VINTE

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Uma semana depois


Chovia muito nessa época, mas nem a chuva tirava os cariocas da rua. Os burburinhos do trem que passava às cinco da manhã podiam ser sentindo de longe, bem longe.

Enquanto me arrumava para sair, fiquei pensando na situação de Adam e no pedido de Sofia. Peguei a cadeira da penteadeira e subi para alcançar a caixa que havia guardado as cartas. Por mais que quisesse e que me submetesse a conversar com ele, não parecia fácil e nem possível perdoá-lo. Termino de fechar meu vestido e me olho no espelho, no exato momento em que minha mãe entra no quarto. Depois do acidente de Sofia ela tem vindo praticamente todos os dias, até dormi aqui vez outra, me ajudou e me ajuda muito.

- Filha...

- O que foi mãe?

- Tente esquecer o que Adam fez. Ele já está pagando querida. Não precisa fazer isso.

- Mãe. Eu só vou conversar com ele.

- Pense melhor. Você já superou isso. Deixe-o lá. Ele não pode te prejudicar. E depois, você e Pedro estão tão bem. Não acha melhor enterrar o passado.

- Mas Sofia sofre por ele. Ele precisa saber que tudo que ele diz a ela, a faz ficar se sentir culpada por não estar lá. Ela quer ir cuidar dele.

- Natural.

- Eu sei mãe. Porém o que ele faz não e justo comigo. Eu cuido dela com tanto amor. E cada vez que ela volta da casa dele me afronta, fica distante. Ele ta jogando minha filha contra mim.

- Filha. Sofia é uma garota que está tendo atitudes rebeldes por tudo que aconteceu. Veja bem. Ela soube que tem outro pai, sofreu um acidente terrível e seu pai, que ela tem dentro do coração como pai, está preso a uma cadeira de rodas. É lógico que ela não está em condições psicológicas e nem emocionais.

- Eu sei de tudo isso mãe. Mas Adam precisa parar.

- Não é Adam Alicia, é você. Precisa entender que não pode controlar tudo. Sofia vai agir da forma que acha que deve agir. E nesse momento ela só quer estar lá, ao lado do homem que a segurou no colo pela primeira vez, entende?

- Mãe... Não vou até lá para brigar com ele. Eu já esqueci tudo. Eu só quero conversar. Colocar pontos nos lugares certos.

- O que precisa falar que ainda não disse?

Ouvimos batidas na porta e olhamos ao mesmo tempo. Era Vanda, que vinha me avisar que o táxi havia chegado.

- Cuide de Sofia, por favor. -dei um beijo na testa de mamãe e saí.

- Isso acabou de chegar para a senhora. - Vanda me entregou o envelope e continuou a limpeza no tapete da sala.

- Quem entregou?

- Um homem de terno preto.

O envelope era grosso, não parecia ser apenas uma carta, rasguei e segui caminhando para a porta entrando no táxi. No mesmo instante levei a mão na boca. Olhei para o celular com uma vontade tremenda de discar para Adam e dizer tudo que pensava. Mas me acalmei e esperei, esperei chegar até o seu apartamento. No envelope, uma ordem de despejo, dando um prazo de trinta dias para eu deixar a casa. Meus olhos ardem de raiva, não que eu quisesse a casa que ele construiu como fez questão de me lembrar na cama do hospital. Era provável que eu esperasse algo desse tipo, vindo dele nada mais me surpreendia. Aquilo era vingança, não tinha dúvidas. Ele já sabia que eu e Pedro estávamos juntos, e que com o tempo eu iria convencer Sofia de que Pedro é seu verdadeiro pai. No entanto eu nunca tiraria dele o direito de pai. Que cruel Adam estava sendo. Coloquei o envelope na bolsa e tirei dinheiro da carteira para pagar o táxi. Já na porta de entrada do edifício de Adam, apertei o interfone e agi com naturalidade, como se tivesse apenas vindo visitá-lo cordialmente. Atendeu à senhora Vasselai que parecia ter travado uma luta contra mim.

A Vez do AmorWhere stories live. Discover now