Capítulo 31

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                                                                Sam

Lembro-me de uma vez em que Molly prometeu-me que um dia meus pais me amariam tanto quanto os seus a amava junto ao Jake. Tínhamos entre onze e doze anos. No mesmo dia, minutos depois, ouvi tia Claire sussurrando para Molly no corredor que ela não deveria fazer promessas das quais nunca poderá cumprir. Chorei mais do que já havia chorado depois de papai me dar uma baita reprimenda por estar brincando com meu equipamento de karaokê que havia ganhado de presente de Natal do tio Martin, foi bem doloroso para eu ouvir de sua boca que eu só servia para atrapalhar. Que pai trabalha no dia de Natal enquanto pode passar o dia inteiro com sua única filha?

Mas essa não é a questão. Daquele dia em diante aprendi que nunca deveria fazer promessas das quais não posso cumprir. Que nunca deveria enganar e mentir alguém, porque isso dói, machuca e corrói. E cá estou eu, ao invés de correr para direção contrária, correndo diretamente para o poço infinito de mentiras e promessas quebradas.

No entanto, há uma promessa que não quebrarei, por enquanto, essa noite. Minha. Nossa última noite. Ainda com as lágrimas escorrendo obedientemente, desembarcando dos meus olhos, cortando as bochechas e trilhando pelo meu pescoço e sumindo pelo vão entre meus seios sigo para o banheiro. Demoro mais do que esperava, e dessa vez não é pela leveza que a água traz ao meu corpo e minha alma, mas sim pelos soluços que tomam meu corpo, me impedindo de levantar da posição fetal que me pus em algum momento entre minha chegada e a nova onda de medo que achei ter dissipado com minha decisão de seguir em frente.

- Porquê? – balbucio em meio aos soluços – Porquê?

                                                             .....

- Me desculpem - pede a recepcionista, depois de derrubar toda a papelada em cima do balcão. Ela provavelmente é nova aqui.

- Sem problemas - digo me levantando para ajudá-la a recolher.

- O-Obrigada!

Sorrio.

- Vera - murmura entre dentes a assistente do Dr. Kardos, olhando torto para a mulher coreana a minha frente. A pobre mulher une de forma nada organizada toda a papelada e lhe passa alguns, terminado de anotar algo neles.

- Desculpa.

- Samantha Leighton – anuncia entediada a assistente do Dr. Kardos, ajeitando de qualquer forma o que acredito serem exames em suas mãos - Me acompanhe, por favor.

Aproveito a deixa para volta a me sentar.

A garota ao meu lado não deve ter mais que dezessete anos. Seu pequeno e frágil corpo me faz lembrar-se de mim mesma a um tempo atrás. Nessa mesma situação. Sua mãe é a primeira a levantar-se das cadeiras acolchoadas preta, carinhosamente acaricia os cabelos castanhos lisos e longos da filha, arrumando os fios bagunçados inexistentes. O homem, a quem atribuo ser o pai, olha relutante para o corredor ao lado que levará a sala do oncologista. 

É como o corredor da morte. Eu o entendo muito bem. Os três, com a garota no meio, dão as mãos e a passos nada confiantes seguem a morena. Antes de desaparecem do meu campo de visão, a garota olha em minha direção. Seu olhar é tão desesperador que daria qualquer coisa para poder tirá-la dessa situação, mas como não posso, apenas lhe deixo um pequeno sorriso, que ela retribui, embora não faça nada com seus olhos marrons, que continuam tão mortos quanto à de um peixe.

- Eles estão demorando – diz Vera para mim.

Assinto.

Estão demorando demais. O tique taque do relógio pendurado em minha frente é gritante. Deveria ter aceitado que Molly ou Jake viessem comigo. Mesmo com o ar condicionado congelando todo o espaço minhas mãos suam e sinto uma única gota de suor descer pela minha coluna. Tiro meu casaco.

Mais Que Amigos {Finalizada}🚫16 Where stories live. Discover now