VINTE CINCO

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Enquanto a noite surgia devagar, os pingos ainda caiam sobre o piso da sacada. A chuva não deu trégua. Foi uma semana bem pesada. Um pouco mais tarde, quando ele já tinha adormecido, repouso meu olhar nele e percebo suas secretas falta de ar. Até que fechei meus olhos por um breve tempo. De repente eu o acordei no meio da noite. Eu tinha de contar a ele que teríamos um bebê e que dentro de mim ele crescia saudável.

- Pedro. Pedro... - sussurrei em seu ouvido.

- Quê...? - resmungou sonolento.

- Eu preciso contar uma coisa para você. - ele se mexe - E tem que ser agora.

- Está tarde, Alicia, amanhã... - Amanh... - a voz dele falha.

- Estou grávida... – fez-se um silêncio no quarto escuro, nem mesmo o vento que ainda restava, zumbia.

- O que disse? - ele praticamente pula da cama.

- Estou esperando um filho seu.

- É mesmo verdade? Você está grávida? De verdade? – disse em gritinhos. Abriu um sorriso.

- Sim. - devolvo o sorriso.

Nenhuma parte do meu corpo ficou ilesa ao toque dele e ao beijo quente que deslizava devagar por cada espaço entre minha barriga e meu seio. Acho que nossos risos podiam ser ouvidos num raio de 5 quilômetros. Dezesseis anos antes eu quis dar a ele essa mesma notícia. A noite pareceu longa. Nossos olhos fechavam e abriam, tentando manter-se firme, mas não demorou muito para que se fechassem de vez.

Uma semana depois. Tudo estava mais calmo, Sofia tinha me telefonado algumas vezes eu até encontrei ela. Mas sobre a gravidez eu ainda não tinha lhe dito nada. Não sabia como seria sua reação, então eu quis falar com mamãe primeiro. Quem sabe seria uma forma de nos aproximar um pouco mais. Mas eu não consegui vê-la. Estava mesmo muito ocupada com seus pacientes. Pensei em parar na estética e falar com Mia, lhe contar a novidade. Tinha de admitir que sentia falta dela. Afinal, ela tinha sido uma das pessoas mais importantes em minha vida. Talvez ainda pudesse continuar sendo. Era um tipo de amizade que não se desfazia. Mesmo que parecesse estranho, depois de tudo que ela tinha feito, eu ainda a queria por perto. Vai entender. Parei o carro, esperei um pequeno intervalo, mas não desci do carro. Voltei para casa, preparei um almoço rápido, uma omelete com queijo e cenoura. Pedro tinha ido visitar um cliente. Ele tinha alguns planos em mente e pretendia abrir uma corretora de seguros de carro.

Dois dias se passaram e meus enjoos deram o ar da graça. Naquela tarde quando olhei pela janela, o céu era só azul e rosa, o pôr do sol dava seu espetáculo. O verde que cobria a sacada do apartamento parecia gostar do clima suave que vinha com a brisa do mar, um pouco longe, mas mesmo assim dava para sentir no ar o cheiro doce das areias. Não poderia ser diferente, Pedro sempre fora apaixonado pelo mar, era de se esperar que ele estivesse lá agora contemplando a incrível paisagem que se estende céu a fora, mesmo com o frio que faz. Enquanto preparo um chá quentinho com canela e maçã, dizem que canela não faz bem para mulheres grávidas, mas a doutora Vânia disse ser clichê, então eu continuei tomando meu chá preferido, o observo da varanda.

Ele está radiante com a gravidez. Não carrego apenas um bebê no ventre, é mais que isso, é a oportunidade de Pedro sentir o amor desabrochar por um pedaço dele que cresce dentro de mim. Já que ele não teve isso com Sofia. Todos os dias ele traz algo par ao bebê. Diria que uma criança não precisa de tantas coisas. Descobri que Pedro era muito mais especial do que qualquer outro homem que eu pudesse ou quisesse ter. Ele me completa nessa e em outras vidas. Soube disso quando ele foi atrás de mim naquela noite em Angra. Soube do quão grande era o amor dele por mim. Maior do que o meu, talvez.

Como mulher eu tinha sim amadurecido, crescido como dizia minha mãe. Ontem, quando ela veio me visitar eu contei a ela sobre a gravides. Ela pareceu um pouco atordoada, mas logo seu sorriso se espalhou. Telefonei e disse a ela que tinha novidades, e que eram boas, talvez as melhores. Com isso, ela trouxe flores do campo, coloque-as num vaso no centro da mesa. Parecia que ainda estávamos nos recuperando das cartas, sua maneira de lidar com aquilo me surpreendia. Bem, eu não guardava mágoas. Ela era minha mãe. Havia entendido tudo o que fez, eu no lugar dela teria feito o mesmo pela felicidade de Sofia. Contemplo as flores pensando em minha doce mãe. Como ela continuava sendo tão parecida como antes, a mesma mulher sempre, não perdera nem por um momento sua leveza. Rememorei dez anos atrás, naquele dia tão difícil para mim, eu havia perdido meu bebê e ela foi minha fortaleza. Mesmo que eu tenha passado um longo período de dor, e mesmo que eu não tivesse superado por completo, ela tivera do meu lado, insistindo, quando nem mesmo Adam estava.

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