VINTE E DOIS

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A imensa casa estava tão silenciosa quanto no dia em que eu havia chegado com Sofia nos braços pela primeira vez. Não era fácil imaginar para onde tinha ido toda aquela alegria que um dia em sentira vivendo ali.


- Está tudo bem? - perguntou Pedro, antes que eu pudesse secar as lágrimas.


- Tudo. - minto.


- O pior já passou. Agora é só fechar a porta. - diz num tom confiante.


Mas para mim tudo aquilo tinha um significado. Praticamente tudo. Sair daquela casa era apagar meu passado. Não que eu quisesse mantê-lo vivo. Mas é que ele era parte de mim. Pedro sabia que não tinha sido fácil tirar minhas coisas e deixar aquela casa, mesmo que as coisas nela parecessem artificiais. Eu guardava os bons momentos vividos ali. Tanto ao lado de Adam como ao lado da minha filha. Os primeiros passos dela, a primeira palavrinha, o primeiro dia da escola. Despedir-me daquela casa era como se eu me despedisse da minha vida, e era. Por outro lado, eu tinha que reconhecer que agora eu estava viva de novo, estava sendo novamente a Alicia. Que por sinal era bem melhor do que foi com dezoito anos.


Fico de costas para o jardim e olho para a imensa casa branca que foi minha por tanto tempo. Percebo que não fazia ideia do quanto ter que deixá-la me feria. Aquela casa tão bonita... mas com dias insuficientemente infelizes para querer guardar na lembrança.


- Eu nunca vou esquecer o dia que Sofia deu os primeiros passos nesse jardim. - algo dentro do meu coração gritou.


- Não precisa esquecer. O que fez parte do seu passado, que foi bom, não é preciso esquecer. Ao contrário, lembre todos os dias. Será revigorante.


- Bem... Acho que estou pronta. - disfarço as lágrimas. Era difícil eu fazer aquilo, podia parecer tão simples, tão óbvio, mas não era. Juro que não.


- Tem certeza que pegou tudo? E desligou todos eletrodomésticos?


- Sim. Eu peguei. Desliguei tudo.


- Hum... - faz um suspense.


- Amor...


Cada vez que ele me chamava de amor era algo inusitado para meus ouvidos.


- Pensei que podíamos fazer uma coisa diferente. Podemos tomar a cerveja e depois fugir um pouco dessa bagunça toda. Podemos fazer um passeio em Angra. - sugestiona e me beija a ponta do nariz. - A lancha é de um amigo. Nós podemos passar o fim de semana num hotel que eu conheço, fica bem de frente para a praia. - explica.


Ele já estava com uma mochila preparada com roupas. O que me fez pensar que talvez ele fosse mesmo que eu não quisesse.


- É uma ótima sugestão.


Assim que descarregamos minhas coisas. Colocamos tas bolsas no carro e partimos rumo a Angra.

A Vez do AmorWhere stories live. Discover now