3.

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  - Ok... você terá detenção com o padre Mendes. Ainda estou tentando entender isso. - Luanne demonstrava confusão enquanto voltávamos para o dormitório.

- Você deu sorte. Duvido que ele faça com você o que maioria faz com os alunos na detenção. - Joanna comentou.

- Vocês nunca falaram especificamente o que acontece nessas detenções.

- Depende de quem te castiga. Anna Jott por exemplo, teve detenção com a freira Amelia e foi afogada em água gelada. Ela pirou depois disso.

- Afogada como? Me conta isso melhor.

- Pelo o que soubemos foi como aquela tortura de colocar a cabeça da pessoa na água até ela quase ficar desacordada e depois tirar e repetir diversas vezes. Foi isso só que em uma água cheia de gelo e você sabe como o clima frio já não ajuda. Dois dias depois da detenção ela ainda falava, pouco, mas falava. Só que Anna começou a parecer doente demais e muito pálida. As amigas diziam que ela não comia mais e ao invés de dormir ficava no canto do quarto sussurrando coisas que ninguém entendia. Padre Lyros mandou que o exorcista resolvesse isso. Ela morreu na terceira sessão de exorcismo.

- Quando isso aconteceu?

- Vai fazer dois anos, eu acho.

- Essa garota precisava de um hospital, não de um exorcista. As pessoas desse instituto tem a mente tão pequena assim?

- Eles se baseiam em coisas de séculos atrás, é como se caçassem bruxas em pleno século XX. A detenção de Abel também não foi das melhores. Sabe aquelas torturas de esticar as pessoas até os seus músculos e órgãos se romperem? Essa foi a detenção dele, mas pararam quando os seus braços quebraram. No dia seguinte ele contava aquilo rindo. Foi estranho.

Fiquei em silêncio. Meus pais me mandaram para um lugar onde tinham torturas medievais, então não era como se nunca ficasse sabendo de coisas pesadas desse tipo. 

Algumas garotas passavam por mim cochichando, talvez sobre a minha detenção. Aquilo parecia loucura. Essas pessoas estudam em um lugar que tortura e mata menores de idade e tudo o que elas se importavam era sobre o padre gostoso que dá aula de literatura.

- Eu sei que você está pensando - Luane falou me olhando e logo entendi que estava fazendo careta de acordo com os meus pensamentos. - É algo que me deixa indignada também e um dos motivos que não falo com muitas pessoas aqui. É mais fácil fingir que algo não existe do que lidar com o problema de verdade.

- Mas problemas existem para resolvermos! - Comecei indignada. - Sei que é um lugar péssimo e que todos querem sair o mais rápido possível. Não estou aqui há 1 semana e já quero me livrar, mas como essas pessoas podem ficar tranquilas sabendo que alguém pode ser torturado por coisas idiotas? Luane isso não tem lógica! - Joanna andava na nossa frente e abriu a porta do dormitório deixando aberta para entrarmos.

- É só covardia Lizzie, você vê isso em todos os cantos.

- Covardia só quando enfrentam  problemas realmente sérios, mas covardia não vejo nenhuma atitude covarde quando estão babando no padre durante a aula - eu não poderia estar mais revoltada.

Pior do que pessoas que não fingem ver os problemas são as que veem e agem como se não fosse importante.

Ver a minha irmã abaixando a cabeça para coisas menos sérias do que torturas já era uma das coisas que mais me revoltavam e então fico trancafiada com esse tipo de gente. Queria planejar uma fuga ou explodir a porra daquele castelo. 

Andei até a janela e observei que já estava tudo ficando escuro, o que iluminava aquele jardim morto eram as luzes que saiam das janelas das torres e do castelo.

IMPURE • Shawn Mendes [em revisão]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora