Capítulo 24

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                                                                  Sam


Para meu azar – se eu ligasse muito pra essa coisa de signo, diria que estou passando pelo inferno astral – tio Martin e tia Claire não estão em casa quando chego. Sua secretária eletrônica me deixa saber que eles estão fora e retornarão no finalzinho de sábado. Sábado. Já deveríamos estar aqui, provavelmente nos preparando para aproveitar a praia, o Sol e o mar em todo seu esplendor e solidão. Não!

Com os olhos inchados, me surpreendo por não estar sendo notícia agora mesmo em praticamente todos os noticiários, de tanto que chorei enquanto dirigia. Até posso imaginar a matéria: " Lágrimas Fatais" "Garota é traída e chora tanto que causa sua própria morte". Deixando de lado minhas babaquices olho com pesar para a casa há seis metros e meios de distâncias da casa dos meus tios. A casa do meu pai parece tão sombria por fora como é ao se entrar lá e compará-la com a charmosa, calorosa e acolhedora em minha frente, onde vivi maior parte de minha vida. Entre a luz e a escuridão.

Talvez eu aproveite minha dor infernal e escreva um livro. Dor e Lágrimas. Rio. Quanta babaquice, Senhor.

Ninguém pode dizer que eu não tentei.

- Pequena, Sam – Guadalupe diz animadamente assim que entro em casa. Para minha surpresa a porta não estava trancada.

- Ei, Lupe – retribuo, não com tanta empolgação, mas abraço-a. A pequena mulher latina é a única que ainda me chama sempre, sem qualquer exceção pelo meu apelido de infância. Tudo graças a Molly, já que eu sempre era a menor entre todos.

- A senhora Claire disse que você e outros só estariam aqui amanhã a noite ou no sábado cedinho – diz, curiosa pela minha chegada repentina.

- Mudanças de plano, Lupe. Não está feliz em me ver? – brinco.

- Claro que estou, pequena Sam. Venha, vou lhe preparar um lanchinho. Está muito magra. Aposto que não jantou – diz, olhando-me dos pés a cabeça ao segurar minhas mãos.

- ... Eu disse hoje... Hoje – esbraveja papai, saindo de seu escritório com seu celular no ouvido. Lupe e eu olhamos ambas em sua direção.

- Trago em instantes, pequena Sam - diz Lupe, doida para fugir da ira do meu pai. 

Com sua saída, aproveito para  dar uma boa avaliada nele. Cara, faz um bom tempo que não o vejo. Nunca nós falamos. Sempre obtenho notícias ao seu respeito através das várias chamadas que meus tios fazem, a não ser é claro, pela sua mensagem padrão a cada mês avisando sobre o depósito da mesada. Aqui e agora diante de seu olhar frio e curioso pela minha presença me culpo por não ter procurado outro emprego assim que a minha substituição a uma das garotas da cafeteria do campus chegou ao fim. Ele deve pensar que sou mais uma aproveitadora como ela.

Seus cabelos negros impecavelmente arrumados estão do mesmo modo. Penteados para trás e no lugar com gel. Cada fio sob sua cabeça. Os olhos azuis escuros e frios enormes sob seu rosto duro. O queixo quadrado só lhe adiciona mais superioridade. Ele e tio Martin são como irmãos gêmeos. Quando mais jovem, se olhassem rapidamente ninguém poderia diferenciá-los, mas depois dela tudo mudou. Depois de mim tudo mudou. 

Em seu corpo em forma, pela boa alimentação e caminhada – coisa que difere do irmão, pela barriga saliente – está ainda em seu terno, agora amassado. Deve ter passado o dia inteiro enfiado no escritório com a cara no trabalho. Eu não o lembro de outra maneira. Com exceção das fotos. Das quais costumava passar noites em claro imaginando-o ainda daquele jeito, e comigo.

- Isso soa melhor – encerra, nunca desviando o olhar da minha direção.

- Oi, pai – murmuro, cabisbaixa.

Mais Que Amigos {Finalizada}🚫16 On viuen les histories. Descobreix ara