ONZE

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Confiro meu reflexo no espelho, minhas bochechas estavam rosadas e em meus olhos havia um brilho diferente. Pensei em minha mãe, o quanto ela queria me ver assim. Uma noite de amor com ele e eu me sentia novamente uma garota de dezoito anos. De repente me veio à culpa, eu tinha traído Adam. Se é que isso era uma traição. Saio da frente do espelho e me visto, coloco um vestido azul claro e a sandália branca que Adam tinha comprado para mim. Planejava subir para Teresópolis naquela noite, após meu encontro com Mia. Aquela semana tinha passado e eu sequer tinha telefonado para ela, o que a fez deixar vários recados na minha caixa de mensagens.

Encho a chaleira com água e coloco a ferver, ligo o rádio, aquele silêncio me dava nostalgia, e a música que tocava era Caetano, "chega de saudade".

"Vai minha tristeza e diz a ela

Que sem ela não pode ser

Diz-lhe numa prece

Que ela regresse, porque eu não posso mais sofrer.

Chega de saudade a realidade...

Fiquei alguns minutos observando o silêncio da casa vazia, sentindo falta do movimento que era pela manhã, Lá estavam as lágrimas, insistentes, queria afastá-las, queria afastar as lembranças daquela noite, queria que todas as dúvidas sumissem. E fiquei ali pensando se eu queria abrir mão de tudo que tinha construído com Adam, talvez não fosse a relação mais perfeita, mas tivemos alguns dias felizes, e tinha a dor que estaria causando em Sofia. Confusa, levei a xícara de café até a pia e parei mais alguns minutos, escutando a voz de Sofia ecoar pela cozinha. Era minha memória, lembrando-me dos momentos vividos, tão felizes, e também dos dias difíceis que tínhamos enfrentado juntos. Dos dias tristes e chuvosos que eu passei sozinha enquanto ele viajava pelo mundo. Das noites em que Sofia se engasgava e eu tinha que sair correndo na madrugada com ela nos braços, quase desfalecendo, por sorte eu chegava a tempo no hospital. Aquela casa era muito grande para mim, eu sempre achei e dizia isso a Adam, e agora ali sozinha, ainda maior.

Estava cedo para sair de casa, então peguei um livro de poesia de Fernando Pessoa e voltei para varanda, respirando o ar puro que vinham das flores, apreciando a beleza que nelas tinham. As lágrimas voltaram a cair, pela certeza que tivera de que Pedro não sabia de Sofia. Relembrar de tudo que dissera na noite anterior só me dava uma certeza, de que ele não sabia. Fiquei pensando de como teria sido minha vida se tivesse casado com Pedro. Penso se hoje eu seria feliz. Suspiro pensando em tudo que havia acontecido e de como eu tinha gostado. E como seria quando Adam voltasse? Depois de ter adormecido, acordei assustada por estar ali fora, sentindo um vento quente que vinha, estava toda suada, era dezembro era um dos meses mais quente do ano, tão quente que até o vento soprava calor. Passava das quatorze horas, estava atrasada para o encontro com Mia e eu nem tinha almoçado.

Assim que sai do condomínio, paro no sinal e não é que ao olhar para o lado vejo Lucas, de novo ele. Fechei o vidro rápido, mas ele tinha me visto, foi todo gentil e me cumprimentou com um gesto de mão que sinto vergonha por ser tão antipática. Agora eu vivia o encontrando. Parecia não ter muito sentido.

Estacionei e entrei no café, Mia já está à minha espera.

- Desculpe o atraso.

- Sem problemas.

- Já pediu?

- Só um café.

- Tudo bem. Vou pedir um café também.

- O que você tem? Parece diferente.-perguntou do nada.

- Nada.

- Acho que está controlando a ansiedade... Sinto que tem algo diferente em você.

A Vez do AmorWhere stories live. Discover now