Me joguei em minha cama tentando digerir o que aconteceu com a mãe de Vitinho e que meu pai é o autor do acontecimento.
Ele deve estar triste.-penso e é óbvio que está triste.
Levanto da minha cama decidida a ir vê-lo.Pego meu moletom dentro do meu armário e saio do meu quarto vagarosamente.Desço calmamente as escadas e certifico se meus pais ainda continuam na sala.Para minha sorte,não há nem sinal deles ali.Saio de casa quase correndo e desço o morro,atenta para que ninguém me veja.
Saio da comunidade e caminho até o ponto de ônibus.Não fico esperando por muito tempo.Logo o veículo para e eu entro passando pela roleta.Me sento no último banco e dou sinal para o ônibus para no ponto próximo a comunidade do Vitinho.Desço do veículo e visto rapidamente o moletom e jogo o gorro em minha cabeça.Está calor demais hoje,e sinto o suor descer pelas minhas costas.
Subo praticamente correndo o morro até chegar no escritório do Vitinho.Exito em entrar sem bater,talvez o pai dele possa estar ali.
Dou três batidas de leve na porta,e sem demora ela se abre.Vitinho me olha e volta para trás se jogando na cadeira.Ele está com os punhos cerrados e aperta uma das mãos contra a boca.Entro no escritório e fecho a porta atrás sem dizer nada.
-O que tu veio fazer aqui?-ele pergunta sem olhar para mim,totalmente frio.
-Eu...eu só queria saber como se sente.-respondo e umedeço os lábios.
-Péssimo.-ele diz raivoso.
-Eu sinto muito.-falo me agachando perto dele.
-Levanta.-Vitinho me puxa.-Vai embora!Eu não preciso da pena da filha do cara que tirou a vida da minha mãe.
-Eu não tenho culpa do que aconteceu,tá legal?-falo sentindo meus olhos marejarem.-Mais já que tu pensa assim,acho melhor eu ir mesmo.-me viro e caminho em direção a porta.Coloco a mão na maçaneta e antes que eu pudesse gira-la,Vitinho me abraça por trás.
-Me desculpa?Me desculpa?-ele repete várias vezes e me aperta ainda mais contra ele.
Sinto algumas lágrimas rolarem sobre meu rosto e viro-me de frente para ele.
-Me desculpa?-Vitinho segura meu rosto com suas duas mãos forçando-me a olha-lo nos olhos.
-Tá desculpado.-respondo e o abraço.
Escuto Vitinho soluçar de tanto chorar,enquanto continuávamos abraçados.O aperto ainda mais na tentativa de transportar um pouco da sua dor para mim.
-Fica aqui comigo?-Vitinho pergunta após me soltar.
-Fico.-sorrio sem mostrar os dentes.
Vitinho se sentou em sua cadeira e me puxou para sentar em seu colo.Apoiei minha cabeça em seu ombro e fiquei acariciando seus cabelos.O silêncio reinava no meio de nós,e apenas nossa respiração era o único barulho que fazia.
[...]
O relógio já marcava quase duas tarde.O tempo passou depressa.
Cutuquei o Vitinho que cochilava ao meu lado deitado no chão.
-Preciso ir embora.-falo passando a mão em seu rosto.
-Ainda é cedo.-Vitinho fecha os olhos novamente agarrando minha mão.
-Eu não avisei ninguém que ia sair.-falo lembrando principalmente do meu pai.-Eles já devem estar preocupados.
-Ninguém te ligou,princesinha.-Vitinho ri.
-E quem disse que eu trouxe celular!?-arqueio uma das sobrancelhas e Vitinho se levanta e se joga para cima de mim.
-Então tu precisa ir embora mesmo.-ele me beija ainda por cima de mim.-Eu vou te levar.
-Não precisa,eu vou de ônibus.-falo prontamente.
-Eu disse que eu vou te levar.-Vitinho dá ênfase ao falar "eu" e se levanta estendendo uma das mãos para mim.
-Meu pai já deve ter notado meu sumiço,e tenho certeza que já colocou alguém atrás de mim.-falo,porque é a mais pura verdade.
-Tá.-Vitinho mudou totalmente sua expressão.
-Mais tu pode me levar até o ponto de ônibus.-digo tentando anima-lo.
-Beleza.-Vitinho me abraça e deposita um rápido selinho em meus lábios.
Visto novamente meu moletom e jogo o gorro sobre minha cabeça.Vitinho me abraça pela cintura e saímos do seu escritório.
Descíamos o morro rapidamente,para que ninguém desconfiasse.Passamos pelo bar lotado e alguns bêbados cumprimentaram o Vitinho.Eu seguia de cabeça baixa.
Vitinho ficou comigo no ponto até o ônibus chegar.Ele me deu um último beijo e eu entrei no veículo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Dama & O Vagabundo Vol.2
Teen FictionJá aos quinze anos,Alana Mendonça Laris,é a verdadeira princesinha do morro.A filha de Lorenzo honra perfeitamente o posto que um dia será seu.E como se já não bastasse o jeito de mandona,a garota é cheia de atitude.Defensora do primo viciado,Fabríc...