A Vez do Amor

DEZ

A mudança que a volta dele tinha me causado era visível a quaisquer olhos, por mais que tentasse disfarçar, tudo não passava de um alívio passageiro. Desde o primeiro dia que eu tinha visto ele de perto minhas atitudes tinham mudado. Na última semana, Adam não suportou mais conviver com aquele silêncio todo. Havia criado coragem. Por fim entendi que com a volta de Pedro tudo e que aquilo que estaria prestes a acontecer seria inevitável. Ele saia de casa bem cedo e voltava tarde quando eu já estava deitada, e foi assim durante quase três semanas. Depois de Adam ter se reencontrado com Pedro, e ter tido com ele uma conversa, conversa que eu nunca saberia o assunto.

- Por que não me diz o que conversaram?

- Não falamos sobre você! – afirma frio.

Foram dias difíceis. Eu era uma estranha em minha própria casa, era como se eu não pertencesse àquele lugar. Adam não vinha facilitando absolutamente nada, e eu até cheguei a pensar que ele Pedro pudesse ter falado alguma coisa para ele estar me odiando. Se não fosse ele dizer que ainda me amava, e que para o nosso bem e para que salvasse nosso casamento, precisávamos nos afastar e colocar as coisas em ordem. Eu não sabia se queria salvar aquele casamento. Quer dizer, eu sabia sim! E eu então pensei que a única coisa que podia me salvar era eu voltar no tempo e tentar corrigir algumas coisas. Durante aquela manhã fiquei pensando na melhor maneira de resolver aquele assunto e esclarecer de vez o que me afligia. Tive uma vaga ideia da dor que estaria causando em Sofia, do tempo em que eu havia escondido toda verdade dela. Perguntava-me se ela seria capaz de entender e me perdoar.

Quando me aproximo do fim da rua, Pedro está diante de mim, olhando-me com seu olhar inabalável. Aquele não parecia um dia comum estava soprando um vento forte, talvez anunciando uma tempestade vinda do sul. O mar parecia agitado e, quando desci do carro e cheguei perto dele, não parei, segui pela areia e ele veio andando atrás de mim como se seguisse meus passos. Eu estava mais firme, decidida a lhe contar como tudo tinha acontecido desde que ele havia partido para Nova Iorque. Estava decidida a ouvir suas explicações. Há dois dias que Adam viajou, estamos cumprindo o tempo sugerido. As aulas de Sofia chegaram ao fim. Ela foi passar uns dias com a mamãe em Teresópolis e eu fiquei de ir ao fim de semana.

"Eu adoraria que viesse comigo". O pedido dele, antes da despedida, ainda ecoava dentro de mim.

Respiro fundo, meu ar parece congelar. - Não. Não! Isso eu não posso fazer. O que vou fazer? Era só minha mente travando uma luta contra aquilo que estava prestes a acontecer.

- Por que demorou tanto para me procurar? – perguntou aproximando-se.

Minha respiração falha.

- O que você quer de mim? - perguntei depressa, sem demonstrar a emoção que estava sentindo por estar ali, sozinha com ele, novamente ali, naquele mesmo lugar onde já estivemos tantas vezes juntos. Sem perceber as lágrimas começam a escorrer pelo meu rosto, e ele permanece estático atrás de mim, eu sinto o vento balançar meu cabelo e posso sentir o cheiro dele, fechei os olhos na tentativa de controlar minha emoção.

- Quero que diga que deixou de me amar? - ele continua atrás de mim, segura meu braço com suavidade e nessa hora meu coração acelera, pelas batidas descubro que todo aquele amor que um dia existiu dentro de mim ainda quer existir. Estremeço com seu toque e puxo meu braço na intenção de afastá-lo.

- Não precisamos fazer isso, Pedro. – tentei voltar a respirar. - Eu sou casada e você deve ter uma namorada, então não precisamos levar essa conversa adiante.

- Já disse que não tenho ninguém. Preciso ouvir de você que deixou de me amar. Por que eu nunca deixei, Alicia... Nunca deixei de amar você. - meu coração dói com aquela revelação. - Por que você não me esperou? Disse que me esperaria, eu sei que nunca fui muito amoroso com você. Mas você sabia que tinha meu amor, não sabia? Mesmo que eu nunca tenha dito, você sentia, sentia o amor que eu tinha por você.