Um apelo a sua humanidade

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As horas pareciam se arrastar, muito por conta de toda a ansiedade que me corroia. E como se já não bastasse toda a pressão por ter que me apresentar diante de meus colegas de curso e professores, meu professor abriu o "evento" ao público.

Minha mãe foi a primeira a se manifestar para ir até lá e levaria Lottie e Fizzy consigo. Niall também disse que não perderia por nada. E embora eu soubesse que eles estariam lá para me apoiar, eu tinha a impressão de que isso havia tomado proporções gigantescas, me fazendo sentir o peso cada vez maior em minhas costas.

Andava de um lado para o outro do auditório, visivelmente nervoso. Minha mãe sorria e tirava fotos da segunda fila e Niall acenava feliz com a cabeça ao lado de Liam. Zayn estava sentado no canto, com uma loira a seu lado, mas assentiu contente para mim. Mas Harry ainda não havia aparecido.

Eu iria subir até a tribuna ali postada em menos de dois minutos e ele não estava ali para me abraçar e dizer que eu faria tudo sair perfeitamente bem.

Eu não gostava de admitir. Mas eu havia ficado dependente de Harry. Não da forma como os outros ômegas ficam, não por uma mordida ou por uma relação de submissão. Eu havia me prendido a ele por algo muito mais forte, por algo voluntário. Eu estava unido a ele por amor.

Chequei os papeis a minha mão novamente antes de assentir para meu professor que dava início a palestra. As palmas que recebi ao ter meu nome anunciada foram quase inexistentes, vindo de alguns poucos amigos que fiz. Eu já esperava o ambiente hostil, então apenas respirei fundo, tentando fazer os tremores de meu corpo pararem.

Antes de iniciar minha fala, pude ver Harry adentrar o auditório, sorrindo para mim durante todo o caminho e me fazendo sorrir junto involuntariamente, ele sentou-se ao lado de minha mãe e eu finalmente me senti confiante o suficiente para iniciar.

– Boa noite. – abri um sorriso mínimo. – Como o professor já disse, meu nome é Louis Tomlinson, eu sou graduando do primeiro semestre de Direito de Oxford e o primeiro ômega a ter tal feito em seu currículo. Eu sei que a maioria de vocês que está aqui, veio apenas para rir de meu discurso, dos meus ideais e de tudo que vai contra a ordem com a qual estamos acostumados. Mas eu peço para que durante esses poucos minutos vocês esqueçam tudo o que sabem sobre a hierarquia alfa/beta/ômega. Esqueçam até que isso é uma hierarquia, porque realmente não deveria ser.

Engoli o nó que se formou em minha garganta ao me deparar com vários revirar de olhos e sorrisos intimidantes para mim. Mas tive minha confiança reforçada ao encontrar o olhar orgulhoso de minha mãe na plateia.

– O único motivo para termos nossos genes misturados aos de lobos, foi a continuidade da espécie. Os ômegas foram sim feitos para engravidar. Mas eu não creio que essa é a nossa única função na sociedade, pois há duas coisas que nos difere dos lobos: racionalidade e humanidade. Nós mantemos em nós a maravilhosa capacidade de gerar a vida, assim como os betas, embora esses com maiores dificuldades. Mas nós somos muito mais do que um útero ambulante. Nós temos cérebro, sentimentos, voz e direitos.

Olhei para o telão que reproduziria os números que eu me esforcei em buscar e que eu clamava para que fizesse com que a plateia se solidarizasse com a causa.

– Direitos esses que são negligenciados todos os dias, a todo segundo. O que significa que sete a cada dez ômegas já sofreram ou sofrerão violência ao longo de sua vida. Em média, morrem treze ômegas por dia ao redor do mundo, pelo simples fato de serem ômegas. Cinco mil ômegas são mortos por crime de honra no mundo, crimes que são praticados pelas próprias famílias por conta de comportamentos rebeldes, como o meu. – ri baixo. – Por gravidez indesejada ou por ter sido "devolvido" por seu alfa, ao ser decretado inútil por esse. – fiz as aspas com os dedos. – Crimes que mancham o nome tão imaculado da família. Vinte e cinco mil ômegas são mortos ou sofrem de espancamentos após serem atados por conta dessa cultura de que a honra vale mais do que a integridade física ou a vida de alguém.

Dream with me - l.s (a/b/o)Where stories live. Discover now