DEZOITO

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Quando abro o portão de casa vejo que tem um carro estacionado na garagem onde antes o carro de Adam ficava. Um carro cinza, e é nesse momento que me dou conta de que esqueci a chave. Dou a volta pelo jardim e tento a porta de vidro, mas estava trancada. Escuto vozes vindas da cozinha, vozes altas. Volto à porta da frente e bingo, ela estava aberta. Mas recuo um instante, imaginando quem pudesse ser. Pedro me olha atento do carro.

- Sofia... – chamo-a.

As vozes se calaram e senti um medo ao pensar que poderia ser algum bandido que tivesse invadido minha casa.

Foi ai que vi Adam vindo tranquilo em direção a sala de estar, vestido casualmente como se estivesse em uma festa ao ar livre, há tempos eu não o via sem terno. Apoio minha mão sobre o sofá respirando aliviada, constrangida por ele estar me vendo assim, como se minha cara dissesse o que eu tinha feito na noite anterior.

- O que está fazendo aqui? – questiono-o.

- Sofia está lá em cima, precisava de roupas limpas.

Franzo a sobrancelha, nem para lavar as roupas ele era capaz.

De repente desponta atrás dele a loira, fiz um esforço para lembrar o nome dela. Avermelhei na hora, senti meu sangue pulsar em cada veia do meu corpo. Como ela podia se tão sínico? A aparência dela era de uma mulher incrivelmente bem sucedida. Naquele momento ficou claro dentro de mim de que Adam tinha assumido de vez aquela mulher como sua. Para quebrar o gelo ela é simpática, quando diz, "Oi Alicia" com uma voz doce.

- Ei, está chegando agora? - indagou Adam

Hesitei um pouco, não lhe devia nenhuma satisfação, mas respondi.

- Estava caminhando na praia. - minto na cara dura.

- Eu também adoro uma caminhada vespertina aos domingos. - a metida da loira troca uma conversa comigo, como se aquilo fosse à coisa mais normal.

Adam olhou para trás então vi que era Sofia quem vinha descendo as escadas, com uma mala vermelha, que não era dela.

- Oi filha.

- Oi. - respondeu com a voz seca, sem me olhar dentro dos meus olhos.

- Está indo viajar? - Perguntei intrigada.

- Vamos para São Paulo, e depois vamos passar uma semana em Campos do Jordão. - responde Adam tão indiferente a mim, era como se eu não tivesse sido nada na vida dele.

- Achei que ficariam em Angra?

- Decidi subir para Campos.

- Hum.

Sofia não se despediu. Não gostei nada da ideia de ver minha filha saindo com uma mala. No fundo eu sabia que estava a perdendo para ele. Perguntei-me se Sofia já estava gostando da nova mulher que Adam tinha arrumado, e se ela não iria preferir a tal loira a eu como mãe. E pensar nisso me afundava o coração. A loira parecia divertida e eu sabia que eu não era divertida.

A ida deles me fez largar o peso no sofá e sufocar um grito na almofada. Cheguei a esquecer de Pedro. Tremi quando abri a porta e dei de cara com ele, na casa que também era de Adam, mas então lembrei que talvez não fosse nada tão ruim assim, afinal ele tinha entrado com a sua nova mulher e eu podia fazer o mesmo.

- Não vai me convidar para entrar?

- Ah, desculpa. Esqueci você. Entra.

Ele estava bem deslocado.

- Pode sentar. Só vou pegar umas roupas.

Subo e fico andando em círculos.

- E se ficarmos aqui? – volto para a sala e dou a ele essa opção, descabida.

A Vez do AmorWhere stories live. Discover now