22.

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  Não sei como consegui ficar ali até aquilo acabar. Depois que vi a primeira pessoa mordendo o corpo da garota, arrancando um pedaço e comendo com uma imensa satisfação, eu parei de espiar entre as cortinas.

Me forcei a não pensar em nada. Comei a fazer isso quando era criança e sabia que não conseguiria suportar algumas coisas que o meu pai fazia sem perder a minha sanidade.

Eu ainda escutava os barulhos, mas evitava pensar no que estavam fazendo.

Não sei quanto tempo fiquei lá. Talvez foram horas.

Os sons iam diminuindo gradativamente. Escutei Sjunde falando algo como uma despedida e a porta sendo aberta. Esperei alguns minutos antes de espiar novamente pela cortina. Minhas mãos tremiam.

Vi Sjunde caminhar em direção à porta com uma chave nas mãos. O salão estava com marcas de sangue e no relógio grego havia apenas os ossos com restos de sangue da menina que foi colocada ali.

Sjunde saiu pela porta e a escutei ser trancada.

Engoli a seco e olhei em volta. Tinham algumas portas que poderiam estar abertas.

Respirei fundo e tentei não ter uma crise de pânico enquanto ainda estava trancada ali.

Saí de trás das cortinas sentindo as minhas pernas fracas.

Agora não é hora de surtar, Elizabeth.

Todas as portas estavam trancadas e o cheiro de sangue parecia ficar mais forte a cada segundo que eu estava ali. Passei a mão no meu rosto quando notei que estava chorando.

Sem pânico. Sem pânico. Sem pânico. Sem. Pânico.

Voltei para a janela onde eu estava me escondendo. Tranca, mas com a tranca para parte de dentro. Destranquei-a e olhei para a queda que teria. Era realmente alto. Pelo menos tinha neve no chão. Olhei para a cortina e segurei, dando um puxão para ver se estavam bem presas.

Eu não tinha muita opção naquele momento, não é?

Fiz a única coisa que poderia fazer no momento: coloquei um lado das cortinas para fora e sentei-me com as pernas para fora. Eu me sentia como um vibrador, de tanto que tremia. A cortina não ia tão longe, mas era melhor do que nada.

Tentei me enrolar o suficiente para não cair dali. Minha mão suava frio e eu não tinha força o suficiente para suportar meu próprio peso, mesmo assim comecei a descer.

Escutei a porta sento destrancada e aquilo foi o susto que eu precisava tomar para os meus músculos não me aguentarem mais. Eu caí na neve, de costas. Foi um som mais alto do que deveria e a neve amorteceu menos do que achei.

Olhei para cima. Sjunde estava na janela olhando para mim. Eu estava paralisada. Minha respiração estava presa e eu me sentia como se fosse morrer. Infelizmente, eu conhecia bem aquela sensação.

Naquele momento, eu esperava qualquer coisa, menos que ela sorrisse e desse as costas.

Talvez ela estivesse vindo aqui embaixo fazer algo comigo. Ou no dormitório de Shawn.

Merda.

Era de se esperar que eu estivesse com alguma sequela da queda. Talvez tivesse sangue meu na neve, mas o pânico adormecia os meus sentidos, então levantei e saí correndo como uma maníaca até o dormitório de Shawn.

Quando eu cheguei lá, comecei a bater na porta como se a minha vida dependesse disso e talvez estivesse fazendo barulho demais. Bom, talvez a minha vida e a de Shawn dependesse disso. Ou eu só estava facilitando o trabalho de Sjunde e ela mataria ele na minha frente.

IMPURE • Shawn Mendes [em revisão]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora