Prólogo

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–Pedrinho! Espera filho! Não vá se machucar, esse não é um bom lugar para... – gritava minha mãe atrás de mim até ser interrompida pela cena da minha queda.

–Pedro! Eu não te avisei garoto!? Você tá machucado? – dizia ela se abaixando para ficar a minha altura. De perto eu podia ver seus lindos olhos castanhos claros, seus cabelos pretos e curtos à altura do ombro. Ela era uma mulher magnífica e quando ficava preocupada essa beleza só aumentava, e às vezes eu aproveitava momentos como esse para apenas admirá-la. – Vou pegar um gelo, fica aqui por favor! – disse ela já se dirigindo para dentro de casa.

Nós amávamos brincar juntos, vivíamos numa casa grande com um quintal enorme, então eu sempre estava fazendo algo. Correndo, pulando, caindo... E ela como sempre, estava ali. Às vezes se juntava a mim, outras vezes apenas me assistia enquanto corria pelo jardim. Nunca entendi o porquê daquela atitude, e sempre que perguntava ela dava um sorriso bobo e tudo que respondia era "belas obras de arte são feitas para serem admiradas meu docinho". Talvez por ser muito novo não entendia, mas hoje entendo. E percebo que assim como eu via nela, minha mãe via beleza em mim. Não apenas por ser minha mãe, não. Eu sentia algo diferente em seu olhar, não sei explicar.

–Aqui está! – chegava ela com o gelo, pondo em meu joelho ferido.

–Obrigado mãe! – sorria sem graça, ela vivia me avisando para ter cuidado, mas tudo que eu fazia era contrário a essa palavra.

–Agora trate de ir tomar um banho. Está quase na hora de ir para a cama.

–Tudo bem! – levantei um pouco dolorido e a beijei no rosto, depois subi as escadas e fui tomar banho.

Enquanto tomava banho ouvi o som do portão da garagem abrindo. Meu pai havia chegado. Sei que parece duro dizer, mas eu e ele nunca fomos tão próximos como eu e minha mãe éramos. Meu pai era um homem trabalhador, um grande empresário na verdade. Logo, vivia fora de casa, ou na empresa, ou viajando. Quase não o via. E parecia que nenhum dos dois se importava em fazer algo a respeito, então eu não ligava, assim como ele. Éramos dois estranhos sob o mesmo teto.

Desliguei o chuveiro, peguei minha toalha e fui para o quarto. Depois de me vestir desci. Lá estavam meus pais na cozinha, como sempre discutindo. Eu já estava acostumado, afinal, mesmo uma criança eu entendia que a relação deles não era lá essas coisas, e meu pai apenas dava mais e mais motivos para brigas como essa. Mas dessa vez parecia mais sério. Eles não notaram minha presença, mas eu os via pelo canto da parede. Eu via minha mãe chorar, e instantaneamente comecei a chorar também. Meu pai rondava a mesa da cozinha, impaciente.

–Eu já fiz minha decisão Helena! - gritava aquele homem que no momento nem eu reconhecia.

–Por que..? Pense no seu filho... - a essa altura minha mãe soluçava. E eu? Não estava entendendo nada.

–Filho? Que filho? Ah, pelo amor Helena, sejamos sinceros, você sabe que não existe relação nenhuma entre nós. Na verdade, nem conheço o garoto direito. Mas não se preocupe, continuarei mandando dinheiro se é isso que lhe preocupa. O garoto terá um bom estudo. – falava meu pai da forma mais natural possível. Hoje vejo que foi naquele momento que eu percebi que realmente, eu não tinha um pai. Qualquer que fosse a relação existente entre nós, não era isso.

–MERDA CARLOS! – minha mãe ia agora pra cima dele, em meio às lágrimas, que já não sabia mais se eram de tristeza ou raiva – Eu não quero seu dinheiro, por mim que ele queime inteiro! Tudo que eu queria era o seu amor. Amor a mim, amor ao seu filho... Nosso filho. – ela falava a última frase com a voz falha. Ela estava em dor.

-Desculpe Helena, eu preciso pensar no meu futuro, na minha carreira, e na mulher que eu realmente amo. Apenas... Pegue suas coisas por favor e vá, antes que eu os mande a força!

Perfeitamente QuebradosWhere stories live. Discover now