TREZE

259 41 13
                                    



Quase três dias depois, podia estar adormecida há muitos minutos ou até horas, mas eu percebia que as batidas na porta aumentavam que, segundo meu ouvido elas não diminuiriam enquanto eu não levantasse para abrir.

- Mãe... - Sofia passa por mim. - Precisa abrir esse quarto. - puxa a cortina de fora a fora. - Tomar um café, pegar um sol. Vai para o jardim que peço a Vanda para preparar um café bem forte. - mas uma vez ela conseguia me surpreender com sua maturidade. – É, estou com o tempo apertado, mas posso tomar café com você.

- Acho melhor você ir para seu compromisso, para não se atrasar. - digo, arrumando qualquer motivo para não ter que encará-la.

- Nada disso! Vai se lavar enquanto eu e Vanda preparamos o café. – diz mandona.

- Ah filha, não se incomode, eu tomo depois.

Ela se inclina e afaga meu rosto.

- Mãe, não pode passar o resto da vida trancada nesse quarto. Passou dias aqui. Minha avó ligou e você não atendeu, ela ligou quatro vezes.

- Só ela ligou?

- Sim. Ao menos atenda ela, ela está tão longe e está preocupada com você. Sabe que se ela não tivesse viajando estaria aqui. - conduzia seu olhar até mim com certa piedade, eu sentia.

- Quando você atender diga a ela para não se preocupar que estou bem.

- Não vou mentir para ela.

- Não precisa dizer nada então. - meu tom muda.

- Mãe... Ela sabe o que aconteceu. - se fez um pequeno silêncio.

- Sabe?

- Sim, eu mesma contei! - afirma sem receio algum.

- Mas por que contou?

- Por que alguém tinha que fazer isso, mãe. Alguém tem que ser adulto nessa casa e é muito estranho ter que ser eu. - engulo a seco. - O papai tinha razão, as vezes, você só pensa em você mesma.

- Por que está falando assim? O que seu pai falou sobre mim?

- Ele só falou a verdade! Acha que não fiquei triste por ele ter ido embora? Você em algum momento me perguntou como eu estava? - aquelas palavras me feriram tanto que ergui a cabeça e tentei explicar.

- Eu não penso só em mim. Isso não é verdade filha.

- Pensa sim! Trancou-se aqui e nem falou comigo. Foi Vanda que esteve ao meu lado todos esses dias. Sabia que ontem eu passei mal e tentaram falar com você? Mas seu telefone nunca funciona, não é?

- Desculpa filha... Desculpa. Como assim você passou mal?

- Foi só uma dor de cabeça, uma febre, nada demais. Vanda foi até o teatro e voltamos para casa de táxi. Olha. Eu desisto de você ta legal. Quer ficar aí, fica. Já estou acostumada. Você vive isolada, sempre foi assim.

- Filha...

- É sim mãe, não precisa ser adulta para ver certas coisas. Se meu pai foi embora à culpa foi sua. - diz apontando o dedo. - Agora não adianta ficar aí chorando, isso não o trará de volta. - mais uma vez eu fiquei sem palavras. E o que me feria ainda mais era reconhecer que ela estava certa.

- Querida. - respirei fundo. - Eu entendo o que esteja pensando sobre mim e pode até ser que realmente você esteja certa, eu estou sim sendo egoísta, eu reconheço. Mas mesmo eu reconhecendo, parece que algo rema contra minha vontade. E eu não quero que pense que foi por minha culpa que seu pai foi embora. No fundo nós nunca devíamos ter casado. - cuspi aquilo e no mesmo instante me arrependi, e foi ai que pensei em contar tudo a ela, mas, mais uma vez minhas palavras foram sucumbidas.

A Vez do AmorWo Geschichten leben. Entdecke jetzt