VINTE SEIS

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Quase um mês depois numa manhã de chuva fina e ar gelado, Pedro voltou do trabalho e me encontrou sentada no sofá da sala, com os olhos inchados, eu havia chorado por mais de quatro horas depois de achar o bilhete amassado no casaco dele. Eu não procurava nada lá. Juro que não! Apenas fui arrumar espaço para guardar minhas roupas. Até agora eu estava tentando entender o bilhete, era vago.

Por mais que eu tentasse não me importar era impossível, pois eu não confiava mais em Mia. Podia ser qualquer coisa, mas isso já me assustava. Ler o bilhete não foi tão doloroso quanto à reação de Pedro. Ele nem sabia o que dizer, seu olhar me disse mais do que sua boca. Pior ainda, tentou me reprimir por eu ter achado aquele maldito bilhete.

- Esse casaco é velho, estava nas minhas coisas lá de casa. Não tem valor nenhum.

Senti uma raiva crescer dentro de mim, uma vontade de gritar, gritar até meus ouvidos pararem de zunir. Ele se recusou a conversar a explicar qualquer coisa, e eu precisava daquilo, precisava que ele me dissesse que era apenas um bilhete banal, do qual Mia quisesse falar sobre mim, algo desse tipo. Eu não quis pressiona-lo, mas ele tinha que me contar o que aconteceu naquela noite. Se ele a encontrou.

- Você a encontrou? Foi a esse encontro?

- Não, claro que não, Alicia. - respondeu irritado. - Não fui encontrá-la, ela enfiou esse bilhete no meu bolso na noite que nos encontramos na festa que eu fui com o Lucas, ela estava bêbada, mas não cheguei a falar direito com ela. Cumprimentei-a e acho que trocamos algumas palavras. Mas a música era alta, nem lembro o que falamos, lembro do bilhete, ela colocou no bolso do meu casaco e saiu. Só bem depois que fui ler. Eu nem lembro o que tem escrito aí.

- Deixa eu te ajudar a relembrar.

- É sério isso?

- Calma. Deixa-me continuar.

- Alicia!

- Você está um gato. Alicia não imagina o que perdeu. Encontra-me daqui a pouco na saída. Beijinhos da Mia.

- Isso é ridículo.

- Lembrou agora? – usei um tom que eu não me conhecera.

- Alicia, por favor, isso não significa nada. - ele avermelhou o rosto.

- Para você é claro que não. Ela não foi à pessoa que você mais confiou na vida. - grito. - Ela não foi amante do seu marido por anos. - ele me olha aterrorizado. - Você não entende, não é? Eu confiei nela, sempre confiei. Ela nunca me disse nada sobre você. Sobre esse encontro.

- Para de dizer que foi um encontro. Ela que foi até minha casa e disse que queria falar sobre você. Não sei como ela descobriu meu endereço.

- Está me dizendo que ela foi à sua casa? - fiquei tão chocada com o que ele acabará de dizer que sinto muita raiva, muita mesmo.

- Foi.

- O que mais Pedro? Sinto que tem mais coisa, me fala, por favor.

- Quer mesmo saber?

- Quero. Eu mereço saber.

Ele faz uma pausa, avermelha a testa - Não vou esconder nada. - engoliu a seco. - Nós trocamos alguns beijos. Mas não teve importância. Eu estava alcoolizado. Por favor, vamos esquecer.

Todos meus sentidos paralisaram. Ela tinha ido muito mais além do que eu esperava. Não ele. Com ele não!

- Esquecer? - levantei-me com toda minha raiva... Furiosa. E gritei. Gritei: - Me diz que beijou minha melhor amiga e diz que não teve importância! Você mentiu para mim. - pela primeira vez eu estava sendo agressiva com ele.

A Vez do AmorHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin