19.

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  Não fui jantar. Eu estava sentada na janela do quarto olhando para a neve caindo no pátio, e o mais estranho: a água do lago ainda não tinha congelado.

Minha mente estava entorpecida desde que saí da consulta com Sjunde. Por que eu deveria falar com Shawn sobre algo que nunca aconteceu?

Eu estava mordendo a parte interna da minha boca desde cedo pensando nisso e meu paladar já tinha se acostumado com o gosto de sangue de alguns pequenos cortes.

Talvez ela só queira me confundir. Vai saber, aquela mulher é louca.

Vi algumas pessoas irem para o refeitório atrasadas. Suspirei. Não adiantaria em nada ficar horas repetindo perguntas sem sentido na minha mente.

Olhei para o papel na minha mão. Quando cheguei no quarto depois das aulas, tentei estudar para ver se me distraia, mas em todos os livros tinha algum papel escrito "hoc veritas non est. Hoc est somnium". Eu sabia o que a frase queria dizer, mas não entendi o motivo de alguém colocar isso em todos os meus livros. Eu já entendi a frase, só não entendi o motivo disso ser importante.

Estreitei os olhos. O que poderia não ser real?

Já tive vários sonhos que parecessem reais, mas nada do que tem acontecido ultimamente parecia um desses sonhos. Na verdade, a crueldade dos acontecimentos era real até demais.

Queria não pensar tanto nisso e ignorar essa sensação de que eu deveria saber de algo.

Saí da janela decidida que não poderia ficar parada mais. Peguei dois casacos e uma capa para proteger a roupa da neve e fui para a biblioteca. Como eu esperava, a biblioteca estava vazia. A sra. Spout estava andando pela biblioteca com uma caneca na mão e colocando os livros nas prateleiras bem calmamente.

Me aproximei e ela me viu.

- Boa noite, srta. Way. Posso te ajudar em algo? - Concordei.

- Aqui tem algum livro sobre sonhos ou qualquer coisa que possa não ser real? - Ela ficou parada me observando calmamente por alguns segundos.

- É sobre algum sonho específico?

- Não, eu... não sonho faz muito tempo.

- Mesmo? Desde quando não sonha? Isso é comum? - Franzi as sobrancelhas.

- Na verdade, não. Eu sonhava sempre antes de chegar aqui.

- Um livro sobre a falta de sonhos então. - Ao invés de ir para as prateleiras ela foi para o balcão onde sempre sentava. - Tenho algum livro sobre, mas esses não são da biblioteca. São meus.

Fui até a frente do balcão e ela abaixou para pegar algumas coisas na parte de baixo.

- Vou te emprestar alguns sobre teorias primeiro, pode ajudar em algo. Estou confiando que me devolverá. Pode levar esses dois primeiros. - Colocou dois livros de capa preta na minha frente. - Eles não são comercializados, então são muito valiosos, se lembre disso. Quando acha que terá lido?

- No máximo até semana que vem. - Concordou.

- Esses são como uma introdução sobre teorias segundo a psicologia sobre até onde a sua mente pode ir, depois te darei livros que seguem uma crença, mas não é sobre uma religião específica, sei que não gosta de religiões sendo forçadas a você. - Sorriu simpática. - Se precisar tirar dúvidas é só aparecer aqui.

Sorri para ela também.

- Obrigada, sra. Spout.

Eu estava voltando para a torre abraçada com os livros, mas olhei para o lago que parecia soltar vapor. Ele não poderia estar quente, poderia?

IMPURE • Shawn Mendes [em revisão]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora