Capítulo 26

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                                                             Sam

Sinto-me total, completa e literalmente parte do cenário. Desde as pequenas ondas que se jogam contra o rochedo, tentando alcançá-lo - como eu sobre meu pai - e ultrapassá-lo, desde a brisa que tenta ultrapassar a muralha de pedras e vidros atrás de mim, no entanto só consegue mover um pequeno velho tapete que em algum momento em sua jornada já teve um vívido vermelho em sua coloração agora gasta, como si. Eu sempre me senti bem aqui. O silêncio, a calma, a paz. A ideia de que a velha casa abandonada atrás de mim e eu somos iguais. Solitárias e sonhadoras. Molly nunca gostou muito daqui, de certo modo, é trágico, mas belo também - ao menos foi o que sempre pensei.

Nunca cheguei a conhecer os verdadeiros donos. O senhor e senhora Parrish. Embora, eu sempre tenha gostado de ouvir sua história. Eles costumavam ser o casal mais amoroso e gentil que boa parte das redondezas havia conhecido em toda sua vida - tio Martin e tia Claire ocupam esse posto agora - tinham três filhos e costumavam ser muito felizes. Até seu Parrish morrer, e os filhos levarem a mãe para um asilo. A pobre mulher lutou tanto, até que conseguiu voltar para casa. Morreu seis meses após o marido, mas só foi encontrada três dias depois, por um grupo de surfista que sempre pediam sua permissão para surfar nessa área quando as ondas estavam boas. Os filhos nunca chegaram a uma conclusão sobre a bela casa, não porque um queria vendê-la e o outro não. Toda a questão está ligada a dinheiro. Até mesmo as coisas mais belas da vida possuem um valor. E, o que eles querem é muito além do que realmente vale. Pura ambição. É uma pena eu não ter nenhum centavo.

Dinheiro me faz lembrar mais uma vez em meu pai, e o porquê de eu estar aqui. Sempre achei que não tinha raiva ou mágoas dele o suficiente para odiá-lo em algum momento da minha vida, porém estava redondamente enganada. Hoje mais cedo foi a prova absoluta disso. Podia sentir cada osso, músculo e tendão em meu corpo querer gritar com ele, mas ao mesmo tempo me jogar em seus braços e chorar até não sair mais nenhuma lágrima. Nunca entendi a vontade de ser consolada por quem nos causou dor ou confiar em que mentiu e nos traiu. Papai e Tyler piscam em minha mente. Sinto-me tão sozinha, e nem mesmo pensar em meus primos, tios e Lupe me acalmam. Só me faz sentir pior. Sinto-me uma ingrata com eles, mas é algo que não posso impedir de sentir ás vezes, como hoje. Eu não me sinto assim com Tyler, lembro dolorosamente.

Penso tanto nele que até posso sentir seu cheiro misturado à brisa e sua voz.

- Oi - murmura Tyler, ao meu lado, então me dou conta que não estou imaginando ou tendo alucinações. Ele realmente está aqui.

Sabe toda aquela parte sobre chorar até não possuir nenhuma lágrima nos braços de quem te fez sofrer? É exatamente isso que faço. Algumas mechas louras movem-se suavemente escapulindo de seu coque frouxo. Os olhos vermelhos e inchados, de quem estiveram chorando ou não dormiu nada durante boas horas. Fico com a última opção, levando em conta que está aqui e agora comigo. Tyler me agarra no exato momento em que salto em sua direção. Cambaleamos um pouco, mas ele não me deixa cair. Maior parte das vezes ele nunca me deixa cair, por quê não pode ser sempre assim? E, derramo sobre seu pescoço todas as lágrimas, que rolam gordas e quentes pelo meu rosto. Mais uma vez parecendo e me comportando como uma criancinha.

- Eu estou aqui agora, Sam - diz baixinho e gentil. As lágrimas parecem se multiplicar em meus olhos.

- Você demorou - sussurro. Uma mistura de repreensão e medo, admitindo como senti sua falta, apesar de tudo.

Posso sentir seu sorriso bobo em seus lábios. Preparo-me para um de seus comentários maliciosos ou zombeteiros, mas nunca vêm. A única coisa que ele faz é ainda comigo em seu colo nós levar até um dos degraus da escada onde eu estava sentada a pouco e, se sentar comigo em seu colo. Embalando-me e confortando.

Mais Que Amigos {Finalizada}🚫16 Onde histórias criam vida. Descubra agora