Vinte Três

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 O engraçado é que quando você está bem, vem um furacão e provoca algum estrago só para te confrontar, te tirar da zona de conforto mesmo. Para aquela noite não tínhamos um plano e talvez aceitar o convite para o tal jantar fosse a melhor escolha, mesmo contra minha vontade. Talvez por educação e por Lucas. Afinal ele tinha sido tão gentil naquela tarde, bonzinho demais, bem diferente da imagem que eu tinha dele. E foi só por isso que aceitei.

Chegamos ao restaurante do hotel, era luxuoso, pouco antes das dez. O verão mais uma vez atraíra para as praias lindas de Angra muitos turistas, que mais pareciam dispostos a gastar todo seu dinheiro do que eu podia imaginar. Eles seguravam sacolas e mais sacolas, iam e voltavam para os quartos diversas vezes ao dia, e para onde quer que olhem, havia mulheres lindas, corpo escultural só de biquíni.

Sentei de frente para Júlia, Pedro se acomodou ao meu lado e isso o permitia ficar mais próximo dela do que eu desejava. Passara algum tempo, e escutamos a música que vinha do violão do homem de túnica rosa, sentado num banco de madeira, bebericando vez outra um drinque de frutas. Notei que Júlia falava bem perto de Pedro, mas fingi não ver para não ter que estragar nosso jantar que até ali, corria muito bem. Para piorar, ela estava linda, com um vestido amarelo justíssimo desenhando suas curvas, cabelo solto e com ondas, a boca dela era tão volúpia que não tinha como ele não a perceber. Ela tinha uma desenvoltura invejável e era jovem.

- Então quer dizer que você é surfista?

Fez-se um breve silêncio antes de Pedro responder.

- Sim Júlia. Mas não surfo mais, tem tempo.

Meu coração se espremeu.

Ela parecia estar arquitetando a pergunta seguinte.

- Vocês são noivos? Ou apenas namorados?

Aquela pergunta entrou rasgando minha garganta.

- Somos namorados. – respondi prontamente.

- Namorados que moram juntos. – ele completou.

- E como se conhecerão.

Olhamo-nos e não sabíamos como responder a pergunta.

- Bem. Podemos falar de outras coisas. - sugeriu Lucas, sentindo meu desconforto.

- Estamos falando de outras coisas, Lucas. - disse ela.

Eu desviei o olhar.

Pedro parecia intrigado. Lucas hesitou um pouco, puxou a respiração umas três vezes, até que disse:

- Escuta Júlia. Por que não para de ser inconveniente com suas perguntas para cima de Pedro? Ele é meu amigo e está acompanhado. Não percebeu?

Na hora, Pedro fechou as mãos que estavam sobre a mesa, à voz de Júlia ficou fraca de repente.

- Ué, está incomodado com as minhas perguntas Pedro?

- Não! - responde apático.

- Viu, se ele não está incomodado por que você se opõe? - fita Lucas com certo desdém.

Ele fez um gesto obsceno, levantou, arrastou a cadeira até perto dela, e lhe deu um forte apertão no braço.

- Preciso desenhar para você entender meu amor? - ironizou.

- Ai, está me machucando Lucas. Solta!

Ele parecia estar com muita raiva, pois não parecia disposto a soltar o braço dela. Pedro intervém com certa dureza na voz.

- Achei que fosse para termos um jantar entre amigos, não para assistir um chilique desses. Eu teria ficado em meu quarto, o que seria bem mais agradável. E Lucas, solta o braço dela, por favor.

A Vez do AmorDonde viven las historias. Descúbrelo ahora