DEZENOVE

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Não parecia uma ligação comum quando acordei com o toque do telefone. Sendo que o dia ainda não tinha clareado ainda.

- Alô... Alô. – um chiado do outro lado da linha me fez tirar o telefone da orelha, mas de repente pude ouvir a voz abafada:

- Alicia. - a voz estava longe, mas logo reconheço.

- Oi mãe. - digo abrindo a boca até a altura dos olhos, assustada.

- Querida. - um silêncio repentino pairou no ar. Eu fiquei esperando minha mãe falar, mas ela continuou muda.

- Mãe... Mãe. Está tudo bem?

- Está! - ela afirma e faz uma breve pausa. - Não... Não minha querida, não está nada bem. - eu pude sentir a dor na voz de mamãe. - Foi Sofia!

- Sofia? - meu coração parou naquele instante. - O que é que tem a Sofia mãe?

- A rodovia estava fechada... e tinha muita neblina, por que chovia na serra. O carro se perdeu...

- Mãe... - interrompo-a, minha voz se despedaçava e as lágrimas começaram a cair. Era como um prefácio. - Onde ela está?

- Ela... Ela está no hospital de Campinas. - o som da voz de mamãe sumia. - Romeu vai nos levar querida. - tentou ser firme. – Estou na Barra, passo em sua casa daqui a vinte minutos.

Fiquei calada, estática.

Quando desliguei o telefone permaneci alguns minutos fora de mim, totalmente imersa em outro universo. Em minha mente o tempo voltou quando ela ainda era uma menina assustada, lagrimas aqueceram minha face. E meu coração não batia e sim saltava. Treinei a respiração e voltei a respirar de leve. Puxando o ar do pulmão, se é que ele existia e então voltei ao hoje, pulei da cama e me vesti em segundos. Peguei minha bolsa e desci as escadas como quem participava de uma olimpíada. Abri e fechei a porta, esperei mamãe na calçada, andando de um lado para o outro, agitada. Foi naquela espera que senti meu mundo desabar novamente. Aquela sensação do vazio que senti a vida inteira estava de vota. Pensei em papai, e, Lucas, no acidente na serra. Era um desses dias chuvosos, faltou freio e o carro caiu na ribanceira. E agora eu sentia uma dor maior do que daquele dia. Meu rosto ardia com as lágrimas que de meus olhos caiam. Até que avistei o carro dela dobrando a esquina, soltei todo ar que guardei no e abri a porta do carro, sentei largando todo peso do meu corpo de uma só vez. Não olhei e nem falei com ninguém. Eu preferia não saber como tudo havia acontecido, quis me resguardar. Seguimos silenciosos, talvez não só eu, mas Romeu e minha mãe também não quisessem falar, por que falar poderia causar ainda mais danos. E foi assim que a viagem até campinas seguiu, sem vozes, sem risos, sem ar.

Era um pesadelo e eu esperava acordar a qualquer momento. Só que o despertar não veio. Então eu entendi que realmente estava vivendo aquilo.
Passavam das onze da manhã quando finalmente chegamos ao hospital, com um imenso jardim enfeitado de flores, os carros estacionados de qualquer jeito dava a sensação de desespero.

Desço do carro e caminho com paços largos, tropeçando em minhas próprias pernas, praticamente atropelo as cadeiras antes de alcançar o balcão.

- Onde está minha filha? - pergunto a recepcionista que me olha sem entender meus gritos.

- A senhora poderia, por gentileza, não gritar. Isso aqui é um hospital senhora. - disse ela, rude.

- Querida se acalme. - minha mãe diz ao se aproximar de mim, segurando-me pelo braço, acolhendo-me. - Por favor, somos a família de Sofia Vasselai, queremos notícias da minha neta.

A Vez do AmorWhere stories live. Discover now