posso te dar uma carona.-Vitinho me segue,enquanto eu caminho me debatendo para me livrar da areia em minha roupa.

-Não precisa.É arriscado demais.-digo.

-Mais eu faço questão de te levar.-ele diz,e eu paro me virando para ele.

-Ok.-digo após um longo suspiro,e vejo um sorriso vitorioso surgir em seus lábios.

Voltamos a caminhar,mas desta vez fui eu quem segui o Vitinho.

Sua moto estava estacionada perto a um quiosque,que já estava fechado a horas.Vitinho me entregou o único capacete preso a moto.

-Acho melhor tu usar o capacete e eu ir sem.-digo estendendo o capacete para ele.-Vamos correr o risco de um policial nos parar.

-Relaxa,princesinha.-Vitinho ri e sobe na moto.-A gente vai voando.

Rio e coloco o capacete na cabeça.Subo na moto e agarro sua cintura.Vitinho acelera e arranca com a moto.

Realmente Vitinho fez jus ao que havia falado:foi voando.O vento chegava a arder ao bater contra meus braços e pernas.O frio me deixou arrepiada e meus dentes trincando.A cada ultrapassada que Vitinho fazia,sentia o medo correr em minha espinha.Ele não tem noção nenhuma de perigo,faz curvas sem desacelerar a motocicleta e poucas vezes obedece a sinalização.

-Obrigada pela adrenalina.-digo assim que Vitinho para a moto,e arranco o capacete rapidamente da minha cabeça e coloco nele.

-Porque essa presa de colocar o capacete em mim?-ele ri.

-Pra ninguém te reconhecer,né?.-digo colocando as mãos na cintura e passo as mãos no cabelo,ajeitando-os.-Agora vai,Vitor.-falo olhando para os lados.

-Deixa de ser apressada.-Vitinho fala rindo e me puxa pela cintura.Ele levanta o capacete para cima,deixando no auto da cabeça e me beija.

[...]

Entro em casa na ponta dos pés,e tudo está escuro.Agradeço aos céus por ninguém estar acordado e não me ver chegar a essa hora.Subo as escadas e entro em meu quarto.Fecho a porta vagarosamente e acendo a luz.

-Demorou pra chegar.Aonde estava?-me assusto com meu pai sentado na minha cama.

-Na praia.-respondo rapidamente.

-Com quem?-ele me interroga.

-Sozinha.-respondo prontamente.-Eu queria ficar sozinha.

-E queria ficar sozinha pensando na tempestade em copo d'água que tu fez ao descobrir que tua mãe tá grávida!?-meu pai diz  balançando a cabeça de vez em quando.

-Eu não fiz tempestade em copo d'água!Eu só falei a verdade.Você vai esquecer de mim quando o teu tão sonhado filho homem nascer.-me exalto e sinto vontade de chorar.

-Eu não esqueço de quem eu amo,Alana.-meu pai se levanta da cama e caminha até mim.-Tu é uma das pessoas mais importantes pra mim,filha.E pode nascer mil filhos homens meu,mas tu vai continuar sendo a minha princesinha.A única.-meu pai me envolve em seus braços e me aperta forte.-Eu te amo muito,filha.

-Eu também te amo muito pai.-falo limpando as lágrimas e meu pai beija minha testa.

-Vou ter que sair agora,filha.-meu pai sorri e abre a porta do meu quarto.

-Pra onde vai a essa hora pai?-pergunto curiosa.Já é quase madrugada.

-Vamos invadir o morro do Bertão daqui uma hora.-meu pai responde diabólico e caminha apressadamente para a escada.

-Mais pai...

-Alana tu não participar da invasão.-ele me interrompe e volta me puxando para dentro do meu quarto.-Não saia daqui.

Me sento na minha cama,e me perco em pensamentos.E se meu pai encontrar o Vitinho e querer matar ele para atingir o Bertão?Ou se algum dos moleques do meu pai encontrar o Vitinho e materem ele?Droga!Eu tenho que fazer alguma coisa.

Me levanto da cama e caminho até minha penteadeira,e quando vou arrastá-la,a porta do meu quarto se abre,e é meu pai.

-Só por precaução.-ele pega a chave da maçaneta da porta e me tranca no quarto.

Argh!E agora que eu vou fazer?Pular a janela,na certa vou me espatifar lá embaixo e me machucar feio.

Ando de um lado para o outro no quarto com as mãos na cabeça.Não sei o que fazer,e o nervossismo e a preocupação não me deixam pensar.

Soco a parede e me jogo na cama exausta e derrotada.Não há nada que eu posso fazer,a não ser esperar até meu pai chegar.

[...]

Acordo com a claridade em meu rosto.Droga!Eu não aguentei esperar meu pai chegar e adormeci.

Levanto da cama e sigo até o banheiro.Arranco minha roupa suja de areia e tomo um rápido banho.Quero saber tudo sobre ontem logo.Saio do banheiro e visto uma calça jeans e uma camisa meio larga.Calço um tênis e ajeito meu cabelo,deixando-os soltos.

Saio do quarto e desço as escadas.

-Bom dia,filha.-meu pai sorri ao me ver sentado no sofá abraçando minha mãe pelo ombro e assistindo TV.

-Bom dia,pai.-respondo retribuindo o sorriso.-E a invasão de ontem,ocorreu tudo bem?-pergunto com o coração saltitando em meu peito de preocupação.

-Shiu.-ele põe o indicador nos lábios e pega o controle da TV aumentando o volume.-Vai falar sobre isso agora no noticiário.

-Voltamos com novas notícias sobre a invasão no morro da Rocinha na madrugada de hoje.-a jornalista diz seriamente.-Foram quase trinta feridos entre trocas de tiros das duas comunidades inimigas.Segundo informações,a mulher de Bertão,o dono da Rocinha,foi morta ao ser encontrada no esconderijo dentro de casa.-engoli em seco a notícia.Mataram a mãe do Vitinho.-O jornalismo do Rio,estará atento e divulgará qualquer nova informação ao longo do dia.Tenham um bom dia.

-Você foi muito cruel,Lorenzo.-minha mãe diz assim que meu pai desliga a TV e sorri ao mesmo tempo.

-Só quis me vingar.-meu pai fala e minha mãe se afasta.

-Desse jeito?Fazendo outra pessoa passar pelo o que você passou!?O filho do Bertão não tem culpa do que o pai fez,Lorenzo.-minha mãe o encara.

-Eu sei,mas alguém tinha que pagar pelo o meu sofrimento.-meu pai cerra os punhos.

-E não podia ser o Bertão?Aliás,foi ele quem matou seus pais,e não a esposa dele.-minha mãe suspira,enquanto eu apenas observo atordoada por estar pensando em como Vitinho deve estar se sentindo agora.

-Eu não encontrei aquele maldito.-o olhar do meu pai é de fúria.-Eu o procurei em cada cômodo daquela casa,e a única coisa que encontrei foi a mulher dele,e aí pronto,a matei.

-Eu só quero que a minha segurança e a dos meus filhos sejam redobrada a partir de hoje,Lorenzo.Entendeu?-minha mãe se levanta do sofá.

-A casa já tá rodeada de homens desde ontem a noite.-meu pai diz e minha mãe caminha para a escada.-Minha dama,não fica mal comigo.

-Lorenzo,eu...

-Eu sei que tu também sabe a dor de perder uma mãe,mas pelo menos tu teve teu pai pra te dar força.-meu pai a interrompe.-Eu só tive a Rafa.Uma criança.

Minha mãe volta para o lado do meu pai e eu saí da sala voltando para o meu quarto.Eles precisavam conversar.



A Dama & O Vagabundo Vol.2Where stories live. Discover now